SLEEQ fala sobre feminismo, Good Girl e veganismo na Coreia. Nessa entrevista exclusiva, a rapper Sleeq divide um pouco de suas experiências no Good Girl, sua caminhada no feminismo e conta até sobre como se tornou vegana.
Feminista e abertamente defensora dos direitos LGBTQ+, a rapper Sleeq ganhou a mídia internacional em 2018, quando rebateu, com rimas, duras e infundadas críticas ao movimento feminista. Desde então, a atenção e admiração do público global sobre a artista vem crescendo, e sua recente participação no programa Good Girl, da Mnet, só potencializou o que já vinha se concretizando nos últimos anos.
Em entrevista à K4US, Sleeq dividiu um pouco de como sua vida mudou de 2018 para cá e como sua trajetória na música e no ativismo social encontrou novos caminhos na TV sul-coreana e no Good Girl. Confira o papo exclusivo!
Primeiramente gostaríamos de dizer que estamos muito felizes de voltar a conversar com você. A última vez que nos falamos foi em 2018, ainda sobre aquela troca de diss track sobre feminismo. Na sua vida pessoal e profissional, o que mudou desde então?
Eu tive mais tempo para focar em mim mesma. Tenho sido apoiada por muitas pessoas desde a diss track, mas penso que não vou fazer outra faixa tão pessoal novamente. Obviamente, “Equalist” é uma música feita com sentimentos de raiva e solidariedade da época, não sentimentos pessoais, mas, para o futuro, quero me concentrar mais na minha própria vida e fazer música, em vez de focar nas ações de outras pessoas.
Fomos pegos de surpresa quando vimos a line-up do Good Girl e nos deparamos com seu nome na lista. Logo no primeiro episódio do programa, os artistas presentes também demonstraram surpresa em te ver como uma das participantes. Como você chegou à conclusão de que seria uma boa ideia participar do projeto? O que te conquistou e te fez decidir pela participação no programa?
Quando o time de produção do Good Girl me ligou, eu decidi participar após ouvir que não se tratava de um programa de sobrevivência/concorrência, mas sim um programa de colaboração com outras artistas do gênero feminino. Quando ouvi a explicação pela primeira vez, não sabia que era um projeto tão grande e pensei que seria um programa que introduziria artistas femininas, que, assim como eu, não aparecem tanto na tv. Então outras integrantes do elenco, e até eu, ficaram muito surpresas durante a primeira filmagem. Eu me preocupei muito comigo mesma depois da primeira gravação, mas me diverti mais do que esperava.
Já de cara, na primeira performance do programa, você foi muito honesta sobre quem você é. Colocou bandeiras do orgulho LGBTQ+ no palco, cantou sobre direitos humanos e minorias sociais. Em algum momento você se sentiu pressionada pelas possíveis reações que sua performance geraria?
Eu venho falando sobre minorias sociais há anos. Participo de vários eventos sobre direitos humanos e sigo falando sobre em entrevistas. Pensei que não teria motivo para ter receio de aparecer no programa. Na verdade, a postura defensiva sobre as minorias sociais na sociedade coreana é muito comum pra eu me preocupar com essas opiniões. Ainda assim, depois de finalizar a apresentação, pensei que o elenco e o público que consomem a música pop poderiam não receber muito bem a mensagem. Enquanto eu me preparava para a apresentação, estava tão nervosa com a performance em um ambiente estranho que não consegui pensar em mais nada.
Em ‘Here I Go’ você advoga pelo feminismo e pela comunidade LGBTQ+, causas que vem ganhando força não só na Coreia, mas em todo o mundo nos últimos anos. Como se deu sua aproximação com essas pautas e, pra você, qual é a importância de levar essa visibilidade para a grande mídia coreana?
Em 2015, a atenção social sobre o feminismo na Coreia* cresceu. Nesta época, comecei a estudar sobre o feminismo e, desde então, tenho encontrado muitos discursos sobre discriminação social com as minorias sociais, como o cross feminismo, feminismo queer e o sem gênero. Fui compositora a minha vida inteira, e continuo vivendo desta forma. Desde que me tornei feminista, não pude deixar de falar sobre o feminismo em minhas músicas, e por isso me tornei rapper feminista. E, felizmente, pude aparecer na TV e me tornar uma pessoa que fala sobre os direitos das minorias na mídia de massa. No meu contexto pessoal, posso dizer que meu modo de vida atraiu a atenção de muitas pessoas, em vez de fazer as coisas intencionalmente para uma causa específica.
