Um momento de pequena vitória, porém que deve começar em algum lugar. Em 26 de outubro de 2022 foi estabelecido — finalmente — o dia Internacional da Visibilidade Intersexo, nosso querido “I” na sigla LGBTQIA+. A data foi escolhida no intuito de fazer uma alusão simbólica à manifestação que aconteceu numa Conferência da Academia Americana de Pediatria nesse mesmo dia em Boston de 1996. 

Essa manifestação ocorreu para voz à luta das  pessoas Intersexo, aquelas que nascem com alguma variação genética, física, hormonal ou todas as três juntas e que, do ponto de vista científico social, apresentam  características que “definem” o sexo feminino e masculino. No entanto, essas pessoas biologicamente quebram as mesmas normas que cientistas e a sociedade achavam ser o padrão, pois elas não se enquadram em definições binaristas de gênero. 

O trabalho de conscientização sobre os direitos humanos das pessoas intersexo felizmente tem avançado, assim como o reconhecimento de violências e transgressões que afetam diariamente esse grupo. Porém, ainda poucos países de fato implementaram ações e providências eficazes para impedir práticas desrespeitosas e nocivas que garantam a segurança e os direitos das pessoas intersexo.

Foto em parada LGTBQIA+ onde diz no cartaz: “Intersexo não é invisível”.

A luta é principalmente contra as terapias de conversão, intervenções de hormonioterapias e as cirurgias de “ressignificação” de gênero forçadas com o objetivo dito como para “normalizar” esses corpos. A consciência de que pessoas intersexuais na maioria dos casos é saudável e não precisa se encaixar em padrões sociais, tais práticas se tornam extremamente incabíveis e sem fundamento. Num dado levantado pela ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de 100 mil brasileiros hoje são identificados como intersexo.

Imagem tirada em para LGBTQIA+ onde diz (Bisturis pra trás, a não ser que eu diga” e “Direitos Intersexo são direitos Intersexo”.

Com tudo isso dito, e por mim sempre ressaltado, é sempre importante nós vermos representações de pessoas dos mais diferentes tipos na mídia devido ao alcance que elas possuem com o grande público. E é claro que a gente vai apresentar 5 obras com personagens Intersexo para você conhecer!

Miharu Rokujo é um estudante apático ao mundo ao seu redor. Entretanto, um dia ele é protegido por dois ninjas: Koichi Aizawa e Tobari Kumohira, que são afiliados à Vila Banten. Depois desse ocorrido, Miharu descobre que seu corpo carrega o Shinra Banshou, um pergaminho que contém a arte secreta mais poderosa do mundo ninja de Nabari. Como os Lobos Cinzentos, uma facção associada à Vila Iliga que deseja usar o Shinra Banshou para ganho pessoal, matarão Miharu pela arte secreta, o garoto não pode mais retornar à sua vida normal.

Nabari no Ou é uma série de mangás — adaptada para anime em 2008 — brutal e que mesmo tendo ninjas como base da sua narrativa fantástica, trabalha muito bem com a Inter pessoalidade dos seus personagens e questões completamente recorrentes nos dias atuais sobre a diferença da existência e do viver e, consequentemente, do anseio e medo da morte.

Nesse cenário nós temos Yoite, que usa os pronomes masculinos para se referir a si. Entretanto, ele nasce como uma pessoa intersexo e tem recorrentes incertezas sobre seu gênero e quem ele realmente é. Além disso, devido a sua mãe ter morrido em seu nascimento, ele é considerado um “anjo da morte” pelos demais devido a esta razão.

Mesmo que Yoite tenha vivido uma realidade complicada e totalmente introspectiva, já que ele mesmo começa a se privar de tudo e de si próprio, encontra conforto e coragem quando conhece Miharu e Yukimi, os quais ele estima muito. 

Dividindo o mesmo universo de Cowboy Bebop, nós temos Tuesday: a jovem filha da proeminente política Valerie Simmons, foge de casa em Marte Terra formada para poder tocar música. Em Alba City, o acaso a une a Carole, uma garota aspirante a musicista que acaba de ser demitida de seu emprego e está sem rumo. As duas então decidem fazer música juntas.

Devido a população atual viver em Marte e o planeta ter sofrido uma radiação severa, Desmond se encontra como uma pessoa intersexo nesse cenário distópico que teve sua genética modificada devido a tal radiação. Mas, já digo logo, isso não o abala nem um pouco.

Usando pronomes masculinos, porém abraçando totalmente sua intersexualidade, que já dizia Judith Butler “o gênero é algo performático”, ele usa e brinca com suas roupas, trejeitos e aparência.

Desmond é um personagem muito gentil e querido do universo de Carole & Tuesday que com certeza eu adoraria conhecer pessoalmente para bater um papo em uma cafeteria superfaturada.

O pai de Richard, o patriarca da Casa York, está prestes a se tornar rei da Inglaterra medieval durante a sangrenta Guerra das Rosas. Mas assim como o sucesso é iminente, ele é abruptamente perdido. Mergulhado no desespero, Richard age com vingança e deve enfrentar um novo e poderoso inimigo.

