Muitas produções são adicionadas e removidas do catálogo da Netflix todos os dias, então é compreensível que alguns lançamentos passem batidos no radar do grande público, e muitas vezes esse é o meu caso também. Entretanto, em um dia que tava zapeando na plataforma vendo os trailers do que vinha aí, me deparei com um novo título estrelado por Kim Woo Bin, “O agente faixa-preta” (2024), e me interessei pela premissa do filme, adicionando na minha lista para quando eu pudesse finalmente assistir.

Ele que é um dos atores mais famosos da Coreia e atrai espectadores para seus trabalhos apenas por ser quem é, pois é quase como se fosse um atestado de credibilidade vê-lo em um trabalho, visto que depois de seu hiatus por motivos de saúde, ele passou a estar em apenas produções selecionadas a dedo.

Dessa forma, pude comprovar mais uma vez como ele sabe muito bem escolher com quem e como trabalha, afinal esse filme foi um dos meus favoritos que assisti esse ano. Mesmo que eu o tenha assistido em setembro e estejamos em outubro, o filme não saiu da minha cabeça, seja pela sua temática ou pelas atuações. Acho que no fundo isso é o papel do cinema, uma ferramenta de justiça social e de entretenimento. Portanto, decidi fazer essa resenha para talvez te convencer a dar uma chance a esse longa de pouco mais de 100 minutos.

[AVISO DE GATILHO] O texto a seguir contém termos sensíveis e que podem servir de gatilho. Por favor, prossiga a leitura com cautela.

A sinopse de “O agente faixa-preta” gira em torno de Lee Jeong Do (Kim Woo Bin), um jovem mestre em diversas artes marciais, como Taekwondo, Kendo e Judô, que só faz coisas que acha divertidas, como jogar online com seus amigos e praticar esportes. Entretanto, sua vida muda quando ele descobre a profissão de oficial de artes marciais, parceiro responsável por garantir a segurança do agente de condicional, que monitora criminosos que usam tornozeleira eletrônica. 

Lá na delegacia, ele conhece Kim Seon Min (Kim Sung Kyun), um dos agentes chefes e mais dedicados em seu trabalho, mesmo com seu corpo franzino e deficiente. Assim, ambos se completam para resolver as violações de condicionais que vão escalonando em uma trama repleta de mistérios, violência e drama. 

Um dos principais pontos positivos do filme é a direção de Jason Kim, que já trabalhou como diretor e roteirista na série “Cães de Caça” (2023) da Netflix e no filme “Corredores da Meia-Noite” (2017). Assim, a forma que Kim filma as cenas de ação causam uma sensação de adrenalina no espectador, algo que é próprio do gênero, principalmente no subgênero Noir, esse que a Coreia do Sul é um grande expoente. Cenas bem coreografadas de luta na chuva a meia luz, em lugares apertados e utilizando aparatos do cenário para brigar são coisas que não podem faltar em um Noir sul-coreano. 

Entretanto, o roteiro e a direção de Jason Kim não iriam funcionar se não fossem os atores. Em especial, o destaque é para a atuação de Kim Woo Bin (“Uncontrollably Fond”) que sabe transitar muito bem entre cenas que exigem comédia ou drama. Woo Bin é uma figura carismática o suficiente para que faça quem está assistindo o filme torcer por ele a todo momento, mesmo que tenha uma presença quase sobre humana, ala aqueles filmes de brucutus dos anos 90, a gente fica apreensivo por ele. Ele já tinha mostrado essas facetas antes, mas desde “Black Knight” (2023) dá para ver como se sente confortável quando está juntando tudo isso em um cenário de ação

Outros destaques para mim foram Kim Sung Kyun (“D.P”), o parceiro do personagem de Woo Bin, e o personagem de Lee Hyun Geol (“Extracurricular”), Kang Gi Jeong , um dos criminosos que estão no centro da trama do filme. Sung Kyun e Woo Bin têm uma ótima química e as cenas em que a relação de confiança entre eles é construída são pontos altos do longa. É bem aquela relação de policial bom e policial mau que vemos muito em filmes estadunidenses que têm agentes da lei como protagonistas.

Kim Woo Bin e Kim Sung Kyun (foto:reprodução)

Já Lee Hyun Geol como Kang Gi Jeong está amedrontador para dizer o mínimo. Esse personagem é uma das coisas mais cruéis e doentes que alguém pode ser, um pedófilo. Para o filme, Lee representa um vilão a altura do personagem do agente de artes marciais, oferecendo uma ameaça real ao bem-estar da comunidade que os personagens estão inseridos. Fora isso, o que me deixou mais aterrorizada foi pensar que esse crime não está só na ficção, ver as cenas em que ele interage com o elenco infantil deixou uma gastura no estômago e abriu debates internos sobre temas que valem a discussão em um âmbito de comunidade, como a ressocialização de condenados e a precarização do sistema judiciário e prisional. 

Vale citar também o elenco de apoio de “O agente faixa-preta”, como os amigos e o pai de Lee Jeong Do, personagem de Woo Bin. Todos eles têm seu momento de brilhar um pouco e ajudar o protagonista em algum momento chave da história. Até mesmo o núcleo da delegacia traz pessoas que tiram emoções de quem está assistindo. 

Então, se você gosta de ação ou é fã dos trabalhos do Kim Woo Bin, com certeza é um filme imperdível. Também, a temática é importante de ser discutida em um contexto global, pois infelizmente a maldade não tem rosto, pode estar em qualquer um. Principalmente sendo uma mulher, a gente desde criança é ensinada a ter medo e “se cuidar”, e mesmo adultas esse medo nunca passa. É difícil viver sempre com a possibilidade de infelizmente virar estatística. Enfim, foi um longa que ficou na minha cabeça até agora e com certeza vai ficar na sua e gerar vários questionamentos importantes. Vale a pena conferir “O agente faixa-preta”!

Não se esqueça, em caso de violência sexual, física ou abuso contra crianças e adolescentes, disque 100. Além disso, se você está passando ou conhece alguém que está passando por algum caso de violência doméstica, familiar ou cibernética entre em contato com o 180. Esse é o canal criado pela Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, que presta assistência qualificada às mulheres em situação de violência. Você não está sozinha! 

10/10

“O agente faixa-preta”

Título original: 무도실무관

Direção: Jason Kim

Ano de lançamento: 2024

Duração: 109 minutos

Produção: Climax Studio, Seven O Six

Elenco: Kim Woo Bin, Kim Sung Kyun e Lee Hyun Geol

Gênero: Ação, comédia, drama e policial

Sinopse: Um talentoso lutador de artes marciais que não resiste a ajudar pessoas em perigo se une a um oficial de condicional para enfrentar e prevenir o crime.

“O agente faixa-preta” é um filme que sabe mesclar muito bem seus gêneros e seus atores representam muito bem todos eles. Além disso, os temas trabalhados no longa são muito importantes em um contexto da sociedade atual.