Dorameiro não tem data de validade: Relatos de fãs com mais de 40 anos – Nós conversamos com pessoas fora da geração Z, que nos contaram suas experiencias de vida ligadas aos dramas, envolvendo preconceitos, sonhos e mais.


É fácil perceber como a globalização colaborou para que o conteúdo de entretenimento consumido pelo grande público fosse democratizado. A partir da última década, a indústria norte-americana começou a precisar se esforçar para não perder tanto espaço com a chegada da onda hallyu. Isso vem acontecendo com tanta intensidade que as grandes plataformas de streaming, como a Netflix, vêm adicionando inúmeros títulos asiáticos a seu catálogo, inserindo alguns que inclusive foram produzidos pela própria.

Então seria seguro dizer que, se isso vêm acontecendo há tão pouco tempo, o público que busca esse tipo de conteúdo é composto exclusivamente por adolescentes e gerações mais jovens, certo? Errado! Nessa matéria trazemos a você entrevistas com várias pessoas além das gerações Y e Z que, assim como quem consome o conteúdo da onda hallyu, são apaixonados por k-dramas.

Nossos entrevistados e seus dramas favoritos.

As razões pelas quais essas pessoas chegaram a esse gênero televisivo varia bastante, mas Alessandra Borges (47 anos), Rosângela (59 anos), Uta Grunauer (62 anos), e o casal Ricardo e Eliane Ramos (50 e 58 anos, respectivamente) conheceram os k-dramas por intermédio de seus filhos. “O primeiro k-drama que vi e amei foi W – Two Words. [Eu e minha filha] esperávamos sair os episódios semanais para assistirmos juntas.”, diz Uta.

Sérgio Takagi (56 anos), por sua vez, já possuía certa bagagem sobre o assunto: “Por ser de família japonesa já assistia alguns j-dramas. Estava acompanhando Terrace House quando uma das minhas filhas me sugeriu assistir k-dramas também.”

Os dramas coreanos, por serem idealizados em uma sociedade com valores tão diferentes dos nossos, podem parecer estranhos a princípio. No entanto, é esse o que parece ser o maior atrativo para estes espectadores, como Alessandra (47 anos), quando questionada sobre o que a motivou a continuar assistindo aos dramas disse que: “Hoje temos tantos valores banalizados, que assistir a assuntos tão dramáticos e pesados de forma diferente, me conquistou.”

Já Sérgio explica que: “Dramas coreanos contém boas histórias, mas sem violência desnecessária e sem apelo sexual. As novelas brasileiras, não assisti muitas para saber, mas na maioria das vezes tem um teor muito sexual e com muitas cenas de violências e mesmo que várias contenham um bom enredo, não é muito do meu gosto”.  Ele ainda conta que acha interessante observar as diferenças culturais, seja no ambiente escolar, no trabalho, na rotina diária dos coreanos. – “Mesmo que sejam dramas fantasia, temos como observar essa diferença comparado com o Brasil” – Observa.

Ricardo, por ser designer, tem uma visão ainda mais categórica sobre a produção dos k-dramas. Ele vai além, e pontua que tinha uma visão muito monocromática da Coreia; Apesar de gostar muito das marcas, se vê camadas abaixo dessa história. Como na fotografia, por exemplo, que é uma observação a parte, filmes e séries com belíssimas fotografias. Ele também assistiu ao drama “Meu país nova era” conta com entusiasmo: “foi uma aula de história completa”.

Sabemos que quem acompanha séries coreanas, leva consigo um estereótipo de pessoas “imaturas e iludidas”. Quando indagados sobre o preconceito que pode causar em quem não conhece muito bem o conteúdo, Rosângela explica: “Eu acho que tem gente que tem preconceito com as histórias coreanas, orientais no geral, sabe, geralmente só acham que as americanas são boas, mas precisam se abrir mais. Antes eu só assistia a filmes de ação suspense de Hollywood, depois que eu me abri para os k-dramas, foi incrível, todo mundo devia fazer o mesmo!”

Nenhum dos espectadores entrevistados diz ter sofrido preconceito por assistir dramas coreanos, mas Eliane adiciona que: “Apesar de não me sentir julgada por consumir esse tipo de conteúdo, creio que para quem não conhece pode sim acontecer um pre julgamento. Agora com essa quarentena está sendo uma ótima distração, perfeito para quem ama maratonar seriados”.

