Existe idade certa para escutar k-pop? Ou melhor, o que é a “idade certa”? Isso é tão importante quanto parece?

Recentemente, a internet voltou a debater um tema já antigo: “ouvir k-pop na fase adulta”. Enquanto muitas pessoas acham isso um pouco estranho, cogitando que essa é uma idade de responsabilidades e que o k-pop é algo “adolescente” ou até mesmo “infantil demais”, alguns compartilham suas experiências e mudanças com o gênero, seja pela música, artista ou significado que surgiu em sua vida. Contudo, também desabafam como é difícil lidar com comentários que geram até uma certa “vergonha”.


O impacto do k-pop no Brasil começou em 2012 com o lançamento de “Gangnam Style”, do solista PSY, um dos videoclipes mais assistidos do Youtube mundial, mesmo que ninguém soubesse que veio da Coréia. Anos depois, o BTS se tornou popular entre as pessoas, com a mídia apresentando o k-pop como diferente, colorido e eletrizante. Desde então, fãs surgem de todas as partes do mundo, encontrando no gênero seu próprio gosto, identidade e até mesmo lotando shows locais.

A popularidade do k-pop começou, primeiramente, através de jovens e adolescentes que passavam um longo tempo assistindo aos videoclipes, escolhendo o seu favorito de cada grupo e ouvindo na escola durante o intervalo. Assim, era muito comum que este gosto se intensificasse entre essa faixa etária, mas isso não quer dizer que foi sempre assim.

O mundo da cultura coreana é apreciado por pessoas de todas as idades, seja antes ou depois de ela chegar ao nosso país. Atualmente, é mais fácil do que parece encontrar um fã de k-pop, e adultos que curtem o gênero musical estão entrando nesse contexto. Porém, isso muitas vezes pode soar estranho para outras pessoas pela visão de, como dito anteriormente, “ser coisa de adolescente”.

Se identificou de alguma forma? Então não há nada melhor do que trazer para essa matéria quem entende do assunto. Por isso, a K4US conversou com duas pessoas que compartilham desse sentimento de amor e loucura pela música e cultura sul-coreana já nessa fase da vida.


Engenheira agrônoma e gerente de uma empresa no ramo do agronegócio, Luana Lima compartilha de uma grande paixão em meio à rotina agitada: o k-pop! Aos 32 anos, além de uma grande fã de grupos como BTS e SEVENTEEN, ela também faz parte da comunidade de Collectors de k-pop, que colecionam desde Photocards até álbuns de seus grupos favoritos.

Luana conheceu o k-pop em 2016 por meio de suas irmãs. Nos contou que, no começo, resistiu um pouco àquele mundo novo por “ser uma língua e cultura totalmente diferentes”. Isso não durou muito, pois ao conhecer mais sobre o gênero, passou a sentir uma grande paixão pela música sul-coreana. “Eu entrei no mundo collector (colecionador de artigos de k-pop) em setembro do ano passado, que foi quando me tornei Carat e finalmente me rendi ao SEVENTEEN. Foi uma paixão avassaladora e quando descobri o mundo dos cards, não resisti, quis também mostrar o meu amor por eles dessa forma”.

A expressão “amor avassalador” tem o significado de algo que domina fervorosamente, e é isso que vimos quando uma fã como Luana nos explica sobre a diferença que o k-pop faz em sua vida. Ela, assim como milhares de k-poppers em sua faixa-etária, tem suas paixões particulares que fazem aquela diferença, e a idade não é um empecilho. Segundo ela, o k-pop apareceu na idade certa, e lhe ajuda com muitas situações. “Sempre que estou triste ou cansada demais, é só ver uma perfomance dos meninos ou ouvir uma música deles que o meu mundo melhora 100%. Ou seja, eles me dão a energia necessária para aguentar a rotina da fase adulta”.

É importante ressaltar também, segundo o relato da nossa entrevistada, que não é porque a vida adulta traz responsabilidades que os seus gostos precisam ser deixados de lado. Existe a união e o equilíbrio, e quem disse que não dá para fazer um bom trabalho com alguma música sendo sua trilha sonora? “É até engraçado pensar que no trabalho sou líder de uma equipe e em casa sou uma fã/collector de grupos de k-pop, mas acho que tudo com equilíbrio tem como ser aproveitado da melhor forma” conclui.

“Se joga com tudo! Ninguém tem nada a ver com o que ouvimos e curtimos. Eu acho que essa é a beleza de poder curtir algo depois dos trinta, já temos maturidade para dizer o que pensamos e defender o que sentimos, e claro, sustentar tudo isso. Então, se você curte e se sente feliz, o que importa a opinião dos outros?”