*Saiba mais em: Entendendo a nova onda feminista da Coreia
A atenção e admiração do público brasileiro e internacional por você só cresceu desde o início do programa. Seu trabalho atrelado ao comprometimento com essas causas sociais significam muito para as comunidades que você defende. Como você se sente, sabendo que sua visão e seu trabalho estão impactando tantas pessoas em tantos lugares diferentes?
Desde que apareci em Good Girl, eu tenho recebido muitas mensagens de apoio de vários países do mundo. Isto é realmente surpreendente e, às vezes, até mesmo irreal. Eu não sei se os tenho influenciado, mas essa torcida e apoio tem me afetado muito. Eu posso viver com mais coragem. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecê-los.
Sua participação no programa também revelou uma Sleeq que talvez muitos não conhecessem. Quando você topou participar do Good Girl, você já sabia que teria de se adaptar a novos desafios? Qual foi sua maior superação dentro do programa?
Na verdade, eu não costumo assistir TV, então não pensei muito sobre o que aconteceria e como seria vista pelas pessoas que estavam me assistindo, enquanto eu aparecia em um programa de grande escala chamado Good Girl. Quando cheguei ao set de gravação, recebi trabalho para fazer e fiz o meu melhor para cumprir com todas as missões. Felizmente, muitas pessoas gostaram e eu me diverti muito com as integrantes de Good Girl que filmaram comigo. Pessoalmente, foi a primeira vez em muito tempo que participei de um projeto em equipe, o que acabou sendo uma ótima oportunidade para entender a indústria da música de várias perspectivas, diferente de quando faço música como uma artista solo e independente.
Você e as outras integrantes do Good Girl parecem ter desenvolvido uma amizade e uma conexão genuína ao longo dos episódios. Para você foi difícil de se aproximar delas, considerando que são mulheres de personalidades bem diversas? De quem você se tornou mais próxima? Em algum momento você sentiu medo de que se criasse um ambiente de rivalidade feminina?
Podemos acreditar que qualquer um tem sua própria personalidade e contexto de vida, e que todos, de alguma forma, podem se dar bem se não se chocarem de propósito. Como são todas mulheres, nunca pensei que se formaria uma estrutura competitiva, e me aproximei delas para que minha personalidade introvertida não fosse um fardo para outras participantes do Good Girl. Elas eram todas tão calorosas e amigáveis, por isso se davam bem não apenas com alguém introvertido como eu, mas também com todos as outras. Eu me dei tão bem com todo mundo que é difícil dizer que estou mais próxima de alguém. A primeira participante de quem me aproximei foi a Queen Wasabi. Aconteceu de usarmos a mesma sala de espera, então pudemos conversar muito no início.
Em outras entrevistas, já ouvimos que é necessário abrir mais espaços para mulheres na cena da música underground sul-coreana. Você acredita que o programa pode ajudar na criação de redes de apoio formada por mulheres?
A solidariedade, amor, e a química demonstrados pelo elenco de Good Girl deram uma nova diversão para muitas pessoas, comparando com outros programas altamente competitivos. Se programas de colaboração e trabalho em equipe como o Good Girl forem criados e amados, pode-se criar uma nova tendência de na indústria da música pop coreana.
Durante o programa, você sentiu que outras participantes se abriram para conhecer mais das causas que você defende, como o feminismo, comunidade LGBTQ+ e até mesmo o veganismo? Vocês tiveram oportunidade de se aprofundar nesse tipo de diálogo?
As participantes do Good Girl respeitaram meu posicionamento quando compartilhei. No começo, falei sobre tantas coisas ao mesmo tempo que elas podem ter estranhado, mas aos poucos foram se interessando e conversamos sobre feminismo e veganismo juntas durante as filmagens.
Por falar em veganismo, gostaríamos de saber um pouco mais sobre sua relação com a dieta. A Coreia parece ter hábitos alimentares muito baseados no consumo de carne, é realmente assim? Como foi o processo de decisão e adaptação ao veganismo para você?
