A mais nova exposição da Japan House São Paulo traz a trajetória da moda japonesa desde os anos 1950 até os tempos atuais, mostrando diversas influências que perpassaram a história do país. Para isso, a mostra que leva o nome “Efeito Japão, moda em 15 atos”, conta com 15 peças de designers de moda japoneses, como, por exemplo, Issey Miyake, que revolucionou a moda nos anos 80, Chitose Abe, fundadora da marca Sacai, Junya Watanabe, protégé da icônica Rei Kawakubo, criadora da Comme des Garçons e Hanae Mori, primeira designer asiática a ser admitida na Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, associação mais prestigiosa de profissionais de moda, atualmente com o nome Fédération de la Haute Couture et de la Mode.
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A mostra conta com a coordenação do diretor de moda Souta Yamaguchi, que foi responsável pelo design das roupas usadas pelo staff na cerimônia do pódio dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, que teve um ano de atraso devido a pandemia de coronavírus, ocorrendo apenas em 2021.
“Esta exposição é uma valiosa oportunidade para conhecermos um panorama das transformações da moda no Japão, as quais se iniciaram na década de 1950 e continuam ocorrendo até hoje”
Souta Yamaguchi
Por meio de uma linha do tempo, que se soma às peças expostas, a exposição destaca diversos marcos históricos que influenciaram a sociedade e a moda japonesa. Esse recorte temporal se inicia no pós-Guerra, que gerou uma transição na vestimenta, alternando entre os quimonos e as roupas ocidentais. Já na década de 1950, mais especificamente em 1956, o Japão inicia seu crescimento econômico após a reconstrução e, no mesmo ano, é criada a Bunka Fashion College, uma prestigiada faculdade de moda que lançou diversos estilistas.
A peça mais antiga exposta nessa mostra é datada de 1955 e foi confeccionada justamente na Bunka Fashion College, marcando a conexão e, ao mesmo tempo, a transição das vestimentas tradicionais para os trajes ocidentalizados. O vestido é feito com o tecido de quimono advindo de Okinawa, contendo a técnica tradicional Ryūkyū kasuri, que é caracterizada pelo uso de padrões que se relacionam com a vida cotidiana, e é tingido por pigmentos naturais.
Esses elementos culturais ficaram ainda mais evidentes com o orientalismo em alta na década de 1970. O termo se refere ao campo de estudo que tem o Oriente como objeto e ressurgiu com força significativa com a publicação do livro “Orientalismo – O Oriente como invenção do Ocidente”, de Edward Said, em 1978.
Inserido nesse contexto, Kansai Yamamoto, muito conhecido por participar da criação dos figurinos de David Bowie na turnê “Ziggy Stardust”, apresentou sua coleção em Londres, com forte inspiração do teatro kabuki, possuindo uma estampa que remete às pipas.
As referências culturais também são encontradas na peça de Kenzo Takada, um casaco com corte reto e com mangas que estão juntas à estrutura corporal, assemelhando-se ao quimono. Outra peça marcante para esse momento no tempo é o vestido de Masao Mizuno, que apresentou suas coleções com o tema da mistura entre Oriente e Ocidente. Em sua confecção foi usado o oni chirimen, um tecido de textura áspera e muito usado para a produção de furoshiki, embrulho japonês.
Na década de 80 o Japão atingiu o auge de seu crescimento econômico, que refletiu na moda com peças extravagantes. Para a representação desse período, a mostra traz a confecção da PINK HOUSE, fundada por Isao Kaneko. A marca é criadora do estilo girly japonês e o traje apresentado conta com babados, rendas, pregas e emblemas no formato de patch, dando um visual bem cheio com suas camadas e que lembra a cultura kawaii e a subcultura lolita.
Ainda nessa época, Yohji Yamamoto, Issey Miyake, Kenzo Takada, Kansai Yamamoto, Junya Watanabe e Rei Kawakubo se destacaram na Semana de Moda de Paris com suas confecções revolucionárias, momento que ficou conhecido como “Shock Wave, confrontando os trabalhos de designers europeus, como Jean Paul Gaultier, e a ideia de elegância atribuída a eles. Com isso, o estilo mais desgastado e assimétrico passou a ter mais aceitação no mundo da moda e inspirou estilistas como Martin Margiela e John Galliano.
Em um outro panorama, a partir de 1990, a moda de rua (street style) japonesa ganhou grande destaque, misturando diversas culturas com as técnicas avançadas na produção. É o caso do vestido criado por Yoshiki Hishinuma, que usou as propriedades termoplásticas do poliéster como maneira de simbolizar a tradicional técnica japonesa de tingimento chamada shibori.
Direcionando o olhar para os anos 2000, temos uma maior presença do minimalismo e da sustentabilidade, buscando expressar também as complexidades da individualidade de múltiplas questões. Representando tais proposições, a exposição apresenta a peça de patchwork da marca ANREALAGE, fundada por Kunihiko Morinaga em 2003. Por meio dessa produção vemos uma expressão da ideia de pixels em uma imagem de baixa resolução quando é ampliada, mostrando um trabalho manual que ultrapassa o analógico e o digital.
Sendo assim, as transformações ocorridas na moda japonesa são mostradas nas produções pertencentes a designers diferentes, que marcaram a história e modificaram diversos conceitos. Dessa forma, percebemos também a influência do desenvolvimento da história e das questões sócio-culturais na moda e na sua produção, contando com uma linha do tempo estruturada na exposição.
A mostra ficará disponível até o dia 1° de setembro e tem entrada gratuita, então não percam essa oportunidade de passar na Japan House São Paulo e contemplar as peças únicas que estão lá!
Informações sobre a mostra
Data: 7 de maio a 1° de setembro de 2024
Local: Japan House São Paulo – Av. Paulista, 52 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01310-900
Horários: De terça a sexta – das 10h às 18h. Sábados, domingos e feriados – das 10h às 19h.
A entrada é gratuita e as reservas antecipadas online são opcionais, podendo ser feitas no site da Japan House.