Manifestações de apoio à comunidade LGBTQIA+ são sempre bem vindas de artistas de k-pop — de todo mundo, na verdade — e, hoje em dia, se tornaram comuns. Ainda há muito o que melhorar, principalmente porque segurar uma bandeira durante um show é fácil, bater de frente não. Mas há quase 10 anos, Jonghyun, do SHINee, bateu de frente e deu voz para esta comunidade. 

Em dezembro de 2013, a Coreia do Sul viveu a manifestação Annyeong, ou Você Está Bem? em tradução livre, criada por estudantes de escolas e universidades contra a privatização de rodovias e da saúde no país. Não demorou muito para que esses estudantes escrevessem em cartazes e papéis a frase “eu não estou bem”. Uma dessas pessoas foi Kang Eun Ha, uma aluna transsexual da Universidade de Sungkonghoe.

“(…) Eu não estou bem. Não estou em paz em nenhum lugar, seja qual seja o nome que me chamam. Hoje, a sociedade coreana não consegue promulgar uma lei contra discriminação, mas discrimina minorias sexuais diariamente, lança criticas injustas e odiosas às mulheres, explora a geração mais jovem e força os estudantes a serem empregados ao invés de acadêmicos”, disse Eun Ha em um trecho da carta.

Jonghyun divulgou o depoimento da estudante na íntegra, por meio da sua foto de perfil da sua conta pessoal no Twitter. Ele estava no auge de sua carreira com o SHINee, poderia muito bem não ter se manifestado, mas escolheu tornar público o seu apoio. Foi um ato extremamente transgressor que serviu de exemplo para o seu país. É realmente algo de se ter orgulho.

O cantor ainda trocou mensagens com Eun Ha. Ele se preocupou com a exposição que a estudante teria dali em diante, reforçou o seu apoio e destacou que ela é uma pessoa muito forte por ter dado um depoimento tão importante.

“Estou enviando esta mensagem pois não sei se você vai sofrer com a atenção indesejada ou se meus tweets podem lhe causar problemas. Como um idol, e como uma outra minoria, eu sinto que é uma perda para o mundo não aceitar as diferenças. Claro, não se compara ao que você passou. Eu apoio você por dizer que o diferente não significa que é errado. Eu não acho que você é alguém que precisa ser consolada. Você é muito forte”, afirmou em trechos divulgados pela estudante — via SHINee Subs.

Sempre à frente

Esta não foi a primeira vez e muito menos a última que o cantor tratou de assuntos “espinhosos”. Também em 2013, em meados de julho e agosto, ele atualizou a imagem de perfil com uma foto sua segurando um papel escrito “vá fotografar o Egito e mostre ao mundo algo importante”. Na época, o país enfrentava uma onda de manifestações de apoiadores e opositores ao governo do presidente Morsi, que posteriormente foi deposto.

Já em 2014, durante uma das edições do “Blue Night”, um programa de rádio que ele apresentava, o cantor criticou o fato do governo sul-coreano não ter políticas públicas boas o suficiente para mulheres, em especial aquelas que sofreram durante a ocupação japonesa na Coreia do Sul.

“Em cada ano, em 1º de Março, eu penso emcomo as nossas avós foram forçadas à escravidão sexual por soldados japoneses. Eu não me importo muito com a atitude do governo japonês, apenas estou curioso para saber se o nosso governo tem intenção de resolver este problema. Ouvi dizer que existem cerca de 55 sobreviventes e me pergunto se seremos capazes de vê-las sorrir antes de elas partirem”, afirmou — via Jonghyun Brasil.

Jonghyun também foi voz para campanhas importantes, como a “Don’t Hit, Hug” (“Não Bata, Abrace”, em tradução livre), no início de 2015. Esta campanha foi criada pela Polícia de Busan para proteger as crianças de violência infantil. O cantor usou o seu Twitter para mostrar apoio à campanha.

“Toda violência no mundo só gera mais violência. Eventualmente, o filho que sofreu violência durante sua infância pode acabar matando sua própria mãe. A conformidade do espectador e o silêncio não são histórias apenas de filmes e séries, são a realidade que vivemos. Abrace uma criança com carinho”, disse na época.

Por fim, Jonghyun foi um artista muito à frente do seu tempo. Ele foi duramente criticado por seus posicionamentos, mas até onde foi possível, nunca se deu por vencido. Ele sempre deu voz a quem mais precisava sem pensar duas vezes. Ele ainda faz muita falta. Para todos.

Seja onde quer que esteja, espero que você esteja bem. Em paz.