Além disso, Luana comenta sobre a maturidade pessoal, em que não existe nem tempo para começar a gostar e muito menos para deixar de curtir. “Eu acredito muito que tudo são fases na vida. Hoje, com 32 anos, me sinto feliz ouvindo k-pop e colecionando cards, mas pode ser que isso mude daqui um tempo, e tá tudo bem! […] e se você tem 20 ou 50 mas está no seu momento de curtir, não acho nada errado. O importante é fazermos o que nos deixa felizes”.


Suzy Lopes, de 58 anos, já é conhecida entre os k-poppers, chamada carinhosamente de “Omma” em referência ao seu canal no Youtube intitulado “Canal da Omma” que atualmente conta com mais de 9 mil inscritos.

Fã de k-pop e k-dramas de carteirinha, Suzy teve o primeiro contato com o gênero em 2015 após assistir o drama “To the Beautiful You” e, ao se interessar por um dos atores, decidiu pesquisar e saber um pouco mais sobre sua carreira. Adivinhem? Ninguém mais e ninguém menos que Choi Min Ho, do SHINee. Ela conta que, ao descobrir que o artista fazia parte de um grupo de “k-pop”, a palavra era bem curiosa. “ Ring Ding Dong” foi um tiro no meu coração. Me apaixonei na hora, comecei a ouvir tudo do SHINee e a pesquisar sobre outros grupos. Lembro que o segundo grupo que conheci foi o BEAST, hoje HIGHLIGHT, e me apaixonei por eles!”. O resultado disso tudo foi uma paixão, mais uma vez, avassaladora pelos doramas e, mais ainda, pelo k-pop e a cultura da Coréia.

“Eu diria (para as pessoas mais velhas que querem começar a escutar k-Pop) “vai com Deus, mas vai!”. Infelizmente hoje as pessoas dão mais importância às críticas desconstrutivas do que as que te dão um “UP”. Eu sigo aqui levando meu conteúdo para galera mais nova poder ter contato com pessoas mais velhas que curtem o que elas também curtem na mesma intensidade.”

Em uma visita a São Paulo para as comemorações do Ano Novo Chinês, participou de uma entrevista para o youtuber Edson Woo. Para sua surpresa, o vídeo foi um sucesso! Muitas pessoas comentavam o quanto era incrível ver uma pessoa mais velha acompanhando o k-pop e que era muito inspirador.

Suzy se tornou uma grande referência tanto jovens como adultos que estavam conhecendo esse novo mundo. Desde então, disse que recebe muito mais carinho do que hate, mas sempre existem pessoas para comentar alguma coisa maldosa em relação a sua idade. “Me doeu mais pelas pessoas que são adultas e têm vergonha e medo de julgamento desse tipo e deixam de aproveitar o que o k-pop traz de bom para elas. Mas não dou atenção, prefiro gastar minha energia com coisas positivas!”.

Precisando lidar com problemas pessoais e síndrome do pânico, Suzy conta que a música coreana apareceu na hora certa em sua vida e, por isso, se tornou tão importante, dizendo que foi a “bóia” que a impediu de se afogar, dando a ela um fôlego. Aproveitando disto, dos doramas, eventos e descobrindo mais sobre a Coréia, como o idioma e a culinária, as forças para conseguir sair de casa voltaram.

“Tudo aquilo que era preenchido com angústia; ansiedade; sofrimento e medo, foi substituído por alegria; diversão; prazer e conhecimento. Posso te dizer que quando estou ouvindo k-pop, eu sou a pessoa mais feliz do mundo.”

Chamando o gênero de atemporal e com um estilo universal, Suzy prova que chegar ao k-pop não te faz querer sair dele, principalmente com a mudança radical que gera em sua vida, mas que é muito difícil lidar com as opiniões alheias. Mesmo assim, ela hoje continua firme e forte em sua paixão, aproveitando de uma viagem dos sonhos a Coréia do Sul e desfrutando de um dos melhores momentos na sua vida. Vem depois contar tudo o que aconteceu por aí, viu, Suzy?


“Existe idade certa para escutar k-pop?”. Deixamos a pergunta para você refletir sobre. Apesar de ser a frase principal da matéria, ela não é a mais importante. Afinal, ninguém pode pautar o k-pop como um gênero adolescente, tão quanto ninguém deve associar idade ao amor pelo que gosta. O k-pop está aí não apenas como um estilo musical , mas algo que faz as pessoas felizes. Talvez você seja feliz lendo quadrinhos, gostando de artistas dos anos 80, jogando um videogame no sábado a noite, assistindo futebol ou ouvindo um bom k-pop. E está tudo bem!

Independente de como você enxerga a resposta dessa pergunta, lembre-se que nenhuma faixa etária é tão importante quanto o seu amor e bem estar consigo mesmo.

Texto por Sabrina | Revisão por Fran | Equipe de Redação da K4US
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