Quando um artista alcança certo nível de intimidade com seus fãs, ele é capaz de revelar os pensamentos bons e ruins através da sua arte. E foi exatamente isso que Agust D, ou SUGA do BTS, fez no seu novo álbum, “D-DAY”, lançado nesta sexta-feira (21). 

“Eles não se importam se eu falo palavrão [nas minhas músicas], eles [fãs] continuam torcendo por mim”, disse o idol em sua entrevista no IU’s Pallete. E, de certa forma, é uma verdade. A trilogia do Agust D começou em 2016 revelando um lado que nem todo mundo conhecia do astro de k-pop. “D-2”, lançado em 2020, impactou ainda mais os amantes do hip-hop que puderam se identificar com faixas como “People” ou “28” e, para encerrar essa trilogia, “D-DAY” é uma súplica pela libertação das emoções antigas que o rapper viveu ao longo dos anos. 

O disco de 10 faixas começa com a música “D-Day”, que leva o nome do álbum. Uma batida pesada e sons de guitarra mostram que Agust D está de volta mais potente do que nunca. “O dia D está chegando, é um bom dia para c”ralho/ O futuro vai ser ok” canta o rapper com uma vibe até mais positiva do que estamos acostumados. “As flores de lótus irão florescer novamente em um mundo coberto de ódio”, ele declara como uma mensagem de esperança para o seu público. 

O álbum segue para a title track “Haegeum”, que se refere a instrumentos de cordas tradicionais coreanos. Além disso, a palavra também pode significar ir contra algo proibido e, bom, acho que é o que assistimos no MV. A música tem uma sonoridade um pouco parecida com “Daechwita”, por conta dos instrumentos tradicionais. Contudo, a faixa mostra parte da rebeldia do rapper em se revoltar contra a sociedade capitalista. Em um dos versos diz “Todo mundo está cego de inveja e ciúmes / Sem perceber que eles estão colocando algemas uns nos outros”. 

A música passa a fazer mais sentido quando assistimos ao vídeo clipe. A super produção, que lembra a filmes asiáticos gangsters, encerra a batalha entre SUGA e Agust D de forma majestosa. E mostra, de uma vez por todas, quem é o verdadeiro rei. Confira abaixo. 

HUH?!” encerra a primeira parte de D-DAY. A faixa pesada é uma colaboração com J-Hope, membro do BTS e amigo de SUGA. “Que merda você sabe sobre mim?”, começa a música. Os versos seguintes são uma clara crítica aos haters e à imprensa sensacionalista que, constantemente, prega a ruína do BTS. “Você que está preocupado comigo toda vez dizendo que fui a ruína /Por que você não sabe que sua vida está arruinada”. Além disso, o flow suave de J-Hope é a cereja do bolo para a mensagem ser captada. 

A segunda parte do álbum começa com “AMYGDALA”, uma das músicas preferidas de Agust D. Com um som de guitarra elétrica, a faixa revela os momentos mais difíceis que o rapper passou em sua vida. Quando sua mãe teve que fazer uma cirurgia cardíaca, sua lesão no ombro e quando seu pai foi diagnosticado com câncer. Todas essas situações SUGA coloca na música e implora para sua amígdala, parte do cérebro responsável por controlar emoções e memórias, o salvar. A faixa termina com ele dizendo “Salve-me desse lugar, venha rápido e me salve, por favor”. 

Imagem/reprodução: BIGHIT MUSIC & HYBE

SDL”, do meu ponto de vista, pode ser considerada uma faixa mais voltada para o R&B do que pro hip-hop em si. Em “Somebody Does Love”, o eu lírico questiona sobre como é o amor e como é amar. Mas que, de alguma certa forma, relacionamentos são difíceis na sociedade moderna e amar alguém é complicado, mesmo pensando sem parar naquela pessoa. A música ganha um ar especial à medida que a voz da Adora, antiga produtora da BigHit, acompanha o rap de Yoongi, sendo o ponto chave da faixa. 

