Um pouco sobre um livro coreano muito antigo, mas que se mostra muito atual em todos seus contos e poemas, carregado de sentimentos e história.

9/10

Contos da Tartaruga Dourada

Autoria: Kim Si-Seup

Editora: Estação Liberdade

Ano de lançamento: Século XV | No Brasil: 5 de junho de 2017

ISBN: 10-8574482846 / 13-978-8574482842

Gênero: Poesias

Sinopse: O conjunto dos Contos da Tartaruga Dourada, escrito no século 15, é considerado o ponto fundador da prosa coreana. Conectadas por ideias sobre o amor romântico, a interação entre o mundo dos vivos e o dos mortos e comentários sobre política e religião, as histórias forneceram um modelo de romance que seria usado em séculos por vir. O livro, recheado de referências aos clássicos chineses, combina a prosa às poesias e canções, a literatura fantástica à filosofia, a erudição à sensualidade. A qualidade lírica das frases e a descrição sensível dos eventos rendem ao conjunto a sofisticação de um romance. Outro ponto de interesse no estilo narrativo de Kim Si-seup é o sincretismo entre elementos xamânicos, budistas, taoístas e neoconfucionistas.

Foto do acervo pessoal de Giovanna @ K4US

Contos da Tartaruga Dourada –  do coreano 금오신화  (geumo shinhwa) – foi escrito durante o século XV, é um livro com um conjunto de contos, prosas e poesias, escrito pelo autor Kim Si-seup, um dos poetas mais importantes da literatura coreana.

Considerado a primeira obra de ficção coreana, o título do livro vem de Geumo-san, conhecido também como Monte da Tartaruga Dourada, hoje chamado de Namsan (Gyeongju), onde, segundo alguns, foi o local em que Kim Si-seup escreveu as histórias.

Sobre o autor

Foto do escritor coreano Kim Si-seup, autor de ‘Contos da Tartaruga Dourada’, publicado pela editora Estação Liberdade (Crédito: Estação Liberdade)

Kim Si-seup (1435-1493), foi um poeta e pensador que ficou conhecido como “O Gênio Desafortunado”. Sua fama percorreu todo o Reino de Joseon, muito se falava sobre o escritor e histórias sobre ele. As mais contadas dizem que Kim aprendeu os caracteres chineses aos oito meses de idade, e que escreveu seu primeiro poema aos três anos. Sua fama teria chegado ao Grande Rei Sejong (inventor do alfabeto coreano em 1446), que teria chamado Si-eup – na época com cinco anos – para lhe presentear com uma peça de seda.

Para quem se interessa em compreender mais sobre o nascimento do alfabeto coreano, sobre autores, poetas, romancistas e pensadores coreanos, indicamos assistir o drama “Hae Ryung – A Historiadora” (leia a resenha clicando aqui). Série que trata sobre este assunto e está disponível na Netflix)

Sua escrita era caracterizada por possuir pensamentos confucionistas e budistas. A principal mensagem das obras de Kim Si-eup era mostrar aos leitores que tanto o rei quanto os súditos, deveriam, respeitar toda a nação como um todo, independentemente do status ou origem de uma pessoa.

Quando morreu, houve muito esforço do rei para publicar suas obras. Porém, somente em 1927, um de seus descendentes juntou suas obras e as publicou, totalizando 23 livretos em seis volumes.

Em 1973, a coleção ganhou novas obras e Contos da Tartaruga Dourada foi editada e publicada um volume separado.

Uma das ilustrações do livro

Sobre o livro e opinião da leitora

Uma coletânea com com cinco contos, cada um com um objetivo e histórias que prendem a atenção do leitor.

Cada história possui um poema com descrições claras sobre o local onde conto se passa. Acredito que o ponto alto de cada narrativa seja justamente esses poemas, pois eles carregam o sentimento do personagem.

Outro ponto que gostaria de salientar: Os personagens. Estes são bem distintos entre si, cada conto possui personagens com suas próprias características, nunca repetindo ou parecendo mais do mesmo.

Sempre com uma pitada de romance – e também um pouco de melancolia – as histórias se desenvolvem abraçando o leitor de forma que é quase possível se sentir ao lado do autor, no momento da escrita.

Os personagens que mais chamaram minha atenção, com certeza foram Choi e Yi, ambos do conto ‘Yi Espreita por cima da Mureta, que narra sobre a união improvável de um casal que viveu durante uma turbulenta guerra, como define o autor. O romance nasce quando Yi bisbilhota por cima de uma mureta, e se depara com Choi, uma bela mulher. Esse conto, em especial, é um romance que se baseia nos poemas que um recitava para o outro.

“Quão lentamente estou a bordar, encostada só no véu da janela
Quão delicado o canto do figo-loiro por entre tantos botões de flor!
Lamento em vão o vento de primavera
E em silêncio descanso a agulha a absorver-me em pensamentos

Citação do conto ‘Yi Espeita Por Cima da Mureta’ – Contos da Tartaruga Dourada.

Aquele moçoilo que passa ali fora, de qual família será?
Entrevejo sua veste azul caminhando por entre os ramos pendentes de salgueiro
Quisera eu me tornar uma andorinha-das-chaminés
Para voar baixinho por cima da cortina de contas, por cima da mureta”

Citação do conto ‘Yi Espeita Por Cima da Mureta’ – Contos da Tartaruga Dourada.

Assim como esse conto, todos os outros são emocionantes, diria que é uma das leituras obrigatórias para aqueles que são apaixonados pela cultura coreana. Um livro recheado de cultura, que vale cada momento de leitura – e diria também, cada momento de reflexão.

O livro traz toda a mente fértil e lúdica de um autor que carrega grande peso histórico da literatura coreana.

Conforme informações do livro, a obra foi traduzida pela Professora Yun Jung Im, mestre em literatura coreana moderna pela Universidade Yonsei (Seul) e doutora em comunicação semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora de língua e literatura coreana, que traduziu diversas obras literárias do coreano para o português.


Pronto para mergulhar em “Contos da Tartaruga Dourada” e aprender mais sobre a história e cultura da Coreia? Se ler o livro, nos conte o que achou! Sempre estamos disponíveis nas redes sociais. Divirta-se!

Resenha por Giovanna Machado | Equipe de Redação da K4US
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