Em 29 de janeiro é celebrado o dia nacional da Visibilidade Trans, mas a gente também precisa falar de 31 de março, o dia internacional de comemorar, ter orgulho e lutar por essa comunidade que sofre todos os dias por apenas existir. E para dar mais força para essa luta, nós vamos citar aqui 5 obras com personagens trans fantásticos que você precisa conhecer!

O dia 31, especificamente, foi escolhido devido a iniciativa de Rachel Crandall, diretora executiva do movimento transgênero de Michigan (Transgender Michigan) em 2009.

A intenção de Rachel era celebrar o sucesso e a superação de tudo que as pessoas trans passam na sociedade por não estarem dentro dos padrões de gênero e também comemorar as conquistas que essa comunidade alcançou durante todos esses anos de luta. A data do dia 31 então acabou sendo adotada por vários países logo em seguida!

Mas o que é ser uma pessoa Transgênero ou Cisgênero? A K4US te ensina!

Transgênero, ou apenas trans, é um termo guarda-chuva que é utilizado para identificar todas as pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído ao nascer. Enquanto uma pessoa cisgênero na verdade é o oposto, é alguém que ao longo de sua vida se identifica com o gênero ao qual nasceu e não tem problemas com isso.

Um exemplo para você não ter dúvidas: um bebê nasce menina e com o passar do tempo essa pessoa continua “de boa” sendo uma menina? Então ela é uma pessoa cisgênera (ou apenas cis). Agora, se um bebê nasce menina e com o passar do tempo esse ser humano começa a não se identificar mais como menina, mas como um menino, ele é um menino trans.

Cena do anime Wonder Egg Priority com o personagem trans Kaoru Kurita

Mas lembra que eu te disse que trans é um termo guarda-chuva para identificar qualquer pessoa que não seja cis? 

Pois bem, dentro da comunidade trans você também pode encontrar pessoas não-binárias (não se identificam nem com o sexo feminino ou o masculino), gênero fluído (que transitam pelos dois, são fluídas! Uma hora se identificam mais com um e uma hora com outro), intersexo (que segundo a ACNUDH – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, são pessoas que já nascem com anatomia sexual que não se encaixa nas definições típicas de corpos masculinos ou femininos.

Ou seja, essas pessoas já podem nascer com órgãos reprodutivos, padrões hormonais e/ou cromossômicos completamente diferentes do que conhecemos da cisgeneridade).

Segue em ordem as bandeiras Não-binárie, Gênero-fluído e Intersexo:

Por último, mas não menos importante, temos também as travestis, que é um termo que nasce nos países da América Latina para identificar mulheres transgênero que expressam sua feminilidade das mais diversas formas.

Antigamente, “travesti” era falada pejorativamente, mas houve um resgate para essa palavra dentro da comunidade trazendo mais visibilidade para todas as travestis na sociedade e principalmente dentro dos movimentos políticos, com o intuito de dar a dignidade que elas merecem como qualquer outra mulher e pessoa merece.

Com nossa aulinha tendo fim e você entendendo e agora ficando por dentro de tudo, vamos conhecer esses personagens e suas obras?

Sendo vista logo de primeira como uma garota que está tentando viver de forma “descontraída” dentro de um jogo cruel e sem uma explicação exata do por que aqueles personagens precisam lutar para sobreviver, é uma grande surpresa quando descobrimos no episódio 7 do dorama que Kuina é uma mulher trans.

Hikari Kuina (Asahina Aya) de Alice In Borderland

Surpresa pois é algo que, confesso eu, não esperava que o Japão adaptaria de forma tão aberta e ainda mostrando o passado de Kuina e as dificuldades que ela passou com seus familiares que não a reconheciam como mulher. É um deleite ver Kuina ser uma pessoa trans e acabou. Sem preconceitos ou estereótipos, pelo contrário, ela é muito respeitada por todos os outros personagens e se mostra uma grande lutadora.

A única parte desagradável disso tudo é que escalaram uma atriz cis (Asahina Aya) para interpretar uma personagem trans. Para o Japão, principalmente, ter uma personagem trans sendo interpretada por uma pessoa trans, acho que seria de um grande ganho e aprendizado para os japoneses.

Entretanto, não se pode deixar de ressaltar o respeito e talento na atuação de Asahina com Kuina. Definitivamente fez e ainda faz um excelente trabalho dando vida a personagem.

Da mesma série: “vocês poderiam ter escalado uma pessoa trans para interpretar um personagem trans, mas preferiram chamar uma pessoa cis outra vez”, trazemos a talentosa Lee Joo Young interpretando Ma Hyun Yi, uma mulher trans que é contratada como cozinheira para trabalhar no DanBam por Saeroyi (Park Seo Joon), e ela é admitida não por que sabe cozinhar, mas por ter trabalhado  numa fábrica junto de Saeroyi e os dois terem se tornado amigos. 

