“Nunca recebi tantas recusas. O pensamento de que ‘nosso grupo não é atrativo’ me deixa devastado”. Essa fala do Hui, do Pentagon, durante o segundo episódio do reality show “Boys Planet” não pega muitos de surpresa, mas exemplifica bem o quanto o k-pop, enquanto uma indústria, é imensamente cruel e com um prazo de validade para grupos que a cada ano se torna mais curto.

O k-pop já se provou inúmeras vezes como uma indústria extremamente lucrativa, que se expande mundialmente ano após ano. No Brasil, por exemplo, o interesse pelo gênero cresceu 36% em 2022, segundo uma pesquisa do Spotify que divulgou dados de consumo de k-pop ao redor do mundo. Hoje não há uma pessoa que não tenha ouvido falar de BTS ou BLACKPINK.

Consequentemente, o sonho ao estrelato cresceu e empresas das grandes às pequenas com promessas mirabolantes é o que não falta. Somente no ano passado, por exemplo, mais de 100 grupos e solistas de k-pop debutaram. Mas não é difícil chegar à conclusão de que após cinco anos, será possível contar nos dedos quais são os grupos que conseguiram, de alguma forma, manter sua relevância no gênero e não ser engolido por outros inúmeros grupos que devem surgir durante este período.

Tudo no k-pop é de consumo imediato, por isso que muitos desses grupos não sobrevivem. O próprio volume desenfreado de lançamentos promovido pelos grupos é resultado dessa falsa necessidade de imediatismo. Se um grupo de k-pop ousa lançar apenas um disco por ano, já é visto com maus olhos até mesmo por fãs, mas há quem consiga sobreviver fazendo justamente isso.

Ter um ou vários hits também não é garantia de muita coisa, até porque é momentâneo. O próprio Pentagon experimentou isso. Em 2018, uma das músicas mais tocadas na Coreia do Sul foi “Shine”, que simbolizou o auge da carreira do grupo. Quatro anos depois, parece não ter sido suficiente tendo em vista que Hui precisou se submeter a um reality para ter uma nova chance.

A falta de dinheiro também impede que esses grupos de k-pop tenham uma certa longevidade. Fazer a manutenção de um grupo custa dinheiro e chega um momento que a conta simplesmente não fecha. Por isso é comum ver até mesmo grupos com uma certa relevância chegando ao fim pelo fato de a empresa não conseguir lidar com essa manutenção e, consequentemente, cumprir com as expectativas. Em 2022, 19 grupos chegaram ao fim.

Mesmo tendo enfrentado a realidade e sabendo do quão incerto o k-pop é, muitos desses artistas de grupos que não deram muito certo, com ou sem disband, buscam uma nova chance sempre que um novo reality show surge. No “Boys Planet”, são 26 competidores que tanto são ex-integrantes como membros atuais de grupos de k-pop. Além de Hui, temos por exemplo dois membros do UP10TION, Lee Hwan Hee e Lee Dong Yeol, e Keita do Ciipher.

“Há centenas de motivos, mas o maior de todos é que preciso de uma mudança. Quando voltei para o Pentagon depois do serviço militar, percebi que muita coisa mudou. (…) Pensei ‘não há nada que eu possa fazer pelos meus membros’. Essa barreira invisível é alta demais para ultrapassar, então minha única opção foi me juntar ao ‘Boys Planet’”.

Hui em depoimento à produção no segundo episódio do reality.

Esses 26 competidores não foram os primeiros a buscar uma nova chance em um reality show ‒ e muito provavelmente não serão os últimos, infelizmente. Em 2017, todos os integrantes do NU’EST, exceto Aron, participaram da segunda temporada do “Produce 101”. No fim, Minhyun conquistou o nono lugar e conseguiu debutar no Wanna One, que foi o boygroup mais promissor daquele ano e chegou ao fim em 2018.

Já naquela época, os meninos alertavam para o quanto grupos de k-pop antigos podem ser engolidos pelos mais novos, em função da alta rotatividade da indústria ‒ e a falta de interesse das empresas em manter esses grupos ativos, mas isso é assunto para outro dia.

A participação de NU’EST no “Produce 101” deu uma sobrevida ao grupo. Durante a exibição do programa, por exemplo, as vendas de álbuns antigos aumentaram. Após o final do reality, eles conseguiram emplacar alguns comebacks e o grupo chegou ao fim apenas em 2022, 10 anos após a estreia com “Face”.

Não será surpresa caso o mesmo aconteça com Hui. Ele se manteve no Top 9 nos dois primeiros episódios e, no YouTube, sua apresentação de “Shut Down” é a mais assistida do reality até a data da publicação deste artigo, com mais de 1,5 milhão de visualizações. Ele tem tudo, por enquanto, para entrar na formação final do grupo.

No fim, independente de conquistarem alguma posição no tão sonhado Top 9, esses 26 competidores vão agarrar o reality show como se fosse sua última chance. Espero, de verdade, que não seja.

Boys Planet

“Boys Planet” é o novo reality show da Mnet, seguindo os mesmos moldes do “Girls Planet 999”, que irá formar um grupo masculino de k-pop com 9 integrantes a partir de votação popular. O reality vai ao ar sempre às quintas-feiras na emissora, com transmissão global pelo Viki, disponível no Brasil.