Você já se perguntou onde estaria se tivesse tomado uma determinada decisão diferente na sua vida? O que poderia ter sido da pessoa que é hoje? Você teria arrependimentos? São essas algumas das principais perguntas que os personagens de “Vidas Passadas”, indicado ao Oscar de melhor filme e melhor roteiro original no Oscar 2024, se fazem, também são as indagações que a diretora Celine Song propõe a quem está assistindo ao filme que estreou no Brasil na última quinta-feira (25).

Assim, Celine Song traz em seu longa de estreia uma história de amor entre Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância que foram separados quando um deles se muda da Coreia do Sul para o Canadá com a família. A premissa gira em torno dos encontros e desencontros entre os dois e como suas escolhas impactaram as pessoas que são em suas vidas adultas. 

(foto:reprodução)

Esse enredo de romance entre amigos de infância é algo muito comum, principalmente nos k-dramas. nada melhor para derreter nossos corações que aquele momento quando a protagonista descobre que o homem que ela odeia, na verdade, é o amigo de infância que ela jurou casar no futuro, é tudo muito fácil, é tudo obra do destino. 

“Vidas passadas” subverte esse clichê, pois é baseado em uma experiência pessoal da diretora. E a vida real não é um k-drama, a vida real é difícil e cheia de escolhas que nos fazem seguir caminhos diferentes, colecionando experiência e conhecendo pessoas diferentes. Isso que dá o impacto nas tocantes performances de Greta Lee (“The Morning Show”) e Teo Yoo (“Love to Hate You”), tudo é passado por meio dos diálogos e das expressões corporais, todos os sentimentos conflituosos dos personagens são transmitidos muito bem. Tudo é muito belo, silencioso e realista.

Além deles, vale a pena dar um destaque para Arthur, personagem de John Magaro (“A grande aposta”) que completa o trio principal e proporciona alguns dos melhores diálogos do filme. Sem dar spoilers, mas é bom salientar como Arthur é uma abordagem nova para um arquétipo muito comum em histórias que tenham triângulos amorosos. Nesse filme não há mocinhas, mocinhos e vilões, apenas seres humanos complexos.

(foto:reprodução)

A cena inicial foi destacada pela diretora em entrevista ao canal do Bafta como a mais difícil, pois traz ao espectador um convite para entrar naquela história e conhecer esses personagens que acompanharemos dali pelos próximos 106 minutos. E posso dizer que desde este momento eu já me interessei e entrei de cabeça na história. A partir dali foi fácil me conectar com eles. Acredito que os cenários nova iorquinos filmados em película também colaboraram para que eu me apaixonasse por aquele universo. Há muitas cenas que os personagens ficam minutos em silêncio e toda a ambientação se torna mais que um plano de fundo, torna-se também representativo da psique de quem está em tela.  

Uma das coisas que eu mais gosto é como o “Vidas Passadas” é dual, são dois homens importantes na vida de Nora, mas também são duas culturas e dois idiomas. O longa mostra essa confusão e as faces da protagonista por meio da fotografia e dos diálogos que transitam entre o coreano e o inglês. Mesmo assim, como alguém que não é nativa em nenhuma das línguas, não achei confuso. Tudo é parte da personagem e rapidamente entendemos isso. 

Neste contexto, o filme me lembrou outro que foi lançado no ano de 2022, “After Sun” de Charlotte Wells. Ambos longas são distribuidos pela A24 e são as estréias nas telonas de diretoras mulheres não norte-americanas que trazem em sua obra algo quase auto biográfico. Além disso, ambas tiveram destaques em premiações como Globo de Ouro, Festival de Sundance e no Oscar, pois suas abordagens fogem do tradicional hollywoodiano. Acho importante essas diretoras receberem esse reconhecimento pelos seus trabalhos, pois abre a possibilidade e a oportunidade para futuras gerações de mulheres não estadunidenses que queiram ingressar na direção e roteirização de longas. 

Assim, “Vidas Passadas” é daqueles filmes, que mesmo que passe um tempo depois que você o assistiu, ele fica marcado de alguma forma na sua cabeça e no seu coração. Greta Lee disse no “Actors on Actors” da Revista Variety que tudo foi visceral para ela, foi como se apaixonar de verdade, brincando ela disse: “era uma sensação como se eu estivesse morrendo”. E posso dizer que eu senti que tudo foi visceral assim para mim também, como se eu estivesse me apaixonando também, senti tanto as partes boas quanto as partes ruins que vêm com o sentimento. É, eu me apaixonei por “Past Lives”.

Portanto, posso dizer que assisti-lo foi uma experiência muito marcante e mostrou mais uma vez o porque gosto tanto de ver filmes, pois eles mudam a forma que vemos as coisas. Se esse é apenas o primeiro filme que Celine dirige e escreve, mal posso esperar pelo que vem futuramente. Também, acredito que vale a pena manter os olhos nos futuros projetos de Teo Yoo e Greta Lee. 

10/10

Vidas Passadas

Título original: Past Lives

Direção: Celine Song

Gênero: Romance dramático

Produção: A24

Ano de lançamento: 2023

Duração: 106 minutos

Elenco: Greta Lee, Teo Yoo, John Magaro, Won Young Choi, Seung Ah Moon, Seung Min Yim

Sinopse: Escrito e dirigido por Celine Song, Vidas Passadas é um drama que conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul e se mudar para a cidade de Toronto. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram em Nova York e vivenciam uma semana fatídica enquanto confrontam as noções de destino, amor e as escolhas que compõem uma vida.