Richard III é intersexo e apresenta fisicamente aspectos femininos e masculinos, se identifica como um homem e esconde seus seios usando panos. Ele possui músculos bem definidos devido aos seus treinos como espadachim, mas é bastante magro também. Na história chegam até a fazer uma comparação: “ele é mais alto que as mulheres, porém mais baixo do que a maioria dos homens”.

No meio de sua jornada, mesmo sendo um personagem sério e que é chamado até mesmo de demônio devido a ser uma pessoa intersexo, Richard se julga muito. Todavia ele acaba se apaixonando por Henry, mas quando os sentimentos parecem ser mútuos e capazes de avançar para além de uma amizade e devoção dos dois, Richard afasta Henry com medo de ele descobrir sobre seu corpo e o rejeitar. 

Ele também faz amizade com Anne, entretanto a mesma nunca descobre sobre o fato dele ser intersexo,  mesmo a relação de ambos sendo tão próxima e cheia de lealdade.

Mais tarde, Richard conhece Buckingham. O jovem que o via anteriormente como uma criança tagarela mas com o passar do tempo o garoto cresce e retorna para Richard com a promessa de se dedicar completamente a fazê-lo se tornar o rei da Inglaterra. Além disso, Buckingham gosta de Richard e mesmo sabendo a verdade sobre si e seu corpo ele não rejeita isso e o acha desejável, algo que Richard não achava nunca ser possível. 

Se você é uma pessoa que ama história, principalmente a dos reinados da Inglaterra, certamente vai se esbaldar lendo ou assistindo Requiem of The Rose King. É de fato de tirar o fôlego de qualquer um!

Vale ressaltar também que a história é baseada em fatos reais e figuras que existiram e contribuíram para a monarquia do Reino Unido, todavia a obra é uma releitura feita pela autora. Sendo assim, nem todas as características dos personagens são coerentes com a realidade.

Observação: Não recomendado para menores de 16 anos.

Rin é uma detetive particular imortal com um gosto por vodca e talento para atrair coisas que acontecem durante a noite. Em seu último caso, ela se encontra no meio de uma conspiração de clonagem. Quando um homem em busca de um selo raro se alista na Asogi Consulting, os cadáveres começam a se acumular.

Eita que vamos agora falar de um antagonista! Apos é o demônio por trás da dolorosa existência de Rin nesse universo e, para o desagrado de alguns, é um ser imortal obcecado em sacrificar Rin à árvore de toda a vida chamada Yggdrasil. O motivo de Apos querer isso é porque desse modo será capaz de — literalmente — devorar as memórias das outras vidas de Rin. Enquanto a menina está lutando arduamente para tentar entender os segredos que se escondem nas suas memórias perdidas e na angústia e dor que elas trazem, mesmo ela não se recordando delas.

E além de todo esse babado aí, Apos além de ser um personagem intersexo possui também característica tanto dos anjos quanto dos demônios. E o que eu acho maravilhoso é que Apos leva o fato de ser intersexo e ter essa dualidade demoníaca e angelical como algo extremamente positivo e único. Até mesmo chega a dizer que esses fatores fazem dela um Deus. 

Mas tirando isso, Apos é um ser bem maligno, viu? Não liga nem um pouco para os conceitos morais dito “humanos” e tem uma personalidade totalmente sádica e individualista. Então já sabem, se um dia vocês se depararem com Apos, corram!

Observação: Não recomendado para menores de 18 anos.

Tooru Kunou se muda para uma nova escola no meio do semestre por motivos pessoais, no entanto a escola é masculina e há uma tradição bastante peculiar nessa tal instituição: os meninos mais bonitos do primeiro ano são escolhidos para se vestir de meninas e animar as pessoas da escola. 

Tooru acaba sendo um dos escolhidos e junto com as duas outras princesas (como chamam os meninos que têm que se vestir de meninas), Yujiro Shihoudani e Mikoto Yutaka, terá de animar os alunos e enfrentar certas dificuldades que encontrará no caminho.

Aparecendo em Princess Princess como personagem secundária, mas sendo a protagonista em The Day of Revolution, outra obra de Tsuda, Yoshikawa Megumi tem uma história bastante conturbada.

Seu nome original era Kei Yoshikawa e era conhecido como um menino rebelde e bastante briguento, mas a vida o pega de surpresa quando em uma consulta médica ele e seus pais descobrem que mesmo parecendo fisicamente um menino, na verdade geneticamente ele é uma menina. Com essa informação, Kei muda seu nome para Megumi — que carrega o mesmo Kanji do nome antigo, achei isso genial — e começa a “viver como uma menina”.

Megumi inclusive tem um relacionamento amoroso com Mikoto, um dos meninos que acaba sendo escolhido para ser uma das princesas da escola. E quando o próprio Mikoto se sente desconfortável com algumas questões, Megumi é a pessoa que o traz força e norteia seus pensamentos. E ele faz o mesmo por Megumi. Os dois têm uma relação muito fofa e cheia de cumplicidade que a gente olha e pensa: “se não for para ser assim eu nem quero!”.

Observação: Não recomendado para menores de 16 anos.