O público que assiste k-dramas no Brasil, em sua maioria, são mulheres. A visão que mulheres tem sobre os k-dramas é muito próxima da explicação de Sandra (45 anos) “Os homens parecem ser doces, e tratam as mulheres com muita estima. É gostoso observar como o romance se desenvolve num ambiente e cultura diferente da nossa, com mais delicadeza”.

Sérgio, nos apresenta uma visão masculina dos k-dramas: “A maioria é um sonho, uma utopia, algo impossível de acontecer.” – ciente de que o que é retratado ali não precisa ser, necessariamente, a pura realidade. Ricardo, por exemplo, sabe que nem tudo é como nas séries, porém sabe que a Coreia tem muitas belezas e está ansioso pra ter uma oportunidade de ir ao país para beber soju.

Gislayne (45 anos), também expressa seu carinho pelos k-dramas: “Sempre que posso indico os k-dramas para todas as minhas amigas e conhecidos. Quer desestressar e ter uma visão diferente do mundo e da sociedade assista aos dramas coreanos!”. Ela também deixa um importante aviso: “Cuidado! Você vai viciar!”.

SUGESTÕES DE DRAMAS

Os entrevistados fizeram, então, suas sugestões para o próximo k-drama que você pode assistir!

O drama coreano favorito de Rosângela é My ID is Gangnam Beauty, e ela também quis indicar Something in the Rain; “É uma das histórias mais lindinhas que eu já vi”, diz a dona de casa. Rookie Historian Goo Hae-Ryung e Crashing Landing on You também chamaram sua atenção por encaixar elementos históricos em um ótimo enredo.

A bibliotecária Alessandra tem muitos dramas favoritos e confessa que foi difícil fazer uma indicação. “Gostei muito de Search: www pois fala muito sobre o empoderamento feminino, achei fantástico”. Recentemente ela também assistiu a Itaewon class e se apaixonou pela história. Entre os atores e atrizes favoritos ela cita nomes já conhecidos como: “Lee jong suk” e “Suzy”, que são muito amados por quem já assiste aos k-dramas.

Sergio, mesmo não seguindo religiosamente o trabalho de algum ator ou atriz em especial, tem seu drama preferido na ponta da língua: Manual do presidiário, por causa do jeito do personagem. Ele está preso mas não demonstra que liga, fica sossegado e vai cumprir a pena dele. Parece ser um líder nato.”

A artesã Uta tem uma vasta lista de favoritos: W, Goblin, Descendants of the sun, A Lenda do Mar Azul, Heirs, Boys Over Flowers, Faith, entre outros. No entanto, ela separou suas indicações preferidas: W, por ter sido seu primeiro k-drama; Goblin, pelos inúmeros elementos “não reais” e Faith, que além de introduzir o tema viagem no tempo de uma maneira interessante, conta com a participação de seu ator favorito: Lee Min-ho.

O casal Ricardo e Eliane também deixaram suas indicações. Ricardo sugeriu Vagabond e Meu País Nova Era; enquanto Eliane preferiu A Historiadora. Mas um drama em especial atraiu a atenção de ambos: Mr. Sunshine, devido ao seu recorte histórico.

ONDE ASSISTIR?

My ID is Gangnam Beauty:  Viki
Something in the Rain: Netflix
Crashing Landing on You: Netflix
Manual do presidiário: Netflix 
W: Viki
Goblin: Viki
Faith: Viki
Vagabond: Netflix
Meu País Nova Era: Netflix
A Historiadora: Netflix | Resenha K4US
Mr. Sunshine: Netflix 

Todos esses relatos nos dão mais certeza ainda de como os estereótipos podem ser nocivos ao acesso ao entretenimento. O mero pensamento de que quem consome esse conteúdo é um pequeno nicho social, composto apenas por jovens estigmatiza todo um gênero televisivo e, assim, tantas pessoas que poderiam estar se divertindo com uma boa história original acabam sendo prejudicadas.

Existe uma infinidade de k-dramas nos mais variados temas para satisfazer os mais diversos gostos, independente da idade do espectador. Afinal, divertir-se com uma série de qualidade é algo que não possui restrição ou data de validade!


Agradecemos a todos os entrevistados, que aceitaram de primeira e relataram gratidão por termos lembrado que pessoas fora do estereótipo comum também querem ter voz para falar sobre k-dramas. A todos vocês, muito obrigada!

Texto por Brunna Souza | Entrevistas por Carol, Deska e Hope | Revisão por Carol
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