A Coreia tem um mito carnívoro muito sólido em sua história. Desde o passado, quando era um país pequeno, o desejo de carne estava profundamente enraizado na cultura e, até agora, quando a carne se tornou uma cultura alimentar padrão, a glorificação cultural ao ato de comer carne é muito dominante. Também fui educada desde criança a consumir carne e nunca tive a chance de conhecer a verdadeira natureza dos carnívoros. Então, através da Netflix e do YouTube, pude aprender a verdade sobre o mito carnívoro e logo me tornei vegana. Agora, é a sólida cultura carnívora da sociedade coreana que nos faz desconhecer completamente os mitos carnívoros e o veganismo. Eu acho que, se soubessem, muito mais pessoas seriam vegetarianas do que atualmente.
Sabemos que no entretenimento coreano, a figura feminina que ganha maior atenção são as de mulheres que se encaixam em padrões estéticos/de beleza. Ao longo da sua vida, você sentiu que devia corresponder a esses padrões? Como você se sente, sendo uma mulher que atualmente desafia esses padrões na mídia?
Como uma mulher que vive na Coreia, eu não poderia estar completamente livre da feminilidade social do país. Enquanto estudava o feminismo e os direitos humanos das mulheres, não foi fácil me livrar dos estereótipos sobre feminilidade que estavam na minha cabeça desde que eu era jovem. Se eu aparecesse na mídia/TV há cinco anos, eu poderia ter aparecido muito mais “socialmente feminina” do que sou agora, seja por coerção ou por indecisão. Mas agora estou plenamente consciente da percepção da minha aparência pública e da percepção social, que reprime as aparências externas das mulheres; e estou bem ciente do tipo de reação que posso receber quando apareço na mídia/TV. Alguns podem não estar familiarizados comigo e outros podem me criticar, mas espero que alguém possa me ver e ganhar alguma confiança para viver como ela mesma.
Você tentou muitas coisas novas com Good Girl. Você acredita que essa experiência influenciará seus próximos projetos? Quando o programa de TV chegar ao fim, podemos esperar novas músicas ou outros novos projetos?
Depois de aparecer em Good Girl, eu gostaria de fazer uma música como eu quiser. Depois de muitas tentativas, não existe mais o problema de que “as músicas da Sleeq devem ser desse jeito”. E eu quero fazer música com mensagens mais diversas e em diferentes gêneros musicais.
Sabemos que o atual momento que vivemos, impede que isso aconteça logo, mas os fãs brasileiros querem saber: você toparia vir performar no Brasil? Para te incentivar um pouco, vamos deixar aqui as belezas de quatro lugares do nosso país. Qual desses destinos você mais gostaria de conhecer se viesse ao Brasil?
Claro que eu quero performar no Brasil. A participante do Good Girl Jiwoo (KARD) nos contou sobre a grande paixão dos fãs brasileiros. Eu fiquei com inveja dela ter se apresentado aí, e se eu tiver a oportunidade, gostaria muito de me apresentar a qualquer momento, em qualquer lugar do Brasil onde amantes de música se reúnem.
Antes de finalizar a entrevista, fizemos aquele bate e volta de lei para descobrir a primeira coisa que vem a mente da Sleeq quando falamos algumas expressões.
Próxima tattoo: Flor
Uma memória divertida do backstage de Good Girl: Todo mundo viciado no TikTok!
Artista que me inspira: Sun Woo Jung
Uma música que nunca sai da minha playlist: PREP – Cheapest Flight
Uma dica para enfrentar distanciamento social: Assistir Good Girl em casa
Para esta entrevista, convidamos a fanbase khhfemmes para nos ajudar. É uma base de fãs cujo trabalho tem como objetivo promover artistas do underground e, em nome dos fãs e admiradores da SLEEQ, a fanbase deixou uma mensagem para a rapper:
Eu realmente queria poder dizer a ela que ela representa algo muito especial para mim e para khhfemmes. Que ela me motivou e me inspirou por anos com sua música e tenho certeza que não era só eu.
KHH Femmes BR
E que ela saiba que existem MUITOS fãs no Brasil que a amam, admiram e valorizam. Ela é o nosso bebê que sempre cuidaremos, protegeremos e defenderemos!
Agradecemos a disponibildade da Sleeq, sua empresa Daze Alive,
a KHH Femmes BR e Ely, nosso anjo tradutor convidado.
Entrevista pela equipe de Redação da K4US.
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