Ma Hyun Yi (Lee Joo Young) de Itaewon Class

Ela se torna uma chefe de cozinha talentosa ao decorrer da história, assim como o roteiro do k-drama explora de forma explícita a coragem que as pessoas trans precisam ter dentro da sociedade para ser quem são. Dentro e fora do pub, Hyun Yi enfrenta preconceitos diários, mas com o tempo todos começam a entender a amiga e lutar junto com ela pelos seus direitos e causas.

Inclusive é emocionante a cena que o DanBam está competindo num programa de TV e tentam usar o fato dela ser trans para desclassificá-la. Como se isso tivesse algo a ver com um programa de cozinha que avalia literalmente o talento de cada chefe?

Porém, tanto Saeroyi como os outros funcionários e amigos de Hyun Yi deixam bem claro que ela é muito mais do que os outros têm a dizer e no fim, ela de fato ganha o programa!

Tirando o fato de ser uma atriz cis a interpretando e os outros fatores complicados que o roteiro de Itaewon Class possui, a questão da representatividade trans em si durante a narrativa definitivamente não é um desses defeitos. Inclusive ainda acrescento: é um dos poucos k-dramas que de fato comemora e retrata a vivência trans de uma maneira mais realista dentro da Coreia do Sul.

No meio de obras de artes e o que estudantes e aspirantes dessa área passam para se encontrar no mundo e, consequentemente, sobreviver, temos Ayukawa Ryuji.

Ayukawa Ryuji, personagem trans do mangá e anime Blue Period.

Tanto no mangá quanto no anime não é dito com todas as letras que Ryuji é uma pessoa gênero fluído, mas com todas as conversas que ele tem com Yatora sobre isso fica certamente bastante claro que Ryuji não se conforma com os padrões e muito menos com sua sexualidade, e que não liga para o gênero de outras pessoas quando se fala também de sexualidade.

Ryuji não se enquadra em nenhuma caixinha e fala de forma bastante aberta que se aceitasse o que os outros dizem que ela é ou deve ser, sua vida seria muito mais fácil.

Ryuji usa tantos pronomes masculinos quanto femininos e conversa bastante com Yatora sobre suas dificuldades e sentimentos para o final do anime. É um momento lindo, introspectivo e de grande relevância.

Vamos falar de uma obra de arte e agradecer o Togashi por ela? Vamos sim! Mas também não esqueçam de perturbar esse homem, pois precisamos do final de HunterXHunter!

Alluka Zoldyck, personagem trans do anime e mangá HunterXHunter

No último arco do anime, os espectadores se deparam com uma das melhores personagens femininas desta animação maravilhosa (se você discordar, discorde da sua casa) que é Alluka Zoldyck, irmã do nosso amado Killua e a segunda caçula da família de assassinos. E desde quando era uma criança bem pequenina, Alluka já se mostrava ser uma menina trans.

Mesmo sempre apresentando sua identidade de gênero de forma aberta e sem vergonha nenhuma sobre, ninguém da família a reconhece como menina a não ser seu irmão maravilhoso, lindo e cheiroso Killua, que a resgata desse ambiente, pois além de ser uma personagem trans maravilhosa, também tem um poder que somente Killua consegue compreender. Um kingo sensato, não é mesmo?

Alluka é uma personagem super bem construída e um doce de menina que merece todo amor do mundo.

Ela usa pronomes femininos, mas não liga para gênero nenhum, abram alas para a maioral. Sim ela mesma, nossa queen: Fujioka Haruhi!

Fujioka Haruhi de Ouran High School Host Club

Logo no começo do anime e mangá, quando Haruhi entra para o Host Club, todos os meninos vão aos poucos descobrindo que Haruhi é uma menina — o último deles sendo o pobre do Tamaki como sempre (risos) — mas quando questionada de forma direta sobre isso, Haruhi diz de forma muito aberta e sincera que não sente nenhuma conexão com nenhum gênero, sendo ele masculino ou feminino.

Haruhi sempre demonstra, seja de forma sutil ou bem direta, sua desconexão com sua identidade feminina, embora se refira como uma já que ela de fato não liga e sabe que é mais fácil para as outras pessoas. Todavia, diz que o gênero não define quem ela é e não sente a necessidade de mudar nada em si para tentar se encaixar em nenhum molde ou padrão estabelecido pela sociedade.

O que mostra que muito provavelmente Haruhi possa ser uma pessoa não-binária ou demigênera (que usa pronomes de determinado gênero, mas não é totalmente cis).

Yamato é um antagonista, filho de Kaidou e é um homem trans. Nasceu como menina, porém assim que acha o diário de viagens de Kozuki Oden uma virada em sua vida acontece e ele finalmente se identifica e se encontra como indivíduo. 

Yamato de One Piece

Um fato também muito interessante sobre Yamato, e palmas para o Oda (autor de One Piece) por isso, é que mesmo sendo um homem trans, não se veste como as normas sociais de gênero dizem para ele se vestir. O que são “roupas masculinas”? E “roupas femininas”? Isso não existe em seu vocabulário. 

Ele é um garoto que se veste como quiser e seu pai e sua tripulação respeitam tanto seus pronomes como seus gostos.

Até para os piratas isso não é um problema, mas para você vai ser? Claro que não, né?