Snowdrop foi um dos dramas mais aguardados de 2021. Com um elenco de peso e um enredo um tanto quanto polêmico, o K-drama estrelado por Kim Ji Soo (BLACKPINK) e Jung Hae In tem muitos fatos curiosos que podem ter passado despercebidos – ou não – pelos telespectadores. Pensando nisso, nós juntamos nesse post 7 fatos sobre Snowdrop que você precisa conhecer. Bora lá? 

Cena retirada do drama Snowdrop

O Real Significado de “Snowdrop”

Diferente do que o título do drama sugere, “snowdrop” não tem muita relação com a “queda da neve”. Na verdade, o nome do K-drama é inspirado na flor snowdrop (Galanthus nivalis) da família amaryllidaceae, uma flor branca bem discreta que começa a surgir antes do fim do inverno, e floresce ainda na neve, simbolizando o começo da primavera. 

Para alguns, snowdrop significa esperança, entretanto, a flor também era sinal de desgraça para algumas pessoas no século XX. Graças a sua capacidade de florescer no frio da neve e passar por um estado de “dor” até encontrar a vida, snowdrops se tornaram símbolos de consolo e esperança.

Não preciso dizer mais nada, não é mesmo? O enredo do drama é justamente sobre encontrar esperança nos momentos mais frios. Além disso, em uma das cenas SooHo se declara para Yeong Ro dizendo que ela floresceu dentro dele (onde era gelado), fazendo um paralelo com a flor que floresce na neve. Em uma das últimas cenas do drama, snowdrops aparecem simbolizando a chegada da primavera e o fim dos tempos difíceis.

Como as duas Coreias foram divididas?

Em Snowdrop, nós somos apresentades a um conflito tenso entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. Conflito este que é real e perpetua até os dias atuais, mas você sabe como esse conflito ocorreu e o que fez esses dois países se separarem? Ou sabe também a importância de entender este momento histórico considerado um dos mais tenebrosos da Guerra Fria pelo mundo inteiro? E, é claro, entender como tudo isso se encaixa no drama? Então deixa eu te explicar 😉

As duas Coreias foram divididas num período de enorme tensão geopolítica — logo após o fim da Segunda Guerra Mundial — conhecido como a Guerra Fria (1947-1989). O conflito fora entre as 2 maiores superpotências daquela época: União Soviética e Estados Unidos. 

Acredita-se que este conflito teve início quando o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, deu um discurso no congresso estadunidense onde ele anunciou o Plano Marshall. A base desse plano era aumentar a influência norte-americana na Europa e os soviéticos, quando souberam disso, não ficaram nem um pouco contentes, e proibiram todos os países pertencentes do seu bloco de aderirem ao Plano Marshall.

Pôster da campanha do Plano Marshall

Devido a esse discurso de cunho alarmista para a URSS, começou-se a ter entre os dois países uma Corrida Armamentista e Espacial, Interferência Estrangeira em vários outros países e, o que mais marcou todo o conflito, uma grotesca e extensa Polarização de ideais políticos. Enquanto os EUA eram a favor do Capitalismo, a União Soviética era em prol do Socialismo.

Bom, e como as duas Coreias entram nessa história toda? Pois bem, embora na Guerra Fria não tenha acontecido um conflito armado entre os dois países de forma direta, ele aconteceu de forma indireta em vários outros países. Como Alemanha, Vietnã e Coreia, que é a qual nós vamos falar sobre.

O território coreano era ocupado pelos japoneses desde 1910, entretanto o Japão teve que se render após a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki e a vitória dos Aliados na 2ª Guerra Mundial. Com isso, em 1945 a Coreia foi fracionada no paralelo 38 em duas: a República Popular Democrática da Coreia do Norte, ocupada pela União Soviética, e a República da Coreia, a atual Coreia do Sul, ocupada pelos Estados Unidos. Os dois lados representando, ironicamente, a Polarização que estava caracterizando o conflito mundial: Socialistas e Capitalistas.

A Guerra da Coreia então se sucedeu entre 1950 a 1953, quando o ditador norte-coreano quis juntar as duas Coreias para que ficassem sob sua liderança e, por isso, pediu apoio dos soviéticos para invadir a Coreia do Sul. Stalin inicialmente foi contra, pois não queria um confronto direto com os EUA, mas por conta da ameaça da China se tornar um país mais influente na Ásia devido à Revolução Chinesa, os soviéticos resolveram ajudar a Coreia do Norte.

