Inesperado encontro entre um brasileiro e Red Velvet: entrevistamos Pedro Avellar, que recentemente gravou vídeo com Irene e Seulgi


Um dia você acorda e é recebido pela notícia (e um vídeo!) de que o Red Velvet gravou, dançou, riu e esteve ao lado de um fã brasileiro. A surpresa não é pouca. Menos ainda quando você é este fã.

Pedro Avellar teve a oportunidade de viver o sonho de muitos Reveluvs.

O designer contou pra gente não só sobre sua experiência de gravar com Irene e Seulgi, mas também sobre suas idas e vindas à Coreia, as dificuldades de um estrangeiro no país e as saudades do Brasil.

Ficou curioso? Então segue a leitura!

Primeiramente, gostaríamos de entender melhor seu contexto como estrangeiro na Coreia. Como você chegou a decisão de tentar a vida por aí? A onda Hallyu teve alguma conexão com essa mudança de ambiente?

A primeira vez que vim para a Coreia foi em 2014 através do programa Ciências sem Fronteiras do governo brasileiro. Na época, apesar de já ter conhecimento de alguns grupos e músicas de K-Pop, minha decisão foi baseada principalmente no fato da Coreia ser um grande centro global de produção tecnológica e criativa, o que me permitiria expandir minha área de estudo (design gráfico) com uma nova e mais abrangente perspectiva professional. Ainda assim, eu diria que, de certa forma, fui sim influenciado pelos muitos pontos atrativos da onda Hallyu (desde a música até os dramas e pontos turísticos) ao escolher logo a Coreia dentre os muitos países que o programa oferecia e que também têm uma tradição forte no design como a Alemanha, os Estados Unidos ou o Japão.

Entretanto, a minha decisão final de viver na Coreia foi tomada apenas em 2016 – já de volta ao Brasil depois do término do intercâmbio de 1 ano – quando, baseado em todo o conjunto de experiências positivas (e negativas) que tive durante meu período na Coreia, cheguei à conclusão que queria tentar voltar para ficar de vez e me imergir por completo na cultura e estilos de vida coreanos. Assim, me transferi com bolsa integral (com base em minhas notas) de fato da minha universidade no Brasil para a universidade coreana em que tinha realizado o ano de intercâmbio, a qual continuei a frequentar até minha graduação.

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Quando você foi para a Coreia, qual era seu intuito? Apenas terminar os estudos e ter a dança como hobbie? Ou transformar a dança em algo principal na sua vida, como um trabalho, por exemplo?

Já em meu retorno (definitivo) à Coreia em 2016, meu intuito era, em primeiro lugar, me formar na universidade. Meu curso, que no Brasil era chamado de design gráfico, era equivalente ao curso de communication design na faculdade que frequentei aqui na Coreia. Assim, me formei com sucesso em 2018 após meio ano de curso de língua coreana seguido de 2 anos do meu curso propriamente dito, com aulas de design em coreano.

A dança, que já fazia parte da minha vida desde a época do ensino médio, continuou a me acompanhar na rotina da universidade. Aqui na Coreia, assim como em muitos outros países asiáticos e alguns ocidentais, existe uma forte cultura de “clubes” extracurriculares nas escolas, desde o ensino fundamental até o ensino superior. Clubes de atividades como esportes, dança, artes, música, teatro, hobbies etc – todos mantidos e exercidos exclusivamente pelos alunos. No meu caso, eu me inscrevi no clube de dança da universidade assim que me transferi pra cá e mantive a dança como um hobby ao longo de toda a minha vida acadêmica aqui na Coreia. Porém, isso não quer dizer que levamos na brincadeira! Os clubes de dança preparam performances para os muitos festivais no campus, apresentam em eventos locais (incluindo eventos da prefeitura), participam de apresentações para calouros, fazem competições internas e muito mais. É bem puxado, mas para quem tem interesse em aprender e se divertir com gente que gosta da mesma coisa é uma experiência única e inesquecível. Enfim, nunca tive o objetivo de fazer da dança minha profissão, mas jamais viveria sem ela!

