8/10

Twinkling Watermelon

Título original: 반짝이는 워터멜론

Ano de lançamento: 2023

Direção: Son Jeong Hyeon e Yoo Beom Sang

Roteirista(s): Jin Soo Wan

Elenco: Ryeoun, Choi Hyun Wook, Seol In Ah e Shin Eun Soo

Episódio(s): 16

Coming out age é um gênero que tem conquistado o audiovisual nos últimos anos, mas poucos conseguem ter a genialidade de “Twinkling Watermelon”, que usa como tema principal a paternidade para levar o espectador a uma jornada de amadurecimento e cura de Han Eun Gyeol (Ryeon).

Filho de pais surdos, ele carrega um fardo colocado tanto pelos próprios pais como por ele mesmo para ser o responsável pela família. Como o próprio pai, Han Yi Chan (Won Young Choi), fala em um dos primeiros episódios, ele é “a voz que conecta a família ao mundo”, por mais doloroso que isso tenha sido para ele ao longo de 18 anos, ao ponto de abdicar de seus próprios sonhos: a música.

Ryeon consegue entregar com o olhar todo o peso que o personagem sente, tanto neste começo quanto ao longo do desenrolar da trama, mas que não esconde toda a admiração e ternura que sente pelos seus pais. Jeong Hyun Jun, que interpreta sua versão mais jovem, também dá um show.

Quando sua paixão e seu dever se chocam, surge uma oportunidade misteriosamente inesperada de viajar no tempo, claro que sem o consentimento total do protagonista. Assim, ele embarca em uma aventura aconchegante para ajudar a versão mais jovem de seu pai (agora Choi Hyun Wook), que tem o sonho de ter uma banda de rock para conquistar Choi Se Kyung (Seol In Ah), mas que em breve irá descobrir um novo amor.

Aproveito aqui para já elogiar Hyun Wook. O ator tem se mostrado promissor há alguns anos, mas este é talvez o seu papel mais interessante. Ele tem uma complexidade muito profunda e Hyun Wook consegue trazer todas as camadas necessárias do personagem, da gentileza e compaixão, ao amargor de ter crescido sem um pai.

Paternidade, aliás, é uma palavra que ecoa em todos os episódios. Pelos protagonistas, é interessante ver como a relação se inverte, na qual o filho vira um pai protetor e o pai, sem entender muita coisa e desconfiado de tudo, vira um filho teimoso que aos poucos entende o que é realmente ser amado por uma figura masculina.

“Sempre que tem algo que eu quero, algo que estou perdendo, quando estou em desespero, ou quando eu mais brilhava, você sempre esteve lá comigo. Você mentiu que é meu filho, certo? Mas eu senti como se você fosse meu pai por algum motivo. Eu nunca experimentei o amor do meu pai, mas senti algo semelhante graças à você”.

A omissão de paternidade se estende para além do arco de Yi Chan, como também vemos as consequências da ausência de um pai para Yoon Chung Ah (Shin Eun Soo), mãe de Eun Gyeol ainda adolesente, e como a falta da figura paterna pode resultar em traumas que se prolongam entre gerações.

As questões de paternidade são os momentos que o roteiro de Jin Soo Wan (“Kill Me, Heal Me”) mais brilha, de fato, mas há também um grande acerto ao saber dosar até que ponto a viagem no tempo deve ter consequências para o futuro. O espectador precisa sentir “visualmente” que a viagem não foi em vão – mesmo que o seu real propósito não seja esse, mas Soo Wan acerta ao tornar acontecimentos-chave imutáveis.

O romance também é um ponto louvável do roteiro ao construir, aos poucos, dois belos casais. Sempre que os casais evoluíam suas relações, meu coração vibrava. Há muita química entre todos e um balanço primordial entre o casal principal e secundário.

É muito interessante como o k-drama mostra ao espectador que Yi Chan está muito mais apaixonado pela “entidade” Choi Se Kyung, sem ter o sentimento romântico. Ele cria uma menina muito idealizada. Ele se apaixona pela ideia de estar com ela, não por ela em si. Diferente do que acontece entre ele e Chung Ah, cujo sentimento cresce naturalmente a partir do momento que descobre que ela gosta dele.

A jornada dos dois é incrível, assim como de Han Eun Gyeol e Choi Se Kyung, que se apoia no clássico enemy to lovers. Há os clichês irresistíveis, mas são algumas situações cômicas que nos fazem nos apaixonar cada vez mais pelos dois. Fofos!

Apesar de todos estes acertos, o roteiro não fica livre de pecar em alguns momentos. A primeira metade é a mais complicada ao tentar surpreender o espectador em alguns pequenos twists, num objetivo de ser genial, mas falha ao causar confusão por bobeira. Sorte que todos os personagens são carismáticos o suficiente para carregar esse início.

Só que alguns destes personagens acabam sofrendo. Todos os integrantes da banda conseguem tirar leite de pedra. Sabe-se muito pouco deles, e esse é o objetivo mesmo, são personagens secundários, mas os atores estão tão bem nos papéis que é difícil não se encantar com todos e, consequentemente, querer saber mais deles.

Já a vilã, Im Ji Mi (Kim Joo Ryung), serve muito mais como um artifício de roteiro para causar eventuais conflitos tendo em vista que pouco se sabe dela. Ela é má e pronto. Suas crueldades cumprem seu propósito e ajudam a personagem de Shin Eun Soo, que está excelente no k-drama, crescer, mas o seu próprio desenvolvimento pouco importa para a trama, o que em alguns momentos faz com que suas motivações façam pouco sentido. 

A falta de desenvolvimento destes personagens acaba se tornando um problema mínimo para a jornada graciosa entregue ao longo de 16 episódios. Vemos Eun Gyeol entender quem era seu pai e quais eram suas motivações e, o principal, entender o seu papel enquanto filho e jovem sonhador, sem precisar carregar mais fardos. Ele se cura.