Depois do hit “Christian” estourar a bolha e fazer um mega sucesso, muita gente conheceu Zior Park, cantor, rapper e compositor sul-coreano. Com um refrão chiclete, um ritmo contagiante e um videoclipe excêntrico, o cantor ganhou os holofotes do algoritmo.

Mas mais que um cantor de um hit só, Zior Park é um artista completo. Inicialmente trabalhando como produtor e diretor de videoclipes, em 2019 ele lançou seu primeiro single “The Ellen Show” e mais tarde, em 2020, seu primeiro álbum intitulado “THUNDERBIRD MOTEL”. Logo de cara, seu trabalho chama a atenção tanto pela voz única quanto pelo flow, além da estática estranha e instigante de seus videoclipes. 

Zior Park The Ellen Show

A verdade é que a estética e atmosfera criada por Zior Park em seus trabalhos têm a combinação perfeita entre o belo e o estranho, fazendo dele um artista único. Ficou curioso? Vem com a gente conhecer mais sobre esse artista incrível.

Desde seus primeiros trabalhos, Zior Park já chegou mostrando que não veio para ser mais do mesmo. Acrescentando cor a sua estética exótica, ele chegou em 2023 com a dupla de álbuns “WHERE DOES THE SASQUATCH LIVE?” Pt. 1 e Pt. 2 para chocar e encantar. 

Abusando de cores fortes e contrastantes como laranja, azul e amarelo, texturas, cenários montados e uma animação inspirada na arte de Tim Burton, os videoclipes de Zior chamam a atenção e têm muito apelo visual. 

Na capa do primeiro álbum, por exemplo, temos um close da animação de um rosto com muito laranja e tons terrosos, mais tarde, no segundo álbum, vemos a imagem amplificada. Descobrimos que o rosto pertence a alguém em uma fantasia e somos apresentados a um cenário montado que incorpora a animação e ainda por trás temos a imagem mais sombria do próprio Zior. 

Essa estética se mantém na grande maioria dos videoclipes, como em “BEING HUMAN”, “QUEEN”, “SPACE Z”, “BYE BYE BYE”, entre outras. E mesmo os videoclipes que fogem um pouco disso não vão muito longe, como o hit “CHRISTIAN” ou a obscura “BULLET”, mantendo sempre essa estática estranha e instigante que só Zior Park consegue fazer. 

Além de todo esse apelo visual, a própria imagem de Zior Park por si só já é capaz de se destacar, não só pelo seu cabelo laranja, mas principalmente pela forma como brinca com sua aparência. O cantor está sempre transitando entre estilos, maquiagens e roupas para contar sua história, até mesmo suas expressões faciais são parte disso. 

Se você também chegou aqui se perguntando o que ou quem é o Sasquatch, nós te contamos. Ele é o famoso “pé grande” ou yeti, criatura mítica presente em muitas histórias que existem por aí, além de atender a vários outros nomes. Mas o que isso tem haver com Zior Park e sua música? Analisamos seus álbuns, algumas entrevistas e agora vamos contar a que conclusão chegamos. 

Bom, a verdade é que muito provavelmente o Sasquatch e a busca por ele é uma metáfora que Zior Park usa para contar sua história, principalmente porque ele sempre fala como é um sonhador que se sente “fora da caixinha” e espera algo mais da vida do que aquilo que parecem oferecer a ele. Onde estão as pessoas como ele? Onde elas podem ser encontradas? Ele se pergunta, da mesma forma que as pessoas se perguntam onde está o Sasquatch e onde pode ser encontrado.

Então se Zior Park se vê como um Sasquatch, contar uma história sobre um menino que viu algo inimaginável como essa criatura e deseja a todo custo encontrá-lo novamente fazendo dessa a jornada de sua vida, parece uma boa forma de falar sobre uma busca para encontrar a si mesmo. 

Para endossar essa possibilidade, nos álbuns “WHERE DOES THE SASQUATCH LIVE?” Pt. 1 e Pt. 2 é como se o cantor estivesse realmente contando uma história e através dela vamos descobrindo quem ele era, seus sonhos e onde sua busca o levará. Isso fica muito evidente quando o primeiro álbum começa com uma narração, onde uma voz feminina conta sobre “…a criança que viu algo fora deste mundo…”, foi profundamente abalada e a partir de então iniciou sua jornada em busca do Sasquatch. 

Pode se dizer que nesses dois álbuns Zior Park escancarou seu coração e falou sobre sua vida, medos, inseguranças, seu amadurecimento, como ele vê o mundo e as pessoas, ele realmente rasgou o verbo aqui. Com as músicas “SASQUATCH” e “BEING HUMAN”, por exemplo, é claro como o músico se sente deslocado e diferente de todos, como não consegue se encaixar no mundo, se sentindo “sonhador” demais para ser o adulto que a sociedade exige que as pessoas sejam.

