Na última segunda-feira estreou na Netflix o mais recente filme do queridinho da dramaland Song Joong Ki, “Bogotá: a cidade dos sonhos perdidos”. O longa chegou a ocupar o primeiro lugar no Top 10 Filmes do Brasil e acompanha o jovem Guk Hee (Song Joong Ki) em sua mudança repentina da Coreia do Sul para a Colômbia durante a crise financeira de 1997 que afetou vários países asiáticos. 

Enquanto lida com o choque de realidades, Guk Hee enfrenta vários desafios e impasses para se adaptar. Determinado a refazer sua vida e a de sua família, acompanhamos a transformação do jovem ingênuo e correto em um dos principais contrabandistas de mercadorias de Bogotá.

6/10

Bogotá: a cidade dos sonhos perdidos

Título original: 보고타

Ano de lançamento: 2024

Direção: Kim Sung Je

Roteirista(s): Hwang Sung Goo, Kim Sung Je

Elenco: Song Joong Ki, Lee Hee Joon, Kwon Hae Hyo, Jo Hyun Chul

Duração: 1h47min

Para começar é importante destacar que o filme realmente foi gravado em locações colombianas, em 2021, e acerta ao representar o caos que era a capital de um país latino do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Outro acerto do longa é focar em retratar a vida e realidade de imigrantes coreanos na Colômbia, evitando o erro de contar uma história que não é sua e cair em estereótipos preconceituosos. E, é claro, não posso esquecer da presença daquele filtro amarelado que todo filme que se passa em um país latino tem e que, apesar de ser um estereótipo, não ofende ninguém.  

O contexto histórico usado no longa é bem interessante visto que a crise financeira asiática de 1997 foi uma das maiores enfrentadas pelos países do continente e a Coreia do Sul, ao lado da Tailândia e da Indonésia, foram os mais afetados. A situação foi tão feia que o Fundo Monetário Internacional (FMI) precisou intervir para que a situação se apaziguasse. Muitos coreanos perderam seus negócios, se afundaram em dívidas e migraram para outros países em uma tentativa de se recuperarem. 

A trama principal não é uma surpresa para ninguém: o jovem correto precisa sujar as mãos para sobreviver em uma realidade dura e injusta. Isso normalmente não é um problema, uma boa história não precisa ser sempre surpreendente e imprevisível, ela só precisa ser bem contada e é aqui que começam as falhas de “Bogotá”. 

O filme tem tudo para ser uma daquelas histórias que prendem o telespectador na telinha até o último minuto, mas falha. Falta a carga dramática da história. Principalmente ao protagonista, sua história é um tropo que dá certo, porém as motivações para sua virada de chave de garoto correto para homem ambicioso que quer conquistar poder são fracas e não convencem tanto assim. Faltam motivos para sua fome de poder. 

O mesmo vale para as relações e os conflitos entre os personagens e, principalmente, para as traições entre eles, falta drama, falta sentimento. O filme tem uma boa trama, bons atores, mas falha na execução, não tem aquele sentimento que conecta tudo, não tem alma. Um dos motivos para isso pode ter sido o receio do roteiro em abordar as coisas ruins daquela realidade.

Você não precisa ser muito velho para saber que a Colômbia entre os anos 1990 e início dos anos 2000 sofreu muito com o tráfico de drogas, corrupção e a violência principalmente por causa dos carteis de drogas que existiam no país. E o período da história na qual o filme se passa é alguns anos após a morte de Pablo Escobar, onde o país estava se recuperando de todo o caos, mas ainda tinha que lidar com as disputas entre carteis, traficantes, políticos e a polícia. 

Por isso, não seria surpreendente que um filme que se passe nessa realidade retratasse todas essas coisas negativas, principalmente um filme coreano com essa pegada de ação e crime, afinal, para quem está acostumado com produções asiáticas, cenas de violência mais chocantes e explícitas não são novidade, sendo muitas vezes um grande ponto forte dessas obras.

A impressão que fica é que o roteiro teve receio em pesar a mão nos pontos negativos da realidade que o filme se propõe a retratar e que, talvez, esse fosse o grande “a mais” que a trama precisava para desenvolver seus personagens, afinal, por mais que os crimes cometidos sejam mais brandos, não deixam de ser crimes e a história não deixa de contar com perseguições, tiros, lutas e execuções. Além disso, graças a “Vincenzo”, a gente sabe que Song Joong Ki é capaz de entregar um bom anti-herói.    

Para endossar ainda mais o argumento da falha de execução do longa, o elenco principal conta com nomes conhecidos, presentes em vários dramas de grande destaque e sucesso e que entregam atuações e personagens memoráveis, mas que em “Bogotá” não foram nada além de mais do mesmo. Por exemplo: Kwon Hae Hyo e Jo Hyun Chul estiveram nas duas temporadas de “D.P.” que tem uma trama bem construída e uma carga dramática bem pesada; Lee Hee Joon de “A Killer Paradox” (2024) e “Mouse” (2021), dramas com uma trama complexa e igual carga dramática; além do seu próprio protagonista Song Joong Ki que dispensa apresentações. 

Com um elenco principal desses e uma premissa bem interessante, mais uma vez “Bogotá: a cidade dos sonhos perdidos” tinha tudo para ser mais uma grande produção de destaque, mas que acabou desperdiçando seu potencial. 

É um filme legal, com uma fotografia até bonita e é isso, vale a pena assistir  se você procura por um filme de ação para se distrair ou quer apreciar o trabalho do seu fav Song Joong Ki, mas assista sem muitas expectativas.