Com isso a Guerra das Coreias fora dividida em 3 fases: a 1ª quando a Coreia do Norte basicamente conseguiu ocupar grande parte do lado Sul os cercando no Perímetro de Pusan, a 2ª quando os EUA entrou em cena juntamente com as tropas sul-coreanas e a 3ª fase quando se entrou num “equilíbrio” de forças que resultou numa trégua por parte dos dois países. Trégua esta que foi depois assinada oficialmente em 1953.

A ditadura militar na Coreia

A Ditadura na Coreia do Sul durou por anos, logo após o Armistício de 1953 até 1987, ano este que se passa a história de Snowdrop. Mas para falarmos do que está acontecendo no drama, vamos voltar só um pouquinho no tempo~

Cena onde Soo-Ho e Yeong-ro estão se escondendo da NIS

Lembram que a gente comentou que as Coreias tinham sido divididas e que também antes disso tudo, era o Japão que comandava a Coreia? Pois muito que bem, se vocês se interessarem também recomendo assistirem Mr. Sunshine. Tem disponível na Netflix e fala justamente sobre esse conflito do Japão com a chegada dos EUA na Coreia do Sul. Mas voltando para Snowdrop (risos); os EUA instauram no dia 9 de setembro um governo militar chamado USAMGIKU.S. Military Government in Korea –  que durou até 1948. 

Todavia, esse USAMGIK foi presidida por Syngman Rhee, um político de direita que voltou para a Coreia depois de passar anos no país estadunidense. Com isso em mente, começa o show de horrores na Coreia do Sul: o KDP, Partido Democrático Coreano que tinha uma conduta anti-comunista. Embora tudo isso tenha acontecido ainda na época da 2ª Guerra Mundial, Syngman Rhee é considerado por muitos o primeiro ditador da Coreia do Sul.

Agora, podemos ir para o que acontece no drama, certo? Depois de Rhee, temos mais um ditador: Park Chung Hee, que governou a Coreia do Sul de 1961 a 1979 e foi morto por um de seus colaboradores mais próximos, Kim Jae Kyu, e depois dele tivemos Chun Doo Hwan que assumiu o poder em 1980. 

Uma das primeiras medidas que Doo Hwan toma é a repressão brutal e sem piedade contra qualquer partido opositor e, consequentemente, contra as pessoas que também vão contra seu regime. Devido a isso, greves, passeatas e revoltas começam a acontecer no país e uma que se destacou pelo tanto de sangue derramado e vidas que foram tiradas, que foi o Massacre de Gwangju.

A tragédia aconteceu quando vários estudantes da Universidade de Chonam, localizada em Gwangju,

saíram pelas ruas exigindo justiça e lutando contra o regime ditatorial de Chun Doo Hwan. Entretanto, regimes de paraquedistas são enviados e assassinam diversos manifestantes. No dia seguinte, mais 50.000 cidadãos se juntaram e se colocaram à frente do exército para mostrar que eles não iriam desistir. Foram 4 dias de combates violentos e é datado que mais de 200.000 foram mortos no massacre. Os manifestantes lutaram bravamente, todavia na madrugada do dia 27 de maio os soldados ocuparam a cidade de Gwangju por completo e o número de estudantes que foram mortos passava das centenas. E tudo isso ocorreu com o governo dos EUA estando como cúmplices, diga-se de passagem.

Nos meses seguintes, a repressão tomou conta de todo o país e é constatado que 57.000 pessoas foram presas devido à Campanha de Purificação Social, e entre elas mais de 39.000 foram mandadas para os campos militares para passar por, segundo o governo, uma reeducação psicológica e física. Mais conhecida como tortura, e muitos deles não voltaram.

Snowdrop se passa literalmente no último ano da ditadura de Chun Doo Hwan, que foi em 1987, onde podemos ver parte dos manifestantes e, inclusive, uma das amigas da Yeong Ro lutando pelos seus direitos de forma escondida. Isso se deve pois 90% dos manifestantes dessa época eram estudantes e eles começavam, até mesmo, a trabalhar em fábricas operárias para poder continuar nos movimentos contra o governo. E é no verão de 1987 que a Coreia do Sul é varrida por uma onda gigante de greves e manifestações que o governo é incapaz de impedir. 

Dando-se então, o fim da ditadura militar.

Personagem Yeon Jeong lendo um livro de cunho comunista escondida

as prisões indevidas de manifestantes sob o argumento que seriam espiões norte-coreanos

O tema claramente é sensível para a população e não poderia ser diferente quando o K-drama tomou as telas dos sul coreanos. Marcados pelos anos de Ditadura Militar e busca pelos seus direitos e garantias individuais, a população ao ver um drama retratando aquela época e determinados temas, acabou por ficar temerosa em ver como a história seria retratada em um contexto dramático e de romance.