Zior Park BEING HUMAN

Para adicionar mais confusão a esse conflito, fica claro também o grande desejo que Zior tem por viver. Isso está presente em praticamente todas as suas músicas, como em “SUNBURNKID”, onde ele canta “Já faz um tempo que não sinto meu coração bater”, enquanto em “QUEEN” Zior aponta como algumas pessoas vivem de aparências e estão sempre prontas para criticar os outros, para quem o cantor responde: “No meio dos dedos apontados; Eu reinarei como o rasgado e dilacerado.”

Já em “BYE BYE BYE”, feat. com o artista Sion, parece que Zior já conheceu um pouco mais do mundo, principalmente seu lado mais sombrio, e isso o deixa ainda mais decepcionado, ele canta “Mascarados, são todos tão atraentes; Amigos e inimigos parecem todos iguais…”. O músico também fala sobre um conselho que ouviu de seu pai, como o julgou sangue frio, mas que agora entende porque o pai disse, entre outras palavras, que “‘…Nada é de graça, você sempre precisa pagar; Use todos eles, não seja amigo deles, filho; Use seu cérebro, não siga seu coração’”. 

Em meio a todos esses sentimentos conflitantes ainda é possível ver a influência que a religião teve e tem sobre a vida de Zior Park, seja para lhe dar esclarecimento ou para fazê-lo se sentir contraditório. Em seu hit “CHRISTIAN” ele fala sobre esses sentimentos conflitantes por ser cristão, mas não seguir à risca o que é pregado e defende estar “vestido de novo cristão”. Entretanto, não é só isso.

A primeira referência explícita à religião nessa dupla de álbuns é na música “MAGIC!”, onde ele canta “A Bíblia diz ‘Esse amor é o maior’; Finalmente adicionei o sistema de amor; Eu me sinto como você, você se sente como eu; Talvez estejamos conectados por este sistema…”. Além disso, muito do que ele diz pode possuir um duplo sentido entre o amor romântico e o amor ágape (divino), uma vez que no refrão também canta “Quão maravilhosas todas as criaturas são como mágica; Eu não percebi que estou vivendo nesta bênção; Mas você abriu minha mente, posso sentir sua magia…”

Não podemos deixar de comentar também como alguns trechos de suas músicas parecem uma conversa ou uma prece de Zior para Deus. Em “BYE BYE BYE” ele finaliza questionando “Deus, como devo amar meu próximo? Quando todos eles são apenas um bando de manequins tentando enjaular minha alma?”. 

Finalizando sua história, já no segundo álbum, com a música “SPACE Z”, Zior Park traz uma vibe mais esperançosa, parece ter aceitado quem é e o seu destino e, ouso dizer, se aproximou um pouco mais de quem quer ser, já que afirma “Eu nasci assim, talvez; Deus tenha colocado o chip especial no meu coração” e também canta: “Eu nasci assim, sim, não tenho medo de ser piloto”, “Estou perseguindo a luz; Eu não me importo com o que eles mentiram; É dever do pioneiro; Foguete está crescendo; Indo para a lua; Estou perseguindo as estrelas; Eu realmente não me importo com o quão longe eles estão de mim; É dever do pioneiro; Só estou provando que quero algo novo”.  

Ao final do segundo álbum, após a também esperançosa “WALKING THROUGH THE DARKNESS”, a narradora do início do primeiro álbum retorna para dar um fim à história. Ela conta: “O homem percebeu que o que ele procurava todo esse tempo; Agora tudo se tornou sem sentido; Sua busca para encontrar o inimaginável; Foi ofuscado pelo próprio processo; Isso não significa que ele vai desistir de procurar o Sasquatch; Ele continuará procurando; Mas as pessoas e coisas que ele conheceu durante sua busca; Tornaram-se mais preciosos para ele…”

Com esse encerramento fica bem claro como a história dos dois álbuns foi a forma que Zior Park encontrou para falar sobre sua vida e a jornada de amadurecimento pela qual ele passou, seus conflitos pessoais e sua percepção do mundo, tanto que lá no início a narradora fala sobre “a criança que viu o Sasquatch” e finaliza contando sobre o que o homem percebeu em sua jornada. 

É realmente incrível e brilhante a forma como Zior Park trabalha em sua arte, ele entrega estética, ritmo e conteúdo de um jeito único e com certeza promete muito em relação ao que vem por aí.