Nos últimos anos, os fãs de cultura asiática, em especial os de Boys Love e Girls Love, acompanharam o progresso das produções voltadas ao público LGBTQIAPN+. E não apenas isso, podemos ver que a indústria de BLs e de GLs vêm auxiliando o desenvolvimento sócio-político da Tailândia. E se você está se perguntando como, vem que vou te explicar tudinho 🤩!
Boys Love e Girls Love na Tailândia
Apesar de não ter sido a pioneira na produção de Boys Love ou Girls Love, já que temos os gêneros Yaoi e Yuri popularizados internacionalmente pelo Japão, a Tailândia conseguiu se estabelecer nessa indústria usando como uma das estratégias as mídias digitais, dando aos telespectadores internacionais facilidade de acesso por meio do Youtube.
Sem falar na formação de espaços para que os fãs de outros países interajam com os atores e atrizes pelo Instagram e fan meetings, fazendo com que o país se tornasse o maior produtor e exportador de séries LGBTQIAPN+ no cenário contemporâneo.
Direitos LGBTQIAPN+ na Ásia
Para entendermos melhor como a Indústria dessas produções vem colaborando para as mudanças sócio-políticas na Tailândia, precisamos compreender um pouco o cenário atual da Ásia em relação aos direitos LGBTQIAPN+.
Dos 49 países que compõem o continente asiático, somente Taiwan e Nepal legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo, além de reconhecer a existência de outras identidades de gênero, permitindo com que pessoas transexuais modifiquem documentos oficiais, utilizando seu nome social.
O Japão por sua vez, apesar de não legalizar o casamento homoafetivo, adota em algumas cidades o reconhecimento de parceria. Em contrapartida, países como Indonésia, Arábia Saudita e Malásia detêm até hoje leis que criminalizam a homossexualidade.
Com base nessas informações, podemos dizer que os países asiáticos enfrentam extremos opostos quando se trata da comunidade LGBTQIAPN+. Ok, mas onde que a Tailândia e nossas queridas séries entram nesse meio? 🤔
Soft Power e Influência econômica
Como dito anteriormente, a Tailândia hoje é a maior produtora e exportadora de Boys Love da Ásia, o que acabou impactando positivamente na economia tailandesa, uma vez que diversos países têm comprado os direitos de exibição dos BLs e mais recentemente de GLs, além da realização de fan meetings e shows em diversos países dentro e fora da Ásia.
O governo, que de bobo não tem nada, cada vez mais foi sendo “forçado” a reconhecer o impacto dessas produções no país e utilizar essa indústria para atrair investimentos externos e, claro, fãs que passam a visitar e consumir a cultura e bens tailandeses (séries, filmes, músicas, goods dos casais das séries, culinária, etc.).
Damos o nome dessa estratégia econômica e política de “Soft Power”, em tradução livre “poder brando” ou, nas entrelinhas, “poder cultural” que os países têm de atrair investimento e interesse de outras regiões do globo.
Para exemplificar, temos o caso do acordo feito entre a empresa do querido Saint Suppapong, a Idol Factory (IDF), com a empresa Be Whale para a exportação das produções do IDF para o Japão em todos os seus formatos, seja ela sob demanda, em DVD, mercadorias e mesmo eventos. E só para criar a empresa responsável por este acordo, foi movimentado aproximadamente ฿ 30 milhões de baht, em conversão, cerca de R$ 4,5 milhões de reais no mercado tailandês.
Além das grandes parcerias pontuais, também temos a adesão em plataformas de streaming internacionais, como no caso da Netflix, que do fim de 2023 para cá, já disponibilizou 3 produções, inclusive no Brasil: o filme “ManSuang”, e duas produções da GMMTV, o GL “23.5” e, o mais recente, o BL “Kidnap”.
Então, para facilitar, podemos dizer que a indústria de produções LGBTQIAPN+ se tornou para a Tailândia o que a Hallyu é pra Coreia do Sul.
Apoio governamental aos BLs e GLs
Com um mercado tão bem estruturado e rendendo tantos frutos econômicos, sabemos que o governo encontrou mais que vantagens, assim como investidores locais, mesmo após anos ignorando várias pautas da comunidade.
Na política, foi nas eleições de 2023 que os tailandeses elegeram Pita Limjaroenrat, um Primeiro-ministro abertamente apoiador das causas LGBTQIAPN+. Apesar de não ter assumido o cargo, seu sucessor, Settha Thavisin, desde o ano passado até sua saída no meio deste ano realizou vários encontros com artistas e empresas de BLs e de GLs, para justamente conversarem sobre o impacto das produções na sociedade.
Um desses momentos de interação entre o governo e as produtoras foi a cerimônia de assinatura do Memorando de Intenção, pelo Ministério do Comércio Tailandês e as atrizes Freen Sarocha Chankimha e Rebecca “Becky” Patricia Armstrong, junto com a empresa que as gerencia, a Idol Factory. A intenção do documento é reconhecer positivamente os impactos e visibilidade das produções GL para a sociedade tailandesa.
Esse “reconhecimento” social por parte dos órgãos públicos e da própria sociedade ressalta que para além dos ganhos monetários dessa indústria, os ganhos sociais também são enormes. Afinal, as produções trabalham em prol de representar e incluir essas realidades nas telinhas, instigando discursos que pareciam até pouco tempo estar às margens da realidade. E com a distribuição de forma globalizada, reflete a visibilidade do próprio país.
Em junho deste ano, outro passo foi conquistado nesse sentido: o Parlamento tailandês aprovou o projeto de lei que concede aos casais homoafetivos os mesmos direitos ofertados aos casais heterossexuais, como o casamento. Deu um outro ânimo à indústria, que se vê ainda mais consolidada, mas ainda com demandas por lutar.
Portanto, com uma indústria estabelecida e fortalecida, um governo até então favorável à comunidade e a pressão social por melhorias, temos o palco perfeito para que a indústria de BLs e GLs cresça ainda mais, da Tailândia para o mundo.