“Round 6” é um dos maiores sucessos da Netflix. Com mais de 1,65 bilhão de horas assistidas nas primeiras quatro semanas, a produção mostrou todo seu potencial, logo uma nova temporada foi anunciada, assim como um reality show nos mesmos moldes da série. O próximo passo ‒ um remake norte-americano ‒  veio mais rápido do que imaginávamos. Mas nós precisamos mesmo?

Antes da globalização do entretenimento audiovisual graças aos serviços de streaming, precisamos ser justos em assumir que os remakes se mostraram muito importantes. Às vezes, a forma de contar histórias em alguns países é muito única para se aproximar de um público mais global, então os estúdios buscam dar uma nova roupagem para algumas produções, a fim de repetir o sucesso regional em escala mundial. As versões norte-americanas de “O Grito” e “A Casa do Lago” são os melhores exemplos ‒ uma boa parte do público, aliás, sequer deve imaginar que se tratam de refilmagens.

Importante ressaltar que há também casos em que um estúdio tenta repetir o sucesso mundial em escala menor. A série norte-americana “Jane The Virgin” foi um verdadeiro sucesso ao homenagear as novelas mexicanas e, três anos após seu fim, recebeu um remake sul-coreano em 2022 estrelado por Im Soo Hyang (“Gangnam Beauty”), com algumas mudanças para se adaptar melhor ao mercado.

O tempo também é um argumento justificável para a produção de remakes. Filmes e séries de TV mais antigas não conversam com o público atual muitas vezes pela linguagem audiovisual da época, então o resgate acaba sendo realizado por meio de um remake que tenta atualizar a produção de alguma forma, e exemplos bem sucedidos, como “Nasce Uma Estrela”, e extremamente mal sucedidos, como “Psicose”, de 1998, não é o que falta.

O remake de “Round 6” não se encaixa em nenhum dos argumentos. A produção é recente, traz uma linguagem audiovisual muito mais próxima do ocidente do que qualquer outro k-drama e a barreira de idioma não se mostrou um problema, tendo em vista que se tornou o principal produto da Netflix em 2020.

Então por que fazer? É preciso entender que a Netflix está em busca de uma grande franquia para chamar de sua, visto que “Stranger Things” chega ao fim em 2025. Há algumas produções em potencial, mas talvez nenhuma se compare ao que “Round 6” pode se tornar nos próximos anos.

Sabemos que há séries e filmes que fazem muito sucesso na plataforma, mas são produções que na semana seguinte ao lançamento morrem na praia ‒ devido ao formato de lançamento ‒ e depois não se fala mais disso. São poucas que conseguem estender o diálogo por algum tempo e são ainda mais raras aquelas que sobrevivem ao tempo e conseguem conquistar fãs como “Stranger Things” e até mesmo “La Casa de Papel”.

Apesar de possuir outras fontes de renda, como a venda de anúncios, a Netflix ainda depende muito do assinante para se manter, então sugar o máximo possível de uma marca a fim de fidelizar seus assinantes é o caminho mais fácil. Além de uma segunda temporada, “Round 6” também irá ganhar um reality show nos mesmos moldes da série, por exemplo. Então, criar um remake norte-americano tão prematuramente é só mais um passo dado para fortalecer a marca.

A ideia de um remake tão recente soa absurda. Eu sei e a Netflix também. Por este motivo, a refilmagem deve ter muito mais cara de spin-off situado neste mesmo universo do que a recontagem de uma história que conhecemos há apenas três anos. Oras, David Fincher deve assumir a produção e seria um desperdício ver o cara responsável por “Clube da Luta”, “Zodíaco” e “O Curioso Caso de Benjamin Button” sendo usado para um mero remake.

De fato, economicamente, para Netflix só há vantagens em apostar nesta nova versão, que deve fazer um grande sucesso, mas enquanto espectador não estou muito convencido de que preciso disso. Histórias inéditas serão sempre mais interessantes para o espectador, e não vai ser a versão norte-americana de um sucesso sul-coreano que irá mudar isso.

Texto por Jolu | Revisão por Fran | Equipe de Redação da K4US
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