BTS fez história no VMA, mas é ainda fica nítido que o mercado ocidente não está preparado para abraçar o k-pop para além de busca de índices altos de audiência.


No último domingo (30), BTS fez história ao participar do Video Music Awards (VMA), a principal premiação de videoclipes do mundo, vencer quatro categorias e se tornar o segundo maior premiado da noite. Entretanto, é nítido que o mercado ocidental – em específico, o norte-americano – ainda não está preparado para abraçar o k-pop para além de busca de índices altos de audiência, dando um espaço bem limitado aos cantores e uma categoria que os separa dos demais artistas – o mesmo acontece com artistas latinos.

Graças aos números que têm conquistado merecidamente, BTS tem chamado atenção do mercado fonográfico norte-americano nos últimos três anos. Por isso, os garotos à prova de balas passaram a participar de grandes premiações dos Estados Unidos, como o Grammy e Billboard Music Awards. Enquanto para muitos, e de certa forma é o que está acontecendo, o BTS vendo sendo finalmente reconhecido, para outros tais conquistas podem soar um pouco estranhas se levarmos em consideração o tratamento que os artistas sul-coreanos recebem de tais premiações.

BTS no Grammy 2020 – Reprodução

Antes de seguir, porém, é preciso ressaltar que a inserção de artistas sul-coreanos em premiações ocidentais de grande renome não é algo tão recente. O BIGBANG, lá em 2011, já fazia história ao ser indicado nas categorias “Melhor Ato Asiático” e “Melhor Ato Mundial” no Europe Music Awards (EMA), o VMA europeu, e venceu ambos os prêmios. Diferente do VMA, o EMA há quase 10 anos premia artistas do mundo todo, de forma muito mais democrática.

A categoria “Melhor Grupo ou Artista de K-Pop” no VMA surgiu apenas no ano passado. Para este prêmio, além do BTS, já foram indicados EXO, Monsta X, TXT, Red Velvet, (G)I-DLE, BLACKPINK e NCT 127. Entretanto, destes nomes, apenas Monsta X, BTS e BLACKPINK conseguiram indicações para além desta. Justamente os artistas que conseguem um desempenho mais significativo no mercado norte-americano.

Busca pela audiência

Uma premiação televisionada precisa de uma boa audiência para fazer jus aos patrocinadores que possui – é isso que paga uma cerimônia grande – por isso é comum que algumas decisões sejam tomadas para que esse número não caia a cada edição – a audiência do VMA despenca a cada ano. Fugindo do mundo da música para exemplificar, o Oscar, por exemplo, neste ano resolveu diminuir o seu tempo de duração para conseguir segurar o público.

Trazer o BTS para uma apresentação – a primeira de “Dynamite” no mundo! – segue a mesma lógica, mas essa decisão não se limita a eles. Lady Gaga, a grande premiada da noite, mesmo na edição deste VMA foi uma arma para trazer audiência graças ao seu fandom fiel, os little monsters. O problema é que o BTS tem um histórico de ser utilizado como isca para chamar audiência por conta da sua base de fãs dedicada e sólida, quando em muitas vezes o grupo sequer é indicado para categorias mais importantes ou até mesmo gerais.

Pegando o VMA com exemplo, neste ano o BTS foi indicado em categorias gerais, “Melhor Grupo”, “Melhor Vídeo Pop” e “Melhor Coreografia”, um reconhecimento muito importante, mas isso era para ter acontecido há pelo menos cinco anos, quando lançaram “I Need U” e “Run”, mas naquela época o grupo começava a crescer mundialmente. Então não havia muito a necessidade de trazer os cantores – na visão dessas premiações. Agora que o BTS é reconhecido como o principal grupo do mundo, isso misteriosamente mudou (risos), mas não o suficiente para pelo menos o indicarem em categorias como “Artista do Ano”.

A vitória do grupo em categorias como “Melhor Vídeo Pop” e “Melhor Grupo” ficam agridoces demais se levarmos em consideração que são categorias populares. Decidir por votos do público não diminui a importância de tais categorias, mas abre porta para o questionamento: BTS realmente ganharia prêmios no VMA se não fosse assim? O mesmo vale para o BLACKPINK na categoria “Melhor Música de Verão”.

Talvez a categoria técnica “Melhor Coreografia” seja a resposta para essa pergunta, visto que ela não é aberta ao público e o BTS ganhou com “On”, faixa do disco “Map of The Soul: 7”, porém apenas os próximos anos e outras premiações irão trazer uma resposta mais concreta.

Outro ponto que incomoda é o tempo dado para apresentações quando elas acontecem e neste VMA não foi diferente. BTS sempre teve um tempo limitadíssimo, o que impede com que o grupo tenha mais liberdade para entregar uma apresentação muito mais elaborada, não um stage que parece ter saído diretamente do “Inkigayo”. São sempre boas, mas sabemos o potencial que eles podem atingir.

K-Pop é… Pop

O tratamento dado a artistas sul-coreanos fica ainda pior por existir uma categoria criada exclusivamente para o k-pop, um gênero que, pasmem, é apenas pop, mas cantado em sul-coreano. O prêmio é válido partindo do ponto de que deste modo alguns nomes jamais cogitados acabam recebendo uma indicação e, consequentemente, reconhecimento, mas a sensação que fica é os artistas de k-pop não são bons o suficiente para realmente concorrerem em categorias gerais com os demais.

A criação de uma categoria específica para o k-pop também é outra artimanha quase que estratégica para chamar audiência. Ao indicar outros grupos, você garante que outros fandons acompanhem a premiação, mesmo que seja para ver o seu favorito perder. Essa não é a primeira vez que isso acontece.

Apesar de indicações limitadas e a existência de uma categoria nichada, é bacana ver que pelo menos minimamente elas existem e talvez isso seja um sinal de mudança que deve ter um grande efeito apenas nos próximos anos. O mercado fonográfico norte-americano se limitava a enxergar apenas BTS e BLACKPINK, mas novos nomes começam a chamar atenção e conquistar novos espaços.

Entendam: BTS sair com quatro prêmios (BLACKPINK com um um) de uma das maiores premiações do mundo da música é um passo gigante para o k-pop ao simbolizar a força que o grupo e seu fandom possuem. É a primeira vez que isso acontece e o feito só agrega ao gênero. A gente só fica com um pé atrás das intenções de se dar tal reconhecido só agora, quando deveria ter acontecido há muito tempo não somente com o BTS e BLACKPINK, mas com outros artistas de k-pop igualmente talentosos.