Com a popularização da cultura asiática pelo ocidente, seja por meio do k-pop, dos animes, webtoons e doramas no geral, muitas portas foram abertas para inúmeros artistas asiáticos, principalmente os cantores. Diversos gêneros musicais têm se popularizado para além do k-pop, como khh (korean hip-hop), k-r&b, k-rock, j-rock e etc.
Nessa pegada, um estilo que tem se destacado por sua história, evolução e variedade de artistas, mas que muitas pessoas podem ainda não conhecer é o Mandopop.
Mandopop é uma abreviação para Mandarin Popular Music e apesar de ter sua história começando lá na China por volta dos anos 1930, nos dias atuais o grande responsável por seus desenvolvimento e popularização tem sido Taiwan. E se você está se perguntando como tudo isso começou, vem comigo que vou te contar!
O COMEÇO
Lá no começo de tudo, na China dos anos 1930, o Mandopop se chamava Shidaiqu (時代曲) e consistia em uma mistura do jazz ocidental e de música folk chinesa, se caracterizando por vozes agudas e pela presença de instrumentos tradicionais chineses como erhu, pipa, e sanxian. Além disso, era majoritariamente cantado por mulheres. Outro detalhe interessante é que um pouco antes, nos anos 1920, ocorreu uma movimentação para que as produções culturais chinesas, seja na TV, no rádio ou nos livros fosse feita em mandarim, por ser um idioma considerado mais educado em relação aos vários dialetos falados na China. Esse fato contribuiu para que as produções do, até então, Shidaiqu fossem feitas em mandarim.
Até os anos 1950, o Shidaiqu deslanchou pelo território chinês, chegando a outros países como Taiwan, Cingapura e Hong Kong. Além disso, foi nessa época que os grandes pioneiros do Mandopop surgiram, como os sete artistas Zhou Xuan, Gong Qiuxia, Bai Hong, Yao Lee, Bai Guang, Li Xianglan e Wu Yingyin, conhecidos coletivamente como “Seven Great Singing Stars”, (“As Sete Grande Estrelas Cantoras”, na tradução literal) ou a cantora Yao Lee, conhecida por sua voz inconfundível e que se faz relevante até hoje, presente na trilha sonora da comédia romântica “Podres de Ricos” de 2018, com o hit “Rose, Rose, I love you” (玫瑰玫瑰我爱你).
Mais tarde, mesmo com a grande popularização do Shidaiqu dentro e fora da China, com a ocorrência da Segunda Guerra Sino-Japonesa, da Guerra Civil Chinesa e a classificação do Mandarin Popular Music como conteúdo indecente pelo Partido Popular Comunista, os amantes do gênero foram obrigados a parar de consumir suas queridas músicas.
A CHEGADA DE TAIWAN
É nesse contexto que, por volta de 1960, o grande centro de produção musical deixa de ser Shanghai e passa a migrar para Hong Kong, a princípio. É aqui também que o gênero começa a passar por mudanças, onde artistas honcongueses passam a tomar a cena, adicionando seus aspectos culturais.
Nessa época o cenário musical taiwanês ainda estava em desenvolvimento, sendo influenciado pelo dialeto originário taiwanês, o Hokkien, e pelo Japanese Enka Music, que tem seus pés na música tradicional japonesa. Este último fato aconteceu por influência da ocupação japonesa em Taiwan entre 1895 e 1945, colaborando para a mescla das culturas. Entretanto, com a Lei Marcial de 1949 foi decretado que as músicas populares em Taiwan deveriam ser todas exclusivamente em mandarim.
Assim, a música taiwanesa possuía seu próprio estilo, que consistia na mistura entre composições musicais chinesas, japonesas e ocidentais. E a partir dos anos 1970, a indústria musical de Taiwan decolou, chegando com tudo no mercado do Mandarin Popular Music, sendo o grande nome dessa época a cantora Teresa Teng, que se tornou uma das pessoas mais influentes da época não só no cenário musical, como também na política e cultura como um todo, reconhecida até hoje como “Asia’s eternal queen of pop” (“eterna rainha asiática do pop”, na tradução literal).