Por falar em trabalho e amor pela música Coreana, estamos curiosos para saber mais sobre sua experiência com Red Velvet. Como rolou o convite para gravar com elas e qual foi sua reação inicial sobre a oportunidade?

Como devem ter percebido no vídeo, eu não tinha a menor ideia de que iria gravar com as meninas do Red Velvet ao vivo e a cores! Foi uma grande surpresa que eu, de verdade, sequer imaginava. No início, fui contactado pela produção do canal apenas para gravar um vídeo de cover do Red Velvet. Selecionamos algumas músicas, eu ensaiei no meu tempo livre do trabalho e combinamos de gravar o vídeo num estúdio de dança da região. O resto está no vídeo para todos verem, haha! Desde o início eu aceitei a proposta simplesmente porque estou acostumado a ensaiar sozinho nos finais de semana as músicas que gosto e aprender as coreografias dos grupos que sigo. E como eu gosto de postar os vídeos dos ensaios no meu Instagram, pensei que seria legal ter um vídeo mais “oficial” de cover assim para guardar de lembrança. Mal sabia o que me aguardava! No fim das contas, foi uma experiência mágica que até hoje não acredito que aconteceu de verdade. Acho que só daqui uns 50 anos a ficha vai cair.

Você viveu algo que muitos fãs fantasiam sobre, um momento desejado por muitos e que, na maioria das vezes, parece realmente um sonho distante demais da realidade. Qual é o sentimento após toda essa experiência?

Sentimento de glória e conquista, haha. Mas, ao mesmo tempo, é muito difícil descrever em palavras ou até mesmo em gestos. Cada vez que paro para pensar no que aconteceu lembro de mais algum detalhe. Foram muitas horas de gravação, mas no momento aquilo tudo pareceu passar em uma questão de poucos minutos. Vou demorar muito tempo ainda para digerir e processar tudo o que rolou. Acima de tudo, fiquei muito contente em poder presenciar e participar de um momento menos rígido, menos calculado e mais descontraído, algo que realmente deu uma impressão de ser mais real e sincero de figuras que são geralmente tão controladas nas maiores minúcias de cada palavra e movimento que nem idols coreanos (especialmente de uma agência grande). Fiz o meu melhor para deixá-las à vontade e para que a conversa fluísse de forma natural. Mais do que ter as minhas curiosidades saciadas ou de demonstrar meu amor de fã por elas, eu queria vê-las sinceramente felizes e se divertindo durante a gravação. Tenho orgulho de dizer que acho que consegui, e espero que os fãs assistindo tenham sentido o mesmo. 🙂

Muitos fãs de K-Pop podem ter uma visão deturpada da vida na Coreia. Desde que você chegou aí (aliás, quando foi?), você teve muitas expectativas quebradas? Poderia contar alguma situação que ilustre isso?

Desde minha primeira vez aqui em 2014 como intercambista, um pouco instável e incerta, até a vida firme e segura que construí para mim hoje em dia, passei por inúmeras situações que vão de incrivelmente positivas e exemplares para “espero nunca mais passar por isso de novo”. E a explicação para esse leque bem diverso de situações é: a Coreia é um país como qualquer outro, assim como coreanos são seres humanos como todos nós. Pode parecer simples ou até brincadeira, mas quando se passa a pensar dessa forma, não há mais espaço para visão deturpada. Isso vale desde a situação mais banal como pegar um metrô lotado na hora do rush e perceber que dentre aquelas milhares de pessoas não tem nem um cidadão com cara de idol, desde parar para pensar e aceitar o fato de que os idols também são pessoas como todos nós, incluindo os defeitos.

