Após dois anos de espera, D.P Dog Day retornou em julho com uma nova temporada e deu continuidade aos eventos desencadeados na primeira parte da série. Com um enredo bem estruturado, que conseguiu dar prosseguimento à série sem a sensação de quebra, e uma nova esfera de análise para a trama sem perder o foco inicial, eu pergunto: como seguir em frente após a 2ª temporada de D.P Dog Day? 

Esses homens se juntaram ao exército para defender que tipo de país?

Essa, definitivamente, poderia ser a frase que melhor define o que é D.P Dog Day, principalmente a segunda temporada. Na série, acompanhamos a rotina de homens sul-coreanos durante o período obrigatório no exército, panfletado com a premissa de ser um momento de servir e proteger seu país. Contudo, somos lançados em um universo de bullying, violência e outras formas de crime. Não assusta, então, que o ponto principal da trama seja a captura de soldados desertores. 

Na primeira temporada, Ahn Jun Ho (Jung Hae In) é um soldado recém recrutado que acaba convocado para ajudar seu superior, Han Ho Yeol (Goo Gyo Hwan), a prender desertores. No decorrer dos 6 episódios, assistimos com peso no coração a dura realidade de alguns personagens e o que os leva a tentar fugir do exército, enquanto Jun Ho e Ho Yeol precisam lutar contra seus próprios valores e fazer o que a lei os obriga: condenar esses homens a uma realidade que pode ser ainda pior que a anterior.  

O estopim da primeira temporada é, também, o pontapé inicial da segunda. A partir de um acontecimento bastante traumático no último episódio da primeira, Ahn Jun Ho e Han Ho Yeol irão, nessa nova fase, lidar com as consequências desse evento, não só em suas vidas pessoais, como no trabalho que a divisão em que servem realiza. Se no início D.P dava bastante ênfase à corrupção dentro dos batalhões e ao bullying, agora o foco é maior e mais complexo. Nos 6 episódios da segunda temporada, o roteiro lida com a corrupção do sistema e como o Estado facilita essa lógica ao se ausentar de qualquer tipo de responsabilidade nos casos de violência e crimes dentro do Exército. 

d.p dog day
A dupla Han Ho Yeol e Ahn Jun Ho

D.P Dog Day é meu k-drama favorito. Quando o anúncio da nova temporada aconteceu, fiquei feliz. E preocupada. Como os roteiristas iriam fazer para criar algo que chegasse ao mesmo nível que a primeira temporada? Não seria possível, certo? Errado! 

A série consegue manter uma narrativa que faz muito sentido em sua progressão. As duas temporadas se conectam muito fácil (e rápido). É de se esperar que aquilo que aconteceu no final da primeira, desemboque na mudança de entendimento da realidade para Jun Ho, Ho Yeol e, em última instância, a própria divisão onde trabalham. Não vejo de que maneira isso seria diferente, pois vemos personagens sentindo na pele como a estrutura de poder estatal pode ser avassaladora quando trabalha contra seus cidadãos. E como, muitas vezes, aqueles que estão dentro do sistema não conseguem ir contra ele. Então, é lógico que o direcionamento de D.P fosse mirar cada vez mais próximo à raiz da questão: o Estado. 

Essa impotência é bastante explorada nessa temporada, por sinal, assim como a divisão de protagonismo entre quatro personagens: os queridos Jun Ho e Ho Yeol e seus chefes Im Ji Sup (Son Seok Goo) (de quem eu MUITO desconfiei no início, diga-se de passagem) e Park Bum Gu (Kim Sung Kyun). Cada um, à sua maneira, tentou lidar com o peso da corrupção do Estado e como isso impactou suas vidas.

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Han Ho Yeol, Ahn Jun Ho, Im Ji Sup e Park Bum Gum. Os quatro cavaleiros do apocalipse

Nessa nova etapa, penso que para Bum Gu e Ji Sup é ainda mais difícil. Eles são chefes e precisam comandar mesmo sabendo da realidade suja e corrupta em que estão inseridos. O dilema moral, para eles, parece ser ainda mais pesado. E o pior? Eles sabem que não há muito o que se possa fazer. No entanto, eles tentam. E é essa tentativa que muda completamente o final da série e faz D.P Dog Day ser, outra vez, uma obra-prima extremamente agridoce, em que chegamos tão próximos de um final feliz, mas somos obrigados a nos contentar com um final que é, basicamente, a conclusão mais lógica e condizente com a realidade. 

Para mim, é exatamente essa sensatez que faz a série ser impecável. Isso e o fato da atuação dos protagonistas acompanhar essa atmosfera, claro. Portanto, não embarque em D.P Dog Day se você espera finais felizes. Por aqui, recebemos mães desoladas com os destinos de seus filhos, personagens LGBTQIAPN+ fadados a uma realidade terrível, a justiça não sendo justa e lágrimas, muitas lágrimas.  


Você pode conferir a 2ª temporada completa de D.P Dog Day na Netflix.