SÉCULO XXI: A ERA DE OURO DO MANDOPOP
Com todo o boom da música taiwanesa no cenário musical asiático, foi por volta dos anos 1980 que esse movimento musical passou, finalmente, a ser chamado de Mandopop. Nesse momento, o gênero já havia se expandido para o sul da Ásia atingindo países como Malásia e Cingapura, por exemplo. E em 1990, o Mandopop já era um grande sucesso asático, com várias superestrelas e grandes hits nas rádios e televisão.
Desde então, a ascensão acelerada do Mandopop vem acontecendo e ainda não possui previsão de parar. Seja qual for o motivo do grande boom de cantores do gênero nos anos 2000, a verdade é que esses artistas souberam mesclar suas influências musicais e culturais e aproveitar o caminho aberto pelos pioneiros do gênero, de modo que suas músicas se tornaram sucessos e se fazem relevantes até os dias atuais.
Surgido dessa época, o grande sucesso do Mandopop do início dos anos 2000 foi o cantor Jay Chou, que é atualmente conhecido como o “rei do Mandopop moderno” e talvez esse seja o nome mais conhecido dentro do gênero até hoje, visto que ele foi e é referência para muitos artistas das gerações mais atuais dentro do estilo.
Nessa época também ocorreu a popularização dos “ídolos de qualidade”, que consistiam em cantores bonitos, talentosos musicalmente e bem educados, juntamente com a realização de várias competições musicais na TV, sendo a receita perfeita para conquistar fãs.
Mais tarde outra vertente musical ganhou espaço dentro do Mandopop, que foi o indie. Através dessa adição ao gênero, houve a ascensão das bandas dentro do mercado do Mandopop, dentre elas uma que se destacou foi a banda “Mayday”.
O MANDOPOP NOS DIAS DE HOJE
Como foi dito, o século XXI ainda é a época de ouro do Mandopop. O gênero foi capaz de se adaptar muito bem a diversas mudanças no cenário musical mundial que ocorreram desde o início dos anos 2000, como o uso de novas tecnologias na produção musical, a mudança do vinil para o CD, o advento da internet e por fim a migração de álbuns físicos para os sites e aplicativos de stream.
Além disso, o Mandopop também foi capaz de absorver influência dos grandes gêneros musicais como indie, rock, rap, hip hop e r&b, bem como as mudanças socioculturais sofridas pelos diferentes países falantes de mandarim que produzem Mandopop, o que tornou esse estilo musical ainda mais único.
Como também já foi dito antes, lá nos primórdios as músicas do Mandopop consistiam em canções lentas, cantadas por mulheres e se caracterizava por uma voz aguda, além de serem em sua maioria baladas. Essa última característica perdurou por muitos anos dentro do Mandopop e todos os grandes nomes desse estilo musical cantavam baladas sobre amor, indo do amor sonhado ao amor perdido.
Apesar dessa característica se manter até hoje, com as grandes influências sofridas pelo Mandopop ao longo dos anos, é possível encontrar agora as mais variadas músicas que abordam temas que vão do amor à críticas sociais. Atualmente é possível citar nomes como: “No Party For Cao Dong”, uma banda taiwanesa de Mandopop com influências do indie, do rock e até mesmo do metal e que aborda várias questões sociais em suas letras; 高爾宣OSN (Gao Er Xuan), cantor e rapper taiwanês que conta com músicas mais lentas que se aproximam facilmente do rap e do r&b, onde OSN fala sobre amor e sobre sua vida; e Ronghao Li, cantor chinês, que manteve as raízes cantando baladas românticas, entre muitos outros artistas com as mais variadas influências.
Apesar de ainda manter sua popularidade muito centrada em países asiáticos, o Mandopop ainda está em sua ascensão e em constante mudança e adaptação. Por abranger artistas de diferentes países falantes de mandarim, o gênero é capaz de abordar vários temas e conter diferentes influências, o que, novamente, torna o Mandopop único.
Mesmo com a barreira linguística que possa existir, o fato de outros gêneros musicais como k-pop e khh terem estourado a bolha e alcançado o ocidente me faz crer que é só questão de tempo para o mesmo acontecer com o Mandopop.
Ficou curioso para conhecer mais sobre o Mandopop? Confira essa seleção de artistas a seguir!
Fontes de pesquisa:
Mandopop
Why Taiwan Is Still The Creative Heart Of Mandopop
The meteoric rise of modern Mandopop
Why Can’t Mando-pop King Jay Chou Take Chinese Music Global?
Texto po Letícia | Revisão por Fran | Equipe de Redação K4US
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