Essa é a parte 3 da série que aborda dicas para escrever, uma parceria com a autora BtsNoona. Para ler a parte 2, clique aqui
TIPOS DE NARRADOR
Essa é umas confusões mais comuns que eu vejo em fanfics. Depois que você já tem o seu overall plot e sua ideia, é hora de colocar a mão na massa e escrever de fato. Mas e aí, por onde começar? Existem algumas decisões importantes que você precisa tomar para que sua história seja escrita da melhor maneira possível. A mais importante delas, para mim, é o tipo de narrador.
O narrador vai dar “o tom” da sua história. Pense nisso: cada um tem um jeito de contar a história, não tem? Um ponto de vista sobre o mesmo acontecimento, uma personalidade, um jeito de falar, de lidar com problemas. Então o narrador pode mudar a sua história todinha.
Vamos aos tipos:
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Narrador em 1ª pessoa.
O narrador é um dos personagens da história. Ele pode ser o protagonista ou um dos personagens secundários, mas está ali no meio da narrativa vendo tudo em primeira mão.
Eu amo narrador em 1ª pessoa, já que faz o leitor se sentir muito próximo da história, como se estivesse mesmo vivenciando os fatos. Além disso, também indico esse para quem está começando no universo da escrita. Por quê?
O narrador em primeira pessoa “aceita” uma linguagem muito mais coloquial. Ele é emocional, reage aos fatos, fala de uma forma típica, pode ficar bravo, triste ou apaixonado. É uma pessoa contando uma história, e pode “dar pitaco” nos acontecimentos, usar gírias, falar palavrões, etc. Não que isso seja proibido no narrador em 3ª pessoa, mas na 1ª a coisa vem mais naturalmente.
Outro motivo pelo qual indico o narrador em 1ª pessoa: É bem mais fácil de não se confundir, não se perder. Escolha um personagem e entre no corpo dele! O que ele pensa? Do que ele gosta? Ele é um ariano esquentadinho ou um pisciano “de boas”? Como ele reage a cada um dos acontecimentos da sua trama? Qual a opinião dele sobre os outros personagens?
Se afogue nesse narrador! Mantenha sempre o mesmo tipo de linguagem e não deixe que ele se perca. Se o cara era o maior babaca e do nada fica bonzinho, o leitor vai perceber na mesma hora e vai estranhar. Ninguém muda do nada! O personagem pode sim evoluir (ou regredir), mas isso precisa ficar claro na narrativa.
Outra dica: não fique mudando de narrador o tempo todo. Isso é muito recorrente em fanfics, cada capítulo é narrado por um personagem diferente ou até mesmo o “pov” (ponto de vista) muda dentro de um mesmo capítulo. Não digo que está errado (até porque isso não existe) e até funciona em algumas narrativas, mas é um caminho perigoso. Você pode confundir o leitor, acabar contando o mesmo fato várias vezes (de diversos pontos de vista) e detonar com todo o mistério da história! Você precisa deixar o leitor curioso para que ele continue te acompanhando, capítulo após capítulo. Por isso, não recomendo ficar mudando o narrador no meio da história, a não ser que você pense sobre o assunto e ache realmente necessário.
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Narrador em 3ª pessoa.
O narrador em terceira pessoa é ótimo em certos casos, mas demanda muito mais atenção do autor. Isso porque existem dois tipos, e você precisa delimitar antes de começar sua história qual deles você prefere usar e manter dessa forma até o fim – sem se embolar!
Primeiro vou explicar cada um deles.
Narrador onisciente: Ele sabe de tudo! Tudo, tudinho mesmo. O pensamento e as sensações de cada um dos personagens da história. Funciona quase que como um deus, narrando como as coisas acontecem, sem interferir diretamente na trama. Se você quiser trabalhar com o narrador onisciente, ainda tem mais uma escolha a fazer. Ele vai ser um narrador neutro ou seletivo?
A diferença é bem simples. O narrador neutro apenas relata, não dá opiniões, não tende para um lado ou outro, não concorda nem discorda de nada. Ele só conta.
O narrador onisciente seletivo sabe de tudo o que acontece, mas pode influenciar o leitor. Digamos que o seu narrador tenha um “bias”. Pela forma como ele narra a história, eventualmente você vai perceber que ele “favorece” um lado ou outro.
É importante escolher com cautela a melhor opção para a sua história, porque você terá que manter dessa forma até o fim. É muito desagradável quando, do nada, o narrador muda. A história perde o ritmo, o leitor passa a desconfiar do narrador, como se no início ele se mostrasse uma coisa e por fim fosse outra. Então, seja fiel à sua escolha, seja ela qual for.
Narrador observador: É o outro tipo de narrador em terceira pessoa. Ele não é tanto deus mas está mais para um anjo da guarda, observando tudo. Tem uma diferença bem importante: ele é pessoal. Ou seja, ele narra em terceira pessoa, mas só é onisciente dos pensamentos, sensações e segredos de um único personagem. Eu sou bem familiarizada com esse narrador, porque é o que eu uso pra escrever Incógnito, e já aviso – não é um narrador fácil de se lidar! No início você pode se confundir, esquecer que só tem o ponto de vista daquele personagem e acabar falando das sensações de outro sem querer. Acontece e é natural, então a revisão precisa ser bastante atenta!
O lado bom desse narrador (e o motivo pelo qual eu o escolhi para escrever Incógnito) é que ele deixa um mistério no ar. Como o narrador-personagem (em 1ª pessoa), ele não sabe o que os outros estão pensando e fica a critério do leitor imaginar ou tentar descobrir. Então, dependendo do seu plot, é muito vantajoso.
Vou citar o meu exemplo na prática, com Incógnito, já que eu citei acima. É uma fanfic taekook em que os personagens estão no ensino médio e ela é toda narrada em 3ª pessoa, mas no ponto de vista do Jeongguk. Por que eu escolhi este narrador-observador em 3ª pessoa e não narrei a história em 1ª pessoa? Eu poderia muito bem fazer com que o Jeongguk narrasse, mas não fiz isso porque o meu personagem é muito imaturo.
Como assim, Noona?
O Jeongguk de Incógnito – pelo menos no início – é um adolescente que não pensa muito sobre os próprios atos e meio que só vai com a maré, espera as coisas acontecerem naturalmente e não está nem aí pra nada. Na minha humilde opinião, ele não seria um bom narrador para essa história, porque está sempre muito confuso e não saberia explicar direito as coisas que estão acontecendo com ele. Nesse caso o narrador-observador funciona quase que como um tradutor para os sentimentos do Jeongguk e o processo dele de autoconhecimento. Aos pouquinhos ele vai amadurecendo, mas eu pensei que se ele narrasse a fanfic acabaria ficando sem consistência. Em terceira pessoa eu consigo ter o ponto de vista do Jeongguk em uma voz mais clara para o leitor. Deu pra entender? Qualquer dúvida pode me falar que eu esclareço!
Pareceu coisa demais? Não se preocupe! Pense na história que está contando e no que você quer mostrar (ou esconder) do seu leitor. Se mantenha coerente com sua escolha até o fim da narrativa e com certeza vai notar que sua história ficará mais compreensível.
Boa sorte e muito sucesso para sua fanfic! No que eu puder ajudar, estou por aqui. <3
Beijocas amoras,
~BtsNoona
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