Após premiações marcadas pelo fenômeno de Parasita, Minari mantém os olhos do mundo nos talentos sul-coreanos.
A ascensão de Minari na temporada de premiações de 2021 certamente levantou uma questão para muitas pessoas: Minari é o sucessor de Parasita?
A pergunta é completamente compreensível. A relação entre os dois filmes definitivamente vai surgir na mídia, principalmente considerando que Parasita se tornou um marco do cinema sul-coreano para o mundo. E, um ano depois, Minari, de Lee Isaac Chung, também vem fazendo barulho.
Os dois títulos realmente trilham caminhos semelhantes. Ambos atraíram a atenção da crítica em festivais de cinema — com Parasita ganhando Cannes (2019), e Minari vencendo Sundance (2020) —, e agora ganham projeção global com as indicações em premiações como Globo de Ouro, Bafta e Oscar.
Mas não devemos esperar que Minari seja um novo Parasita — até porque, não faz sentido reduzir toda a cinematografia sul-coreana a apenas um grande sucesso. Ao invés disso, podemos esperar que Minari se beneficie do legado deixado por Parasita para títulos de nacionalidades menos tradicionais no cinema.
E esse legado se dá por mudanças que antecederam até mesmo o próprio Parasita.
Olhando para trás, a trajetória do filme foi emblemática para um momento no qual tanto a indústria cinematográfica quanto o público exigiam maior espaço para diversidade cultural e étnica. E essa abertura começou dentro dos grupos de jurados, que também não contavam com uma representatividade ideal.
Com vozes mais diversas dentro dos júris, o resultado passou a aparecer na temporada de premiações de Parasita. Agora, na era de Minari, até mesmo nas regras do Oscar, a diversidade é um compromisso. E segue se mostrando eficiente e recompensadora.
Minari: filme faz história nas premiações
Ainda com o mundo todo encantado pelas reviravoltas e surpresas de Parasita, um aspecto específico do filme foi negligenciado dentro das premiações internacionais. Nas redes sociais, em meio às comemorações dos prêmios que não paravam de chegar, o público constantemente questionava: e o elenco de Parasita?
O time entregou uma performance que extrapolou as barreiras de idiomas e fez com que muitas pessoas se entregassem às legendas, como o próprio Bong Joon-Ho pediu em um de seus discursos.
Mas ainda assim, o elenco de Parasita não foi contemplado pelas premiações internacionais nas categorias de atuação.
Em 2021, Minari já encontra um novo cenário e faz história com ele. Youn Yuh-Jung é a primeira pessoa sul-coreana a ser nomeada em uma categoria de atuação do Oscar. Ela concorre à estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante, contra nomes como Glenn Close e Olivia Colman.
Steven Yeun também deixa sua marca como o primeiro asiático-americano indicado na categoria de Melhor Ator da premiação.
No Oscar, o filme contabiliza um total de 6 indicações (mesmo número de Parasita, em 2020), incluindo:
- Melhor Filme
- Melhor Ator (Steve Yeun)
- Melhor Atriz Coadjuvante (Youn Yuh-Jung)
- Melhor Diretor (Lee Isaac Chung)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Trilha Sonora Original
E além do Oscar, o elenco de Minari também vem conquistando os júris de outras premiações. No caso do ator-mirim Alan Kim, a conquista se estende também ao público geral. E seu discurso ao ganhar a categoria de Melhor Ator Jovem no Critics Choice Awards só reforçou isso.
O ator conquistou ainda uma nomeação ao Bafta, premiação conhecida como Oscar britânico. Na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, Alan disputa o prêmio com atores consagrados — e adultos —, como Daniel Kaluuya e Leslie Odom Jr.
Youn Yuh-Jung também concorre ao Bafta de Melhor Atriz Coadjuvante!
Minari é contribuição para Oscar menos branco
No total, Minari contabiliza 44 nomeações, que se dividem entre premiações da crítica e festivais de cinema. E, até então, o filme já conquistou 22 prêmios.
Mas além de números, outro aspecto que Minari potencializa é a diversidade nesses espaços. Como falamos no início do texto, Parasita foi um dos primeiros filmes a explorar esse cenário, e Minari segue seus passos. Ao lado de Chloé Zhao, diretora de Nomadland, o filme de Lee Isaac Chung amplia ainda mais a presença asiática e de mulheres nas premiações.
Minari e Zhao ajudam ainda a tornar o Oscar um pouco menos branco, ao lado do elenco e equipe de produções como Judas e o messias negro, A voz suprema do Blues e O som do silêncio.
Um exemplo forte dessa diversidade é a composição da categoria de Melhor Ator, que, pela primeira vez na história, não tem maioria de profissionais brancos.
Apesar disso, a luta por representatividade dentro das premiações de cinema ainda tem um longo caminho a percorrer.
E não só as premiações de cinema…
Mas também a própria sociedade. É de se refletir que a ascensão de Minari coincida com ataques xenofóbicos a asiáticos em todo o mundo, motivados principalmente pela culpabilização sobre a pandemia.
É de se refletir que Minari — um filme que mostra uma família sul-coreana em busca do sonho americano — faça história no Oscar na mesma semana em que mulheres de ascendência asiática são mortas em tiroteio em Atlanta. A mesma semana em que, em uma série de charges sobre o Grammy, os integrantes do BTS foram os únicos artistas retratados como alvo de violência.
Obviamente, o ódio que pessoas asiáticas sofrem vai muito além dessas três situações. Mas a discussão em torno delas pode ser decisiva para que a sociedade entenda e passe a combater efetivamente o preconceito que essas pessoas enfrentam.
Afinal, Minari é o sucessor de Parasita?
Podemos dizer que sim, em certa medida. Parasita foi um marco que ainda terá muitos sucessores. E até que o audiovisual sul-coreano ganhe destaque frequente na mídia, o longa de Bong Joon-Ho ainda será referência para falar de outros filmes do país ou que retratem sua população.
Por isso é bom se atentar sempre a essência dos filmes, assim as diferenças vão saltar aos olhos facilmente. Minari pode até falar sobre família e condições de vida, como Parasita fez. Mas é um filme completamente diferente. Desde seus temas — sonho americano, imigração, papéis de gênero dentro da família — até os aspectos técnicos, como gênero e fotografia.
Sem contar que, apesar de ser um filme falado em coreano na maior parte do tempo, Minari é uma produção dos Estados Unidos.
Mas mais que isso, Minari é também a continuidade de um caminho. Aquele que leva ao diverso universo do audiovisual sul-coreano.
Texto por Bea | Equipe de redação da K4US
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