Quando SHINee chegava ao mercado fonográfico sul-coreano, com a atemporal “Replay”, o k-pop ainda dava os seus primeiros passos para se tornar o que consideramos hoje como uma indústria. O número de grupos era pequeno e o foco ainda era apenas o mercado local. 15 anos depois, perdemos a conta de quantos grupos de k-pop surgiram, quantos terminaram e quantos deles já tentaram se lançar nos Estados Unidos. Uma das únicas constantes ao longo deste período foi SHINee.

Os primeiros anos do grupo foram regados ao R&B, mas foi com uma faixa que flerta com o eletrônico que o quinteto conquistou a Coreia do Sul. “Ring Ding Dong” foi um verdadeiro sucesso. A canção chiclete não saiu da cabeça dos coreanos e os versos viciantes que embalam o pós-refrão a consagraram como um dos principais símbolos da segunda geração do k-pop.

No ano seguinte, SHINee abandonava de vez a imagem angelical, reforçada desde a estreia, para um lado muito mais agressivo com “Lucifer”. Mesmo vazando horas antes do lançamento, o disco também se consagrou como mais um sucesso do grupo e, consequentemente, não demorou para os meninos se lançarem no Japão.

A partir de 2010, os meninos se tornaram verdadeiros príncipes nipônicos. O sucesso no Japão foi tamanho que o quinteto ficou por cerca de dois anos dedicando-se exclusivamente ao mercado japonês, com shows pelo país – e em alguns outros da Ásia, o relançamento de sucessos da Coreia em um novo idioma e o lançamento do primeiro álbum japonês, “The First”. Hit atrás de hit.

Consagrados no Japão, eles só foram voltar os olhos para a Coreia do Sul em 2012 com “Sherlock (Clue + Note)”. É aqui mais um ponto de virada. A faixa-título ainda é uma das produções mais geniais do k-pop por ser a fusão de duas músicas, destrinchadas no próprio disco. Separadas, “Clue” e “Note” parecem canções estranhamente diferentes ao mesmo ponto que soam como complementares.

De “Sherlock” em diante, o grupo se tornou uma espécie de laboratório da SM – posto hoje assumido pelas 300 units do NCT – e a cada lançamento o quinteto se arriscava. A trilogia de 2013, “The Misconceptions Of Us”, por exemplo, é uma piração musical e visual que até a data da publicação deste artigo não houve algum boygroup que ousasse da mesma forma. Foi uma era genial.

O grupo só voltou a ter lançamentos sul-coreanos em 2015, com “View”, um deep house que encanta pela junção dos sintetizadores refinados aos vocais únicos do quinteto. Claro, se comparada com os lançamentos anteriores, “View” não parece ser tão ousada, mas foi uma faixa fundamental para a carreira do grupo que, naquela época, atingia um novo patamar artístico. 

Essa foi a primeira vez, aliás, que o grupo pôde escolher qual canção seria trabalhada como single. Para artistas ocidentais, pode ser mais comum essa liberdade criativa e mercadológica, mas para o k-pop o controle atinge níveis inimagináveis e apenas grupos extremamente bem estabelecidos conseguem. O simples gesto deixou claro o quão no controle o grupo estava da sua própria carreira a partir de agora.

O controle criativo se mostrou ainda mais presente com “The Story of Light”, o primeiro trabalho do grupo sem Jonghyun, que faleceu em dezembro de 2017. Lançado em três partes, a obra chegou a ser criticada e taxada de oportunista, mas foi o modo que o grupo havia encontrado para honrar a memória do cantor, processar o luto e dividir com os fãs, por meio da arte, que este sentimento era compartilhado.

Do pop ao hip-hop, da faixa mais chiclete a canção mais experimental, SHINee consegue transitar entre gêneros como ninguém. Tudo sem perder a essência do que os meninos representam. São poucos grupos que conseguem trabalhar tão bem em conceitos tão distintos e sonoridades tão distantes umas das outras sem perder sua própria identidade. SHINee consegue até hoje.


Texto por José | Revisão por Fran | Equipe de Redação da K4US
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