Deixar sua verdadeira marca em um álbum é talvez um dos pontos mais desafiadores de um grupo de k-pop. Traduzir sua essência por meio de ritmos e letras é uma tarefa difícil ‒ já que a indústria dita muito o que deve ou não ser feito ‒ e o desafio se torna ainda maior quando há o objetivo de deixar um pedacinho de cada membro em todas as canções, fortalecendo suas identidades. “phantasy”, o álbum dividido em três partes do The Boyz, consegue fazer tudo isso. 

O grupo sempre foi muito versátil, indo para um conceito fresh e fofo que poucos boygroups se arriscam, como em “Bloom” e “Right Here”, ao sexy e maduro, como em “Reveal” e “No Air”. Eles sempre conseguiram transitar entre estes dois lados e “phantasy” usa e abusa deste “poder” de serem extremamente versáteis.

A primeira parte, “Christmas In August”, brilha por ser trazer a energia perfeita para o verão, com o single “Lip Gloss” sendo divertidamente chiclete. A faixa é pouco ambiciosa, é verdade, mas traduz o verão, algo que ninguém conseguia fazer tão bem desde o fim do SISTAR e, pensando em boygroups, os exemplos ficam ainda mais escassos.

“Passion Fruit” é outro destaque do disco com vocais de Younghoon, Hyunjae, Juyeon, Q e Sunwoo. Arrisco dizer ser melhor que o single que abre o projeto, mas ao menos a canção não foi totalmente deixada de lado pelos meninos, tanto que recebeu um vídeo especial de performance com uma estética que remete um dos cenários de “Thrill Ride”.

Já a segunda parte, “Sixth Sense”, é a menos interessante das três por ir justamente no mesmo caminho do que todo e qualquer boygroup faz. Entretanto, “Watch It” consegue ser acima da média mesmo sendo o clássico feijão com arroz, provando que o grupo entrega, ou melhor, serve mesmo quando caem numa faixa protocolar.

Outro destaque desta parte é o dueto entre Sunwoo e Eric em “Honey”. A faixa, aliás, ganhou um MV que resume muito bem a letra: dois homens com tesão. Brincadeiras à parte, a música exemplifica o quão bom esse duo funciona junto, né? Bem que poderiam debutar como uma unit paralela ao The Boyz. Eles têm o molho.

O grande Ás da coisa toda é a parte final, “Love Letter”, que trouxe “Nectar” como single, resgatando um The Boyz que desde o primeiro álbum completo, “Reveal”, se tornou raro. Desde o debut, eles entregavam faixas muito alegres, num estilo que boygroup só traz de vez em nunca, mas quando comercialmente o lado mais “maduro” deu um retorno melhor, eles acabaram deixando todo o açúcar guardado num pote à sete chaves.

“Nectar”, na real, simplifica muito bem o que o The Boyz faz de melhor. Sério. É uma canção doce, com uma explosão saborosa no refrão que dá muito quentinho no coração. O MV se torna a cereja do bolo por estar recheado de fofuras. Definitivamente, diabéticos, se afastem daqui porque tudo é muito graciosamente açucarado.

As outras duas faixas complementares, “Hurt Me Less” e “Dear.”, fecham perfeitamente o ciclo todo, fazendo com que a jornada de quase um ano tenha valido muito a pena. “Hurt Me Less”, inclusive, é uma das melhores canções da carreira do grupo. 

A real é que “phantasy” era um projeto que tinha tudo para dar errado. Para conseguir sustentar essa divisão em três partes é necessário não apenas bons singles, mas ótimas bsides também que se completam com suas respectivas partes. A divisão precisava fazer sentido e, no fim, fez bastante.

O único problema de todo o projeto é que sua conclusão não resultou em um compilado em um único álbum, como SHINee fez em “The Misconceptions of Us” e BIGBANG no excelente “MADE”. As três partes compõem algo único e é frustrante ver que não estão juntas para, de fato, termos a experiência musical completa, mas nada que uma playlist não resolva.