Neste dia das mulheres, trazemos a seguinte reflexão: não é mais novidade que a indústria do KPOP pode ser bastante cruel. Semanalmente nos deparamos com notícias e mais notícias de brigas por direitos autorais, contratos abusivos e desabafos de artistas. Sofrimentos que muitas vezes são silenciados e velados pela própria empresa e pela mídia, que encoberta certas situações.
Atualmente, conseguimos ter mais acesso e conhecimento sobre esses abusos que não são mais resumidos a desabafos em letras de música. Artistas ganham cada vez mais coragem de expor o que passaram, e ainda passam, enfrentando os demônios do trauma e da insegurança.
Na indústria do entretenimento, os girl groups e as artistas solo sofrem pelo fato de serem mulheres resistindo em uma sociedade extremamente patriarcal e machista. No k-pop, temos casos de fotos e filmagens molka, hipersexualização, conceitos sexy que muitas vezes são impostos e não consentidos, dentre muitos outros, além da pressão estética e comportamental que também sofrem.
Porém, neste post não iremos nos aprofundar sobre isso, mas sim exaltar e mostrar artistas, dentro do entretenimento sul coreano, que dão a cara a tapa para exporem suas inseguranças, servindo de inspiração e resistência para outras mulheres.
Chungha
Recentemente, Chungha lançou seu primeiro álbum completo, “Querencia”, mostrando seu talento e versatilidade dentro da indústria do k-pop.
Em uma das faixas do álbum, “X”, Chungha canta sobre como sua caminhada artística não foi fácil. Muito foi teorizado sobre a letra, inclusive. O consenso, no entanto, é que ela foi inspirada no período de trainee da artista e, especialmente, sobre o momento em que foi rejeitada por JYP. Se isto é verdade, ou não, ainda não temos a resposta. O que sabemos, porém, é que a letra dessa música traz uma reflexão sobre as dificuldades da artista e, de quebra, uma mensagem muito clara sobre como relacionamentos devem funcionar:
Você tem que me amar no meu pior
Chungha, “X”
Se me quiser no melhor e ter tudo
Eu dei tudo de mim pra você
Eu dei tudo de mim pra você
E ainda termina com a alfinetada:
Você deveria ter me amado no meu pior
Chiungha, “X”
Agora você acabou de me assistir na tela da sua TV
CL
Reconhecida por sua força e talento, CL fez do mundo seu palco e luta desde sempre contra os estereótipos criados sobre mulheres asiáticas. Desde o 2NE1, a rapper solta o verbo em seus raps firmes e honestos. The Baddest Female, um de seus maiores sucessos, é como um grito de liberdade, liberdade de expressão que serviu como inspiração para muitas pessoas. Foi com ela que CL começou a ganhar notoriedade como artista solo.
“Essa é para todas as ‘Garotas más’ do mundo
CL, “The Baddest Female”
Não má no sentido ruim, mas má no bom sentido, sabe?
Vamos ascender isso e deixar queimar
Como se nem ligássemos
Deixe que saibam o quão bom é ser malvada/braba!”
Desde 2016 em carreira solo ocupando espaços diversos em busca da realização de seu sonho vislumbrando o mercado norte americano, CL viu suas habilidades serem constantemente postas à prova, sua capacidade como musicista, sua imagem e toda a sua carreira serem contestadas e até mesmo ataques à sua aparência foram feitos. Nesse momento, seu discurso sobre body positive, deu voz e representatividade, mais uma vez, a muitos fãs pelo mundo todo.
Em suas músicas, carregadas de discursos importantes, CL fala sobre si com confiança e atitude, mandando um recado bem dado aos que insistem em tentar borrar o que acredita, assim como em ‘Hwa’, que tem muitos significados, um deles, florescer/renascer .
“Haters vão sempre odiar,
CL, “Hwa”
Não vou mudar minha atitude
Inveja e ciúmes são sombras do sucesso”
Na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de inverno de Pyeongchang, CL deixou sua marca na história, cantando hits de forma empoderada e emocionada, levando não só o estádio todinho, mas os telespectadores do mundo à loucura.
Provando ainda mais suas conquistas em espaços que antes não eram e ainda não são ocupados por artistas asiáticos em geral com tanta frequência, a artista entrou para a lista da “Forbes Under 30”, lista que destaca os mais brilhantes empreendedores, criadores e game-changers de até 30 anos que revolucionam suas áreas e transformam o mundo, por seu feito.
Ainda sobre conquistas, no mês de homenagens prestadas às mulheres, CL ganhou destaque na lista “Primeira de Muitas”, criada pelo Google, para enaltecer grandes feitos por mulheres do mundo inteiro, ela aparece na pesquisa por “primeira mulher rapper”.
Deixamos aqui, o melhor conselho que CL recebeu, segundo ela, que vale muito:
“Faça o que te deixa mais confiante”
CL
Lee Hi
Uma das músicas que emocionam as performances de Lee Hi é “Breathe”. A letra, que fala sobre a experiência de uma Síndrome do Pânico, foi composta por Jonghyun e sua vivência de ter a doença.
Inspire profundamente
Lee Hi, “Breathe”
Até que o seu peito comece a ficar
Dormente
Expire até que comece a doer um pouco
Até você sentir como
Se não houvesse mais nada dentro de você
Desde então, Lee Hi vem falando abertamente sobre doenças mentais e a sensação de solidão que muitas vezes abarca a vida dos artistas. Em “HOLO”, música lançada pela cantora no meio do ano passado, explicita esse desabafo e o consolo a si mesma.