Em seguida, “People Pt.2”, colaboração com a cantora IU e lançada como lead single no dia 7 de abril, dá continuidade a serenidade da faixa anterior. SUGA conta no final do mv que escreveu a música enquanto não podia fazer nada devido à pandemia de covid-19. Por isso, a faixa é um conforto para si mesmo sobre a situação em que estava vivendo. Além disso, em entrevista para a Billboard, o rapper falou que fez a música voltada para o gênero pop, pois gostaria que muitas pessoas ao redor do mundo pudessem ouvir o seu trabalho e gostar. Ouça abaixo. 

A parte final do segundo ato de “D-DAY” é “Polar Night”. Na faixa, se destacam sons de bateria, baixo e o rap cru de Agust D, que, mais uma vez, critica a modernidade e o sensacionalismo. “Entre tantas verdades e tantas mentiras /Será que estamos olhando o mundo corretamente?”. Sendo pouco para começar a faixa, o rapper alfineta ainda mais no decorrer dos versos. “Olha, olha, olha, o culpado cala a boca /aquela justiça barata sobre a qual você estava gritando/ não era para aqueles que derramaram sangue”. 

Por fim, temos a última parte do disco com “Interlude : Dawn”, faixa instrumental de transição que revela um lado mais sentimental de Agust D nas duas músicas que se seguem. “Snooze”, colaboração entre Ryuichi Sakamoto (muso de Min Yoongi) e Woosung, membro da banda The Rose, era uma das faixas que estava mais ansiosa para escutar. Afinal, como seria essa junção? 

A participação de Sakamoto só revela o porque SUGA o tinha como muso. A faixa não destoa do álbum, muito pelo contrário, traz as preocupações que Yoongi sente com os novos artistas que entram na indústria do k-pop. O rap de Agust D junto dos vocais de Woosung são a cereja do bolo da faixa. Realmente, valeu a espera. 

“Você, que dorme pouco por causa de seus objetivos/ Tudo bem descansar”, “Pode ter parecido uma estrada de flores/ Mas espero que saiba que foi um caminho de espinho”. A música não é só uma mensagem de conforto para os novatos, mas também um pouco das batalhas que Agust D teve que passar para chegar onde está hoje. Nem sempre foi fácil. Mas de alguma forma, através dessa música, ele está tentando mudar isso. 

O que nos leva a última faixa de “D-DAY”, “Life Goes On”. A música é conhecida pelo ARMY por estar presente no álbum “BE”, lançado em 2020 pelo BTS. Na nova versão, também escrita por RM, líder do grupo, Agust D trouxe o seu rap da faixa original e acrescentou novos versos que torna a música mais profunda. “Neste momento em que todos se separaram/ Nós nos distanciamos mais do que ontem”. Ainda assim, a vida continua. 

“D-DAY” definitivamente alcançou todas as expectativas que criei. Um álbum escrito e produzido por Agust D e, de quebra, com colaborações significantes da indústria musical asiática não poderia ser ruim. Para quem acompanha o artista há algum tempo, sabe que é através desse alter ego que SUGA, membro do BTS, pode se expressar da maneira que deseja. O álbum, como um todo, faz apontamento e críticas a situações que estamos vivendo ou que vivenciamos acompanhando a caminhada do BTS até o topo. Além disso, acredito que fala muito mais sobre Min Yoongi querer libertar suas emoções profundas e obscuras para ter uma vida calma a partir de então. 

Ainda durante a entrevista no IU’s Pallete, o rapper comentou que suas músicas estavam cheias de raiva. No entanto, para este disco, percebe-se o amadurecimento desse sentimento. O que era fúria se tornou em pensamento crítico, e é isso que torna Agust D um dos maiores rappers coreanos atualmente. Por isso, “D-DAY” é um álbum para se ouvir nesse processo de crescer e aprender a lidar com suas emoções e se libertar de outras. De longe, esse é um dos melhores trabalhos que Min Yoongi já colocou no mundo. 


“D-DAY” é acompanhado do documentário “Road: D-DAY” que estreou nessa sexta-feira (21), no Disney Plus. O longa mostra o processo de composição e produção do álbum, assim como as preocupações de Agust D. Confira o trailer abaixo! 

Texto por Ana Carol | Revisão por Fran | Equipe de Redação da K4US
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