A primeira temporada de Age of Youth foi a responsável para me trazer de volta para o mundo dos K-dramas. Os clichês e rotinas repetitivas que sempre apareciam nas produções me afastou por anos desse mundo. Sempre aquela história da menina pobre apaixonada pelo cara rico, o cara sendo babaca com a menina para depois descobrir que na verdade gostava dela… Tudo me irritava muito, então quando uma amiga contou sobre um drama focado na vida de cinco meninas que moravam juntas e não comentou sobre nenhum desses aspectos que considero negativos, resolvi dar uma chance. E não me arrependi. Não sei como é para o resto do público, mas para meninas que estão na mesma faixa de idade das personagens (entre 18 e 20 e poucos), ou passando por tempos de faculdade/trabalho, é um drama com o qual a gente acaba se identificando bastante e isso é ótimo.
Uma coisa que me incomodou na primeira temporada foram alguns enredos que, para mim, fugiam total do centro da história. Ok que cada uma delas tinha seu eixo e sua narrativa, mas algumas me pareceram meio sem sentido. Já na segunda temporada foi bem diferente.
Como é uma história de meninas vivendo sua juventude e morando sob o mesmo teto, alguns podem esperar algo divertido, próximo de uma comédia-romântica, e algumas vezes até é, mas Age of Youth 2 – assim como a primeira temporada – não limita suas personagens a protagonistas de romances. O drama aborda muitas primeiras vezes e de diferentes formas: é a personagem que por meio do desejo de perder a virgindade acaba encontrando um passado difícil e mal resolvido; as alegrias de um primeiro amor e o desespero de um primeiro término; primeiras decisões difíceis a se tomar como adultas. Mas sobretudo é um drama sobre jovens adultos e toda a complexidade desse momento.
A segunda temporada de Age of Youth volta a contar a história de JinMyung (interpretada por Han YeRi), YeEun (interpretada pela ex-KARA Han SeungYeon), JiWon (interpretada por Park EunBin) e EunJae (interpretada por uma nova atriz, JiWoo). Kang Ina, a personagem da ex-T-Ara HwaYoung aparece brevemente em alguns episódios, mas deixa a turma de protagonistas do drama, e é quando ela se despede da república Belle Epoque que entra a nova colega de casa das meninas, a misteriosa JoEun (interpretada por Choi Ara).
JinMyung termina a temporada anterior conseguindo resolver o que parece ser o maior problema que poderia ter na vida. Acompanhado disso, ela consegue também se resolver com Park JaeWan, de quem gostava. Apesar do rapaz não aparecer muito nessa temporada, eles frequentemente conversam e a trama da protagonista se torna bem menos carregada. Na verdade, em boa parte do drama ela aparece como a auxiliadora de um outro rapaz que aparece em sua vida, o esperançoso Heimdal. A hsitória dos dois se cruza no novo emprego de JinMyung e na decadência do emprego de Heimdal. Apesar das personalidades opostas – ela realista e ele sonhador – ambos acabam se deparando com uma verdade em comum, que muitas vezes queremos ignorar: nem sempre os sonhos que realizamos serão exatamente como esperamos, não importa o quão duro a gente trabalhe por isso. O que mais gostei dessa parte foi a relação de amizade entre os dois, evitando cair na armadilha narrativa de que homem e mulher, definitivamente, precisam se interessar romanticamente um pelo outro para se relacionarem. Os dois levam algum tempo para se entender, mas uma vez que isso acontece, a gente assiste a uma relação de apoio mútuo e respeito.
JiWon, que costuma ser como a “palhaça” do grupo, aparece nessa temporada ainda num clima divertido e explorando uma parte da mulher que poucos dramas se propõe a tocar: o desejo sexual. Chega a ser engraçado o tanto que ela fala sobre como PRECISA deixar de ser virgem. E esse é um ponto interessante também porque estamos muito acostumados à ideia de que a Coreia é um país conservador, mas Jiwon representa o que parece ser uma juventude menos presa à determinadas amarras. No meio dessa busca por perder a virgindade, a personagem acaba encontrando uma outra coisa: um passado mal resolvido e confuso. É nesse momento que JiWon ganha uma profundidade que não tivemos muito tempo de ver na primeira temporada do drama e as dúvidas que surgem nesse momento dão até um tom mais sombrio à história dela, abordando um caso de pedofilia. Não aparece nada explícito, mas acredito que seja bom avisar para quem pode ter dificuldade em assistir coisas sobre o tema. É apenas um dos pontos delicados no qual o drama toca e consegue fazê-lo de forma sensível e responsável. JiWon encara tudo com SungMin ao seu lado, aquele colega de faculdade que parece nunca deixar de se preocupar com as loucuras da personagem e se propõe a ajudá-la não apenas em suas confusões, mas em um dos grandes e difíceis momentos de sua vida.
Outra personagem que vê sua história ser cruzada com um momento extremamente difícil é a YeEun. Já na primeira temporada ela passa por uma situação de abuso com um namorado. Logicamente – e infelizmente – o trauma a acompanha durante toda a segunda temporada, mas traz para a discussão de forma muito didática um assunto que vem recebendo cada vez mais atenção: relacionamentos abusivos. Um detalhe interessante e gritante é como isso se reflete até mesmo no guarda-roupa da personagem, que na primeira temporada se vestia com roupas rosa e de tons claros, enquanto nessa segunda aparece em boa parte dos episódios vestindo preto. Acompanhamos como a personagem é taxada de culpada por colegas de classe, amigas próximas e até mesmo sua mãe. Acompanhamos o medo dela andar sozinha, o medo de qualquer homem que se aproxima. É triste de ver, mas eu, particularmente, me senti aliviada em saber que é um tema que também vem recebendo atenção na Coreia. Ao longo dos episódios, no entanto, ela encontra refúgio em um rapaz (HoChang, interpretado por Lee YouJin) que, de início, tem uma abordagem bem bizarra, mas aos poucos demonstra entender o que ela passa, respeitá-la e se preocupar com seu bem-estar.
É com relação ao problema pelo qual YeEun passa que assistimos uma das cenas mais tocantes das duas temporadas (pelo menos para mim haha): quando as meninas se juntam para defendê-la da própria mãe, dando uma lição de feminismo, sororidade e amizade. O choro é garantido, mas é lindo de ver (juro!).
Pessoas mudam, sentimentos mudam e nós nunca estamos preparados para isso: essa é basicamente a base para o enredo de EunJae nessa temporada. Com o fim do namoro, ela aprende muito sobre si, sobre como se relaciona com as pessoas e como o término de um primeiro namoro pode ser dolorido. Ela aparece nos 14 episódios do drama se lamentando pelo fim do relacionamento e buscando formas de reconquistar o ex. As ideias que ela tem no meio disso são tão malucas que acabam provocando muitos risos nas amigas e em quem assiste, mas conforme a temporada vai chegando no fim, vamos percebendo que tudo é fruto de um grande desespero. Isso se mostra especialmente em uma cena onde a personagem é capaz de arrancar lágrimas, praticamente entregando seu coração em pedaços para quem o quebrou, mostrando toda sua fragilidade, mas também a força que tem em demonstrar isso sem medo.
Quando vi que a nova personagem não trazia muitos “traços de feminilidade” fiquei um pouco receosa de como um drama coreano abordaria isso. Tive certeza ali que no meio da história apareceria um homem e ela mudaria por ele, mas fico feliz de ter me enganado – em parte. JoEun aparece na república por um motivo que eu mesma não entendi bem, confesso, e acho que o mistério que criam ao redor desse fato é até esquecido diante dos acontecimentos na vida da personagem: o abandono por parte do pai, a confusa amizade e o amor, pontos que acabam se cruzando. Por medo e por se sentir culpada por ter sido abandonada com a mãe pelo pai, ele acaba se fechando para o mundo e mantendo durante toda a vida apenas uma amizade, a de YeJi. A amiga de infância que nutre por ela um sentimento bem difuso. Na realidade acho que o drama deixou isso aberto para interpretação do público: YeJi apenas cultiva um sentimento pouco saudável pela amiga ou gosta dela além da amizade? Eu honestamente acredito mais na segunda opção, principalmente com as declarações de YeJi no episódio 14. As duas acabam se afastando quando JoEun se envolve com JangHoon, o sobrinho-neto da dona da Belle Epoque. Eu adoraria que o relacionamento amoroso nessa parte fosse entre duas meninas, mas eu não posso negar que fiquei bem soft com a forma como o JangHoon não demonstra, em momento algum, desejar que JoEun mude sua forma de ser ou de vestir. E quando ela o faz, não é definitivo, ela continua com suas roupas largadas e o jeitão sério (que na verdade é bem mais timidez do que qualquer coisa).
No geral, Age of Youth 2 me pegou bem mais que a primeira temporada. Os temas foram mais atuais, as personagens passaram por situações mais fáceis de se identificar – não importa que se trate das vivências de jovens mulheres que vivem do outro lado do mundo – e, se eu tivesse que escolher o melhor aspecto do drama, sem dúvida seria a amizade entre os personagens principais (até entre os homens, que em mais de um episódio se estranham, mas sempre de forma bem divertida). Em diversas situações assistimos núcleos se cruzando e sempre criando uma rede de apoio tão bonita que inspira a querer fazer parte de algo parecido. Se você busca um drama sobre a vida, sem muito medo de viver bons e maus momentos ao lado dos personagens, Age of Youth 2 está te esperando.