Tanto o é que, antes mesmo do lançamento do K-drama nas telinhas, o público sul-coreano pediu o cancelamento da série, isto porque a história dos personagens seriam baseadas em fatos reais, e, na época dos protestos, muitos estudantes perderam suas vidas e outros tantos foram capturados, torturados e até mesmo mortos pelo NIS (Serviço de Inteligência Nacional), que os chamavam de espiões norte-coreanos. Sabendo desse momento histórico de extrema relevância política da Coreia do Sul, internautas ficaram insatisfeitos com o enredo, que parecia romantizar as lutas estudantis da Coreia do Sul.

Policiais e Detetives que faziam parte do NIS no drama Snowdrop

Entretanto, ao assistir a obra, você percebe que não há uma romantização do movimento democrático e dos sacrifícios dos jovens daquela época. Pelo contrário, em toda a trajetória da série percebe-se a preocupação em mostrar que se tratava de uma época nebulosa, em que nem tudo era preto no branco, mas sim havia prisões e torturas de jovens estudantes e protestantes sob o argumento de que seriam espiões.

Aparentemente, e de forma primorosa, o drama conseguiu demonstrar isso, na época dos movimentos democráticos, o NIS não era exclusivo como agência de inteligência para defender a segurança nacional, mas sim um instrumento para garantir a perpetuação daquele regime no poder. O regime que não queria que a pura democracia se sustentasse, mas sim que ainda tentava manipular a vontade do povo por todos os meios cabíveis para permanecer no poder, inclusive, utilizando-se de prisões indevidas de estudantes inocentes sob o pretexto de serem espiões norte coreanos que precisavam ser investigados.

Cena onde SooHo pede que Yeong Ro fique em silêncio para não serem encontrados

Este, por si só, é um tema sensível demais para a população sul coreana, que o tem em sua memória como um dos momentos mais emblemáticos em favor da democracia e que milhares de jovens morreram defendendo a causa. No entanto, do ponto de vista de dramaturgia, a forma como Snowdrop apresentou o tema foi de maneira respeitosa e assertiva ao deixar claro que, naquela época, tudo era muito confuso, nebuloso e instável. 

a trilha sonora que condiz com a época e com o romance do drama

Além de toda a tensão e conflitos que o drama de Snowdrop nos proporciona, para dar uma quebrada nesse clima pesado vim falar agora sobre as músicas dessa maravilha! Tirando as famosas OST’s que todo drama sempre tem, como por exemplo “Wishes” do Jamie Miller ou “Friend” de Kim Heewon; Snowdrop também conta em sua soundtrack com músicas internacionais e nacionais coreanas que tocaram e eram famosas na década de 80! Para a gente ter uma imersão ainda melhor com a história 😭

A primeira música que vamos falar sobre é uma que rondou os nossos dois protagonistas o drama inteiro e, inclusive, foi a canção que fez eles se conhecerem: “One Way Ticket” do Eruption.

A música foi lançada em 1979 e foi um dos sucessos da década, Yeong Ro escuta a canção em uma fita cassete da banda enquanto estava numa loja de discos. Lojas estas que eram muito famosas na época e, convenhamos, os roteiristas não iriam perder a chance de utilizar um cenário desses nesse drama, não é mesmo? Por causa dessa bendita fita e da animação de Yeong Ro ouvindo a música, isso acaba chamando a atenção de SooHo que no fim acaba dando a fita para ela de presente já que a mesma não tinha dinheiro para comprá-la.

Além desse momento, a música também volta a aparecer na festa do dormitório da universidade e a própria fita depois tem um papel muito importante no final da trama.

Tirando “One Way Ticket”, também ouvimos durante o drama a maravilhosa música “님 떠난 후” (After You’ve Gone) pela Jang Deok, que também teve interpretações pela cantora Jinmi Ryung e a dupla Hyeoni e Deoki. Essa última dupla sendo a que toca no drama quando Yeong Ro e suas amigas se divertem no quarto do dormitório.

Cena da festa do dormitório de Snowdrop (Footloose é você?)

E outra que toca também em alguns dos momentos dramáticos do drama, mas que não deixa de ser uma música incrível, é “사랑하기 때문에” (Because I Love You) de Yoo Jae-Ha. Resumindo tudo: se a trama de Snowdrop não te convenceu, talvez sua trilha sonora que te conquiste, pois ela é simplesmente impecável!

primeiro trabalho como atriz da Jisoo

Uma das grandes apostas do drama foi a estreia de Jisoo como atriz principal em uma grande produção. A idol havia feito pequenas aparições em dramas, mas nada capaz de determinar suas reais capacidades em atuação. Sabíamos de toda sua desenvoltura em administrar um palco e seus fãs em shows e promoções como membro do BLACKPINK, mas como atriz era tudo uma novidade para os dorameires. 

