Crescer como um homem gay nascido em 1996 é não encontrar uma boa base de produções que abordem romances homoafetivos, principalmente os que se passam durante a adolescência, um dos momentos-chave no processo de descoberta. Sem representatividade, não é possível se enxergar em tela, mas nos últimos anos algumas produções têm cumprido bem o seu papel, inclusive BLs, como “Light On Me”, disponível no Viki.
Depois de alguns BLs sul-coreanos que tentaram contar uma boa história, mas que foram afetados pelo número curto de episódios e duração, a adaptação do jogo “Saebit Boys High School Council” (2017) traz uma história cativante sobre amor e autocuidado, em meio a uma jornada de autodescobrimento sem cair em alguns clichês, mas se banhando em outros com maestria.
Produzido pela WHYNOT, “Light On Me” conta a história de Taekyung (Yoon Yongbin), um jovem de 18 anos sem qualquer amigo. Após entrar para o Conselho Estudantil da escola onde estuda, o jovem passa a entender o significado de amizade e começa a descobrir o amor ao se apaixonar por Daon (Choi Chanyi), mas a forma que Shinwoo (Kang Yooseok) o trata, acaba o deixando confuso.
Yoon Yongbin em seu papel de estreia como protagonista convence bem como um garoto tímido que nunca viu a necessidade de ter amigos até que seu professor sugere que entre para o Conselho Estudantil. Uma pena que em algumas cenas que exigem um pouco mais do ator, ele fique devendo um pouco.
Do quarteto do Conselho Estudantil, Kang Yooseok é quem mais brilha, não há dúvidas. Talvez por ser o mais experiente entre os quatro – o ator está em “Start-Up”, da Netflix, e fez algumas pontas em outras produções – ele consegue se entregar melhor ao personagem que é carregado por um trauma amoroso, junto a um leve receio de se envolver novamente, o que faz ser um pouco grosseiro com Taekyung.
É justamente a junção da timidez de Taekyung e jeitinho um tanto quando ríspido de Shinwoo que faz com que o casal funcione tão bem em tela. Os dois se completam e o roteiro é inteligente ao criar situações naturais para que ambos acabem se aproximando. É claro, cai em alguns clichês – como Shinwoo nutrindo uma certa paixão por Taekyung há tempos, mas nada que precarie a experiência.
Falando em clichês, o roteiro consegue contar a história de um triângulo amoroso convincente ao ponto do espectador ficar confuso junto do protagonista, com uma “disputa justa” entre Shinwoo e Daon. Geralmente, os dramas pecam na construção de ambos os lados do triângulo, fazendo com que um deles não tenha o destaque devido – como acontece em “True Beauty”, mas este não é o caso de “Light On Me”.
A produção, porém, cai em um clichê que sinceramente já deveria estar morto: a moça histericamente apaixonada por um personagem e que faz de tudo para ficar com ele. Sohee, interpretada por Yang Seohyun, é a clássica personagem detestável que é inserida unicamente para atrapalhar o casal, mas ganha pontos com seu caminho de redenção, se tornando uma aliada de Taekyung, em especial no episódio final, quando se mostra uma verdadeira LGBTQI protector, pronta para administrar a página do Quebrando Tabu ao lado de Namgoong.
A evolução dos personagens, aliás, é um ponto a se destacar. É interessante ver como o roteiro consegue explorar aos poucos a evolução de Taekyung enquanto uma pessoa anti-social para o confiante príncipe do concurso. Assim como é bonita a jornada de Daon no seu processo único de passar a se colocar em primeiro lugar, apesar do roteiro ser expositivo demais em alguns pontos no episódio final.
O personagem interpretado por Ko Woojin, entretanto, é o que menor apresenta ao público um certo nível de evolução entre o quinteto principal. Namgoong cumpre bem o seu papel de alívio cômico, mas um personagem que soa tão cativante merecia um final melhor. Nem mesmo as pistas de que ele e Sohee, em algum ponto do futuro, podem ficar juntos, conseguem salvar.
Seguindo com pequenos problemas, ao mesmo tempo em que o roteiro toma o caminho interessante de abordar levemente a homofobia, que traz um peso importante de realidade para a história, fica devendo muito quanto às consequências de Daon ser gay. Os pais do personagem são apresentados ao público como pessoas que nunca poderiam aceitar a orientação sexual do filho, mas em momento algum o roteiro explora esse ponto ou traz uma abordagem mais aprofundada disso.
Apesar da excelente quantidade de episódios – 16 no total – talvez se a duração de cada um fosse maior, alguns pontos que ficaram um pouco abertos poderiam ser melhor explorados. De qualquer forma, é inegável que “Light On Me” é um bom exemplo de que um bom número de episódios contribui para uma história bem contada, com uma experiência de entretenimento satisfatória.
É justamente essa quantidade de episódios que faz com que “Light On Me” consiga contar uma história que não está inundada apenas no romance dos personagens. É com certeza sua base, mas há tempo para que alguns plots ganhem espaço, como o interesse de Taekyung em querer desenvolver amizades e o Concurso do Príncipe Hikari, nos três últimos episódios.
O saldo final de “Light On Me” é agridoce, pendendo para o lado mais adocicado. Os personagens são muito cativantes de acompanhar e a história bem contada chama atenção, principalmente por se destacar em um meio que estava devendo muito apesar de premissas interessantes. Depois de “Light On Me”, os BLs sul-coreanos tem um novo patamar para chegar.