República Democrática da Coreia: democrática, mas até que ponto? No dia 08/09 deste ano Song Iljong, integrante do Partido do Poder Popular (People Power Party) — partido este que é considerado de extrema direita e que está agora no poder do país — através de sua conta no Facebook fez um pedido para o Ministério da Defesa Nacional pedindo que fosse permitido a participação do BTS no da 25ª edição do World Scout Jamboree.
O World Scout Jamboree é um dos maiores eventos do mundo para escoteiros e ocorre a cada 4 anos tendo 12 dias de duração. O evento é bastante importante para os escoteiros e a cada ano um país diferente é escolhido para sediá-lo com base em requisitos e procedimentos bem parecidos com os da Copa do Mundo ou as Olimpíadas, por exemplo. Todavia, o evento que começou no dia 01/08 não parece estar ocorrendo de forma tranquila, já que os seus participantes têm reclamado frequentemente de problemas na estrutura e até mesmo no planejamento da convenção. Indo de problemas de saneamento básico até alimentação e organização das atividades.
A esta altura, em decorrência de tantas análises e pesquisas mais minuciosas e estudos, não é tão difícil chegar a conclusão de que a República Democrática da Coreia é um país bastante complicado e, até mesmo chego a dizer, contraditório em seus posicionamentos e feitos. Mas afinal, que país não tem sua própria cota problemática, não é? Porém as coisas ficam ainda mais preocupantes quando o governo é explorador ao cúmulo, não é democrático como se diz ser em seu nome e, de quebra, querem explorar o BTS mais uma vez.
E além de tudo isso, a Coreia do Sul está passando pelo período de calor mais forte nos últimos 100 anos do país. Com tudo isso dito, a organização do evento só foi tomar alguma medida no dia 07/08 quando foi informado o alerta de um tufão! Devido a isso, o evento que estava previsto para terminar no dia 12/08 terminará um dia antes (11/08) e foi aqui que o governo começou a envolver o BTS.
Com o pedido feito por Song Iljong, começou a haver uma discussão entre o governo e a HYBE para que o BTS participasse dos shows de k-pop que ocorreriam para que eles, literalmente, limpassem e amenizassem o erro e o desastre que esse governo cometeu, e está cometendo, ao sediar este evento.
No momento em que escrevo isso, dia 10/08, felizmente a HYBE disse em nome dos integrantes do grupo que eles não participarão de tal evento. Todavia, chega a ser comicamente absurdo e revoltante o quanto o país aparentemente quer usar os artistas como último recurso para seus próprios problemas e controvérsias, mas quando era para isentá-los do serviço militar obrigatório eles não queriam de forma alguma abrir mão. E digo isso, também, pois eles já isentaram jogadores de futebol e até jogadores de jogos on-line como League Of Legends, mas os integrantes do BTS aparentemente não estavam na lista de prioridades dos mesmos.
Já que não eram tão importantes assim para receberem a isenção, por quê não chamam quem eles de fato isentaram de tal serviço para salvar a tão “integridade” e “orgulho nacional” que eles tanto dizem prezar?
Song Iljong ainda chegou a escrever para a Defesa Nacional em sua rede social: “Espero que o BTS, que atualmente está no exército, tome todas as medidas para aumentar o prestígio nacional da República da Coreia participando juntos.”
Para piorar um pouco mais a situação, um oficial do Ministério da Defesa Nacional chegou a responder de forma positiva: “Se for feito um pedido do Ministério da Cultura, Desporto e Turismo, não há razão para não o fazer porque é um evento nacional”. Um outro funcionário ainda chegou a dizer para a JTBC o seguinte: “Há casos em que se um evento foi apoiado de acordo com a intenção da pessoa ou da agência, mesmo quando servia como soldado general (ele pode acontecer)”.
