Parte da antologia SF8, Joan’s Galaxy traz um conto delicado sobre libertação, com direito a representatividade LGBTQIA+ e plot twist.
SF8: Joan’s Galaxy
Título original: 에스에프에잇: 우주인 조안
Direção: Lee Yoon Jung
Roteirista(s): Lee Yoon Jung
Elenco: Kim Bo Ra, Choi Sung Eu
Gênero: Ficção científica
Empresa(s): MBC
Ano de lançamento: 2020
Episódio(s): 1
Duração: 54 minutos
Plataformas atendidas: Kocowa e Viki
Sinopse: O mundo está coberto por poeira fina. As pessoas definidas como Cs, que receberam uma cara vacina ao nascerem, têm uma expectativa de vida de 100 anos. Já aqueles chamados de Ns, que não foram injetados, vivem uma vida completamente diferente, com uma expectativa de vida de apenas 30 anos. Tendo vivido toda a sua vida como uma C, a estudante universitária Yi Oh, de 26 anos, descobre que não recebeu a injeção de anticorpos devido a um erro no hospital. Agora, ela começa a se perguntar sobre a vida de Ns. Yi Oh está especialmente interessada em Joan, a única N da universidade. Como é a vida quando sabemos o que está por vir? (MyDramaList)
Personagens
Yi Oh
Yi Oh é uma N que cresceu acreditando ser uma C. Ela vive uma vida de privilégios e superproteção por parte da mãe, algo do qual se desprende, quando seu caminho se cruza com o de Joan.
Joan
Joan é uma N que, assim como os demais de sua “classe”, vive como um espírito livre. Moradora da N Town (ver abaixo), ela trabalha em uma cafeteria e, apesar de ter uma expectativa de vida pequena, dedica seus últimos anos aos estudos acadêmicos.
A HISTÓRIA
Joan’s Galaxy é o terceiro episódio da antologia SF8, uma coletânea de ficção científica, que apresenta o olhar de diferentes diretores sobre a sociedade.
Situado em um futuro onde o mundo foi tomado pela poeira fina, a humanidade foi dividida nas seguintes categorias:
Pessoas C
São as pessoas “Clean”, ou seja, que estão livres dos efeitos da poeira fina. Isso porque, entre seus primeiros seis meses de vida, são vacinadas com os anticorpos necessários para sobreviver sem o uso de purificadores de ar. As pessoas C têm uma expectativa de vida de 100 anos.
Pessoas N
São as pessoas “Not Clean”. Por não receberem a vacina, elas têm uma expectativa de vida de apenas 30 anos, e vivem à margem da sociedade, com oportunidades limitadas e, normalmente, condições financeiras pouco favoráveis.
A ideia de viver por menos tempo, dá a pessoas N uma visão de mundo que visa priorizar a liberdade de expressão e o aproveitamento de seus dias, com isso, se tornaram a maior parcela dentro do universo cultural e artístico.
Além da nomenclatura ‘N’, podