Se hoje os videoclipes com bilhões de visualizações são cada vez mais comuns, em 2012 PSY conseguiu algo bem inédito com “Gangnam Style”, se tornando o primeiro a atingir a marca até então inalcançável. De lá pra cá, a forma que o k-pop passou a ser visto pelo mundo mudou por um acúmulo de fatores. Entretanto, é inegável que PSY foi o primeiro a dar o passo mais significativo para que o ocidente cogitasse olhar para a música pop sul-coreana com um pouco mais de respeito.

Já em 2012, não era difícil chegar a conclusão do porquê da canção ter viralizado: era muito inusitado para o ocidente. Se para o nosso lado do mundo, os asiáticos sempre foram enxergados como diferentes, inusitados e até mesmo “esquisitos”, “Gangnam Style” coroou esse pensamento pra lá de xenofóbico e, apesar da motivação distorcida, contribuiu para um sucesso.

“Ser o primeiro artista a atingir 1 bilhão de visualizações no YouTube foi uma sensação extraordinária há 10 anos e ainda é hoje. Ter desempenhado um papel em pavimentar o caminho para a música de todos os tipos transcender as fronteiras é uma verdadeira honra”, afirmou o PSY por meio de um comunicado comemorativo do YouTube.

Da Coreia para o Mundo

Se hoje é comum em cerca de uma semana artistas alcançarem mais de 100 milhões de visualizações no YouTube, PSY demorou cerca de dois meses para chegar em 232 milhões de visualizações, por exemplo, mas já terminou 2012 com um bilhão de visualizações. Para sua época, foi incrível ver que um vídeo do YouTube poderia chegar a um número tão alto.

Nos Estados Unidos, a música ficou em #2 lugar na Hot 100 da Billboard – ficando atrás apenas de Maroon 5 – e o Brasil foi um dos países que mais consumiu o passinho de “Gangnam Style”. Além das paródias – algumas de muito mau gosto, na verdade, a canção foi a mais baixada no país em 2012. Inclusive, no ano seguinte, PSY desembarcou no Brasil para agitar o carnaval de Salvador ao lado de Claudia Leitte.

É fato: PSY se tornou requisitado em todos os lugares. Cantou em programas norte-americanos, como The Ellen DeGeneres, onde dançou com Britney Spears, cantou com Madonna e, é claro, lotou shows ao redor do mundo. Ele se tornou o momento e pode-se dizer que é tratado com uma certa relevância para a mídia até hoje, enquanto o grande público não parece ter o mesmo peso que antes.

PSY conseguiu se manter verdadeiramente relevante para o restante do mundo por alguns anos. O próximo lançamento, “Gentleman”, se tornou um sucesso só pela curiosidade quanto ao que o artista poderia entregar após “Gangnam Style”. Foi um sucesso menor, mas não deixou de ser um hit, tanto que entrou para o Top 5 da Hot 100. “Daddy”, que conta com vocais da CL, do 2NE1, também chamou a atenção, mas fez um barulho menor comparado com as anteriores.

De certa forma, para o público ocidental, PSY sumiu desde então. O cantor acabou se tornando novamente mais de nicho, assim como o k-pop, e focou em outros projetos, como a criação de sua própria empresa, a P Nation, em 2018. A empresa acabou se tornando lar para HyunA, Dawn, Heize e Crush.

Celebração do gênero

O EMA foi o primeiro grande aliado quanto ao reconhecimento do k-pop no ocidente. Ainda em 2012, no auge de “Gangnam Style”, PSY se apresentou na celebração de música europeia e ainda levou o principal prêmio da noite, Melhor Vídeo.

Posteriormente, em 2013, o EMA criou uma categoria para celebrar o melhor ato sul-coreano. Na época, concorreram U-KISS, SISTAR, BOYFRIEND, BAP e o vencedor EXO, que também levou Melhor Artista Asiático e Melhor Artista Global. Quem se lembra do grupo interagindo com o Fresno sunbaenim?

O EMA mantém a categoria até hoje, mas não é a única premiação ocidental que volta um pouco seus olhos para o k-pop. A Billboard foi a próxima a dar reconhecimento para o gênero, em 2017, com o BTS na categoria Top Social Artist. A revista, inclusive, já havia criado em 2011 uma parada musical exclusiva para o pop sul-coreano.

BTS no Billboard Music Awards 2017

O VMA também acabou criando uma categoria dedicada ao k-pop e, sinceramente, não surpreenderia caso o Grammy fizesse o mesmo, visto que para a indústria fonográfica local, é mais cômodo separar do que, de fato, indicar e premiar nas principais categorias.

A verdade é que o gênero deu passos lentos no ocidente – as principais conquistas são mais recentes. Investimento por parte do mercado sul-coreano aconteceu. É só voltar no passado, antes mesmo de “Gangnam Style” e lembrar de Wonder Girls fazendo música com o Akon e SNSD arriscando versos em inglês para “The Boys”. Como também BoA, trilhando o caminho nos EUA quando isso sequer era cogitado pelo k-pop no geral. E não posso esquecer de 2NE1, que conseguiu estourar a bolha do k-pop logo nos primeiros anos após o debut.

O cenário realmente mudou?

PSY deu uma visibilidade para o gênero que até então estava nichado e, consequentemente, agregou inúmeros fãs que acabaram conhecendo novos nomes na época como HyunA, que participa tanto da versão principal de “Gangnam Style”, como em uma versão alternativa, “Oppa Is Just My Style”, que usa seus vocais.

Apesar desse momento chave em 2012, o k-pop só passou a ser enxergado com uma verdadeira seriedade – tanto pela mídia, como pelo público – nos últimos três anos graças ao BTS. Hoje o grupo é um dos maiores nomes da música mundial, o que acaba abrindo várias portas para os demais grupos que tanto querem ter visibilidade internacional como conquistar o mercado fonográfico norte-americano.

Esse espaço conquistado pelo BTS e, consequentemente, para outros grupos, só foi possível graças ao sucesso de PSY. Suga, membro do BTS, tem plena consciência disso. “Ele abriu o caminho para o K-pop nos EUA, o que permitiu que (BTS) seguisse esse caminho mais confortavelmente”, disse em um vídeo de bastidores de “That That”, música que os dois colaboraram para o último álbum do PSY.

Outro ponto importante é que a mídia norte-americana entendeu que o k-pop é benéfico para audiência, independente de qual grupo ou artista seja. Por isso, está cada vez mais comum ver nomes como TWICE, Stray Kids, SEVENTEEN e TXT se apresentarem e, às vezes, serem entrevistados em programas norte-americanos. Até mesmo indicações acontecem em busca de audiência, mas isso é papo para outro dia.

Esse entendimento da mídia vai para além da TV, na verdade. Hoje temos vários veículos de comunicação dispostos a fazer uma cobertura extremamente competente para o gênero. Deixou de ser apenas nicho e acabou se tornando uma editoria dentro de jornais. Isso só soma ao k-pop.

Na real, o momento atual do k-pop acaba sendo um pouco similar com o de meados de 2012. Porém, nós precisávamos que um homem de terninho azul e uma dança contagiante abrisse as portas para o grande público e contribuísse para que o gênero tivesse o grande reconhecimento que possui hoje.