E a cereja do bolo vem também quando Song Iljong acrescentou em seu pedido a “alfinetada”: “Quando o governo do Partido Democrata estava no poder, eles não levaram o BTS a todos os lugares, incluindo à ONU e à Casa Branca?”
Porém, hoje, dia 10/08, o ex-secretário de Assuntos Presidenciais Tak Hyun Min respondeu às críticas feitas pelo integrante do partido de extrema direita com os dizeres:
“Eu sinceramente espero que o nível de expressão do membro do Partido do Povo, Song Iljong, corresponda ao seu nível pessoal. Não importa que tipo de artista eles sejam, eles não deveriam receber tal acordo. [...] Quando o governo do Partido Democrata estava no poder, o BTS foi levado a todos os lugares, incluindo à ONU e à Casa Branca. Como o país está passando por tempos difíceis e há cerca de 43.000 jovens estrangeiros aqui, não deveríamos ter como missão terminar bem isso, não importa como seja o processo?”
É bom também ressaltar que durante isso tudo, Song Iljong também fez questão de frisar que ele era a favor da revisão da Lei do Serviço Militar que se aplica a artistas e atletas que fazem serviço alternativo com a observação de que era injusto que o BTS, que ganhou tantos prêmios internacionais e fez tanto pelo país, não tivesse o direito ao serviço alternativo. E que ele tinha feito 2 vezes alterações para incluir artistas e atletas da cultura popular ao serviço alternativo ao invés das forças armadas.
Nossa, caro Sr. Iljong, você quer ouvir aplausos ou algum tipo de reconhecimento por não ter feito o mínimo? Pois convenhamos, como é incoerente existir um Serviço Militar Obrigatório num país que se diz ser um Estado Democrático. É simplesmente uma grande comédia, para não dizer desesperador.
De quebra, Tak Hyun Min também acrescentou em sua resposta que o BTS nunca se candidatou para os serviços alternativos e diz: “Song Iljong parece estar muito orgulhoso de ter defendido o serviço alternativo para artistas, mas o BTS nunca se candidatou a serviço alternativo. Até onde eu sei, eles pretendiam sinceramente servir nas forças armadas. Onde eles estão? Estão fazendo agora. Além disso, ‘o serviço alternativo para artistas’ não é um privilégio para eles, mas outra forma de serviço militar que deve ser discutido”, Tak Hyun Min comentou, acrescentando ainda que:
“Ao dizer que fez isso pelo BTS é apenas uma declaração que deixa o BTS desconfortável. Recebemos muita ajuda do BTS durante o governo anterior. Apesar de sua agenda lotada com eventos como um show especial em Paris, um vídeo especial e apresentação nas Nações Unidas, e o primeiro Dia da Juventude, eles dedicaram tempo e esforço. Todos esses eventos foram planejados com antecedência, e a agência e os integrantes tiveram tempo suficiente para discutir e decidir sobre o formulário, que foi criado graças à dedicação e esforço de profissionais competentes. […] Então, simplesmente permitir que eles apareçam no palco sem saber ou pular todo o processo de preparação não é a maneira de mostrar respeito. É violência”.
Tak Hyun Min, ex-secretário dos Assuntos Presidenciais da República Democrática da Coreia sobre o pedido de Song Iljong.
O que se pode tirar de todo este caos ocorrido é o quanto o governo da República Democrática da Coreia precisa urgentemente ter o mínimo do senso e do respeito para com seus artistas e, de quebra, como o próprio ex-secretário Tak Hyun Min disse, é de fato rever a questão do Serviço Militar Obrigatório como um todo, pois é algo ainda absurdo a população sul-coreana num geral ser obrigada a servir na área militar por praticamente 2 anos sem poder sequer questionar.
Uma democracia não é feita da população tendo que servir de forma forçosa o Estado e seus militares. Já passamos dessa época, e isso precisa ser revisado o quanto antes.
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Texto por Annyie | Revisão por Fran | Equipe de Redação e Tradução da K4US
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