Em um vídeo do canal do YouTube “odg”, Lee Hi conversa com 3 meninas de idades diferentes sobre seus sonhos e o que as fazem felizes. Nele a cantora expõe o sentimento de solidão que a consome desde que entrou para a indústria de entretenimento. Diz que a solidão a assusta, mas ao mesmo tempo a conforta e que sua música diz muito sobre isso: Está tudo bem se sentir sozinho.
Eu sou preciosa demais
Lee Hi, “HOLO”
Para ficar quieta me preocupando
Olhe para dentro do seu coração
Está tudo bem ser você mesmo
Tem que parar
Sleeq
Rapper bastante conhecida no meio underground, Sleeq usa sua arte para defender bandeiras importantes como a luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ e o feminismo.
Em 2018 Sleeq respondeu à música “Feminist” de San. E com o rap “Equalist”. Batendo de frente com a letra de San E., extremamente misógina, Equalist traz pontos importantes sobre a realidade da mulher em meio a uma sociedade que ainda é machista e patriarcal.
Aliás, Sleeq concedeu uma entrevista à K4US e declarou que se sente bastante insegura quando anda pelas ruas após o lançamento de seu rap. Ainda assim, a rapper continua a trilhar um caminho de resistência na indústria musical e é, também, uma figura com a qual outras mulheres podem se espelhar.
Sulli
Em um meio que preza pela imagem perfeita, emocionalmente estável e equilibrada, Sulli era uma rebelde. A artista se destacava, dentre outros motivos, por falar abertamente sobre suas lutas com questões envolvendo saúde mental e cyberbullying, além de defender, sem medo, o feminismo e os direitos das mulheres.
Em seu último trabalho na indústria da música, Sulli criou Goblin, seu debut solo em que ela interpretava uma personagem que sofria de transtorno de personalidade múltipla. Os fãs propuseram várias teorias e interpretações sobre o MV, todas muito próximas da ideia de que cada personalidade refletia um estágio da carreira e da vida de Sulli.
Parte de seu ativismo era visto, também, no movimento No Bra, que luta pela libertação das mulheres da obrigação social de usar sutiãs. Sulli defendia essa liberdade francamente, buscando a normalização da mulher que não usa sutiã.
Obviamente, seu ativismo lhe rendeu muitos comentários negativos, algo que a jovem já enfrentava desde cedo em sua carreira, mas ela era corajosa e batia de frente com bom humor e respeito. E é desta maneira que devemos nos lembrar dela.
Sunmi
No final do ano passado, mais especificamente em Agosto, a cantora lançou um MV chamado “Borderline”. A princípio haviam especulações sobre uma nova música. Quando o título veio à tona, chocou a mídia por não ter tido promoções e nem spoilers sobre o conceito.
O MV é bem simples e monocromático e pela letra percebemos um desabafo indireto da cantora.
Faz anos tomando Xanax
Sunmi, “Borderline”
E eu fiquei muito melhor
Por que as pessoas continuam dizendo
O que há de errado com ela?
Só pela letra nota-se o teor e a densidade desse grito de socorro. Claro que os fãs de Sunmi se abalaram e muitas pessoas que não conheciam profundamente a cantora também se emocionaram com a letra de “Borderline”.
Meses depois da música ser lançada, Sunmi fez uma participação no programa Running Girls, onde desabafa para outras artistas, que há 5 anos foi diagnosticada com o Transtorno de Personalidade Borderline, uma doença psicológica caracterizada por relações instáveis distorção dos sensos de si próprio e reações emocionais fortes.
Em seu relato, a cantora diz que é uma doença bastante desafiadora não só para ela, mas para as pessoas a sua volta e que ficou aliviada em começar o tratamento para que todos fiquem felizes.
Isso só explicita os anos em sofrimento que Sunmi passou, por ter que se preocupar em como iria lidar com as pessoas e o que iam achar dela. Anos precisando agir de determinada maneira para manter sua personalidade de idol, ofuscando a sua própria e se contendo por conta de sua doença.
Yeeun
Yeeun, conhecida também por seu nome artístico Ha: tFelt, é resistência na indústria musical por ser uma das poucas idols que se pronuncia publicamente sobre suas ideologias.
Em 2018, houve um escândalo envolvendo a Irene do Red Velvet, pela cantora ter publicado que estava lendo um livro chamado “Kim Ji Young, nascida em 1982”. O livro é considerado um romance feminista e pelo simples fato dela ter postado que estava lendo, muitos fãs e pessoas mal intencionadas a atacaram, demonstrando um ódio gratuito e desnecessário.
Sabendo disso, Ha: tFelt disse em uma entrevista que sentiu curiosidade e resolveu ler também. Em suas redes sociais, conta que gostou muito da leitura, pois se identificou com a protagonista. Ao dizer isso publicamente, a artista foi bombardeada assim como Irene, por se declarar feminista.
Yeeun acabou tornando-se uma grande referência feminina no ambiente artístico musical, por suas declarações sinceras e por ser representativa. Ela consegue levar para a TV discussões básicas, ainda que extremamente necessárias para a sociedade, como expor que não concorda que casamento seja necessário e que não irá se casar só porque está em uma determinada idade.
Além disso, a artista lançou um livro chamado “Concealed Thoughts and Emotions”, onde abre sua vida e, segundo sua amiga de Wonder Girls, Hyelim: “fala não só sobre assuntos de família e suas experiências com bebida e cigarro, enquanto integrante de um girl group, mas também sobre sua vida sexual”. Dá para ter uma noção do quanto o pronunciamento de Ha: tFelt é importante por ser referência e inspiração para outras mulheres da indústria de entretenimento sul coreana.
Que você, queride leitore, possa se inspirar nessas mulheres tão fortes e resilientes e enfrentar o mundo com forças renovadas. A nossa luta é importante demais para se resumir a um dia só. Então feliz dia 8, um dos 365 dias da mulher!