Após me formar na universidade aqui, meu primeiro emprego foi numa pequena agência de entretenimento. Era uma empresa que servia como intermediária para as agências menores de K-Pop que têm dificuldades em organizar por conta própria eventos de grande escala para fãs. Eu sempre gosto de usar essa minha experiência profissional para ilustrar o fato de que idols são gente como a gente. Enquanto trabalhei lá e ajudei no andamento de muitos fan-meetings de grupos menos populares, tive muito contato pessoal com os bastidores, o que me levou a ver um lado da indústria que, em retrospecto, preferiria não ter conhecido. Mas a lição importante a se tirar disso não é de desilusão ou de “tudo que você ama é uma mentira”. Pelo contrário, trabalhar na indústria não afetou negativamente meu amor por K-Pop nem por um segundo. A questão – e isso vale para além do K-Pop e inclui toda a cultura, os hábitos de vida e a sociedade coreana como um todo – é tratar com respeito, e não idolatria, de igual para igual aquele e aquilo com que nos deparamos ao chegar na Coreia.

 

Ainda sobre a vida de um brasileiro na Coreia. Você já passou por alguma situação de desconforto por conta da sua nacionalidade?

Nunca tive problemas por conta da minha nacionalidade. Coreanos em geral sabem muito pouco a respeito do Brasil, e por isso tendem a me abordar muito mais com curiosidade e fascínio do que desrespeito ou ignorância.

Qual a comida brasileira que você sente mais falta? Além da comida, claro, tem alguma outra coisa que você sente muita falta do Brasil e que não tenha na Coreia?

A comida da minha mãe!! Se eu fosse listar toda comida brasileira que sinto falta, não terminaria esse ano. De fato, a melhor comida do mundo. A gente até tenta improvisar com o que dá, mas jamais será o mesmo. Além disso, sinto falta de poder resolver meus problemas falando em português. Eu nunca fui de falar com atendentes, bater papo em loja ou de gostar de ir em bancos, prefeitura, embaixada e afins para resolver mil e uma coisas, mas quando tive que fazer tudo isso na minha terceira língua percebi como quem vive no Brasil é sortudo de poder resolver todo e qualquer problema, por mais complexo que seja, tranquilamente na nossa querida língua nativa. Mas ao mesmo tempo admito que passar por esses apertos te faz evoluir como pessoa, e agora eu certamente não teria o menor problema em fazer esse tipo de atividade no Brasil todo alegre e sorridente, haha.

A realidade na maioria das vezes é muito diferente do que imaginamos ou esperamos. Teve alguma coisa ou situação que você presenciou na Coreia que nenhum relato de experiências de estrangeiros que já viajaram ou que vivem na Coreia poderia ter te preparado para vivenciar?

Mais do que estar preparado ou não, acho que o mais importante quando você decide mergulhar de cabeça numa cultura tão diferente daquela na qual cresceu é ter consciência de que experiências, assim como a forma como reagimos a elas, são individuais. Por mais que ler relatos de outros estrangeiros seja uma forma válida de pesquisa e entendimento sobre um país (principalmente quando ainda não se tem a oportunidade de provar por conta própria), no fim das contas não acho certo deixar que esses relatos definam ou moldem por completo a opinião de alguém sobre um lugar ou uma cultura. Alguém que ama K-pop, ama dramas e ama a Coreia quando está no Brasil pode chegar aqui e odiar tudo, ou pode simplesmente não conseguir se adaptar ao ritmo local e voltar. Já outra pessoa  – desinteressada na cultura coreana, mas que por algum motivo acabou vindo passar um tempo aqui – pode acabar se adaptando super bem e ficando para sempre, constituindo família e se fundindo completamente à cultura local. Toda experiência, apesar de similar, é única para os envolvidos. Mas vale lembrar também que a grande maioria dos relatos online vem de uma minoria vocal, o que pode acabar distorcendo a imagem que temos de um assunto (geralmente de forma negativa). As pessoas, em geral, são muito mais propícias a compartilharem experiências negativas do que positivas. Notícia boa não dá discussão! Enfim, recomendo a todos que tiverem o interesse a não desistirem de vir e tirarem suas próprias conclusões aqui mesmo! 🙂

Quer saber mais e acompanhar o Pedro pela Coreia? Segue ele no Insta: https://www.instagram.com/pedroaavellar


Agradecemos a disponibildade do Pedro Avellar.
Entrevista pela equipe de Redação da K4US.
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