Jisoo entregando conteúdo em Snowdrop para vocês

E a surpresa foi muito feliz, pois Jisoo soube interpretar Eun Young Ro de forma muito honesta e autêntica. A trama não é uma das mais fáceis, pois suas nuances de vários sentimentos, desde desespero, amizade, amor e outros mais, são um combo completo que assustaria qualquer atriz veterana do nicho. 

Inclusive, em vídeos que você encontra dos backstages enquanto era realizada a gravação das cenas, é possível perceber que Jisoo está muito à vontade nas gravações, com os colegas de elenco e até mesmo em cenas de pôr medo em qualquer ator corajoso ~ cena da janela, cof cof cof ~.

Surpreendente também, é a química com o ator Jung Hae In, seu par romântico na trama e alvo de muitas controvérsias do que seria certo ou errado em um amor entre um espião norte coreano e a filha do presidente do NIS. Isso mesmo, o romance deles, na trama, desde os primeiros minutos é claro que seria o tipo de amor impossível. Mas, mesmo assim, você se pega torcendo loucamente durante toda a história para que encontre-se um meio termo para que ambos possam acabar juntos e felizes. Claro que daí por diante seria spoiler e deixarei a critério do leitor. 

Jisoo com certeza entregou tudo para sua estreia em K-Dramas, ainda mais levando em consideração o tamanho da obra e suas inúmeras dificuldades antes do lançamento, e não deixou a desejar em nenhum momento, mostrando que, sim, ela está pronta para outros grandes projetos que irão vir.

algumas supostas semelhanças com a realidade e polêmicas

Snowdrop se envolveu em vários assuntos controversos desde que foi anunciada a sua produção. Por se tratar de uma história bastante sensível e polêmica, o drama foi alvo de críticas na Coréia do Sul e chegou a ter um abaixo assinado com mais de 300 mil assinaturas na Casa Azul para impedir que a produção fosse transmitida. 

Uma das principais polêmicas envolvendo o drama é a “coincidência” com alguns fatos reais que aconteceram na Coréia do Sul na época da Ditadura Militar. O nome da personagem interpretada pela atriz Kim Jisoo iria se chamar Eun Young Cho, porém a escolha não deixou os internautas coreanos muito felizes já que “Young Cho” é um nome bastante semelhante ao da manifestante estudantil Chun Young Cho, que foi ativista durante o movimento democrático de 1987, na vida real. 

Chun Young Cho é conhecida por ser uma das sobreviventes que foi torturada pela Agência Nacional enquanto lutava pelo país.

O seu marido foi acusado de ser um espião norte coreano e conspirador do governo durante o movimento democrático, ele foi torturado e morreu pouco tempo depois de desnutrição. Depois de todo protesto que os coreanos fizeram na internet, a roteirista do drama resolveu mudar o nome da personagem de Jisoo para Eun Yeong Ro, já que seria muito desrespeitoso manter o nome da personagem com um enredo envolvendo um suposto romance com um espião norte coreano. 

Toda a trama de Snowdrop tem como pano de fundo a Hosoo Women’s University. Supostamente o local que foi inspirado na Universidade de Mulheres Ewha onde a roteirista do drama, Yoo Hyun Mi, estudou quando era mais nova. Segundo Soompi, o drama também foi inspirado em uma carta de um desertor norte coreano que escapou de um campo de concentração em 2008. 

Sobre as controvérsias a JTBC publicou uma nota afirmando: “Snowdrop é um trabalho criativo que mostra a história pessoal de indivíduos que foram usados e vitimizados por aqueles que estavam no poder […] A maioria dos mal-entendidos sobre as preocupações de “distorções históricas” e “depreciação do movimento democrático” criticadas por muitos serão esclarecidas ao decorrer do roteiro. O drama inclui a intenção do time de produção de esperar que a era anormal em que a liberdade e felicidade individuais sejam oprimidas por um poder injusto não volte a se repetir”.

Referências Bibliográficas: https://portalpopline.com.br/por-que-snowdrop-drama-jisoo-blackpink-tao-polemico/ / https://movimentorevista.com.br/2017/09/coreia-do-sul-milagre-coreia-do-norte/https://www.politize.com.br/guerra-da-coreia/

Esse texto foi uma colaboração entre os redatores da K4US: Ana Carol, Annyie e Sisi | Revisão por Fran | www.k4us.com.br | Não retirar sem os devidos créditos