Hit the Spot deu o que falar quando o seu primeiro trailer foi divulgado em dezembro do ano passado. Nele, é possível ver cenas de sexo e um enredo um tanto quanto diferente – e picante – do que estamos acostumados encontrar nos k-dramas. 

Com apenas 8 episódios, em torno de 30 minutos cada, o web drama produzido pela Coupang Play conta a história de Hee Jae (Hani), uma mulher que está em um relacionamento amoroso há cinco anos e nunca teve um orgasmo. Em contrapartida, sua melhor amiga Mi Na (Bae Woo Hee) desvenda os prazeres sexuais em encontros casuais pautados nem um pouco em relacionamentos tradicionais. As duas trabalham juntas em uma editora focada em livros e conteúdos alternativos sobre romance e sexo. 

Tudo muda quando ambas são intimadas a apresentarem o podcast “Fanta G Spot”, um programa voltado para o público feminino e que fala sobre relacionamento e vida sexual. Bom, é a partir daí que toda história ganha sentido. 

Já no primeiro episódio, Hit The Spot surpreende ao mostrar uma cena explícita de sexo entre um casal. Logo, vale destacar que este não é um drama para menores de 18 anos. 

Enquanto a cena é mostrada, a mulher conta que está cansada do sexo que faz com o seu namorado, já que segue uma rotina e que nunca foi capaz de ter um orgasmo. Essa história em questão é o pontapé inicial para Hee Jae perceber que pode haver algo de estranho com o seu relacionamento, afinal, ela também nunca conseguiu chegar ao clímax com o seu parceiro. 

Contudo, o drama não fica só nesse enredo e busca ir um pouco além. Cada episódio narra a experiência vivida pelas ouvintes do “Fanta G Spot” e explora com responsabilidade a sexualidade feminina. Assuntos como menstruação, orgasmo e masturbação são pautas que dialogam com a vivência das personagens. Além disso, o drama possui uma boa direção e um roteiro fluido. Em vários momentos você se questiona e percebe que o patriarcado, ainda muito enraizado na sociedade, faz com que algumas mulheres se sintam culpadas e retraídas em explorar o próprio desejo sexual. 

O drama vai na contramão de tudo que já foi produzido, principalmente, por ter duas mulheres como protagonistas e, além disso,  duas atrizes que já foram idols. Para o país isso significa muito, já que essa figura de “artista perfeito” ainda permeia a indústria. 

Hit the Spot cria um diálogo interessante com o público por entregar uma história com começo, meio e fim, mas também educar e conscientizar muitas pessoas que se sentem envergonhadas de saber mais sobre o assunto. Quem fica encarregada de criar esse diálogo é Mi Na, por ser uma mulher adulta e independente, ela explora com prazer e bastante consciência o seu desejo sexual. 

Inclusive, a personagem que vai incentivar Hee Jae a experimentar novos modos de sentir prazer e, também quando for necessário, vai ser a primeira a dar a mão para a amiga e levá-la ao médico. 

Por isso, concluo que sim, a Coreia do Sul está pronta para falar sobre sexualidade feminina. Contudo, falta explorar relacionamentos e desejos para além da heteronormatividade. Acredito que pelo fato de ser um web drama, com pouquíssimos episódios, não houve espaço para desenvolver outros tipos de relacionamento – apesar de acreditar que uma das personagens poderia ser bissexual, lésbica ou pan. 

No entanto, estamos no aguardo de uma segunda temporada Hit The Spot para que outros temas possam ser apresentados com a mesma responsabilidade. Ah! E já passou da hora de as pessoas entenderem que mulheres possuem desejo sexual e estão dispostas a explorá-los cada vez mais sem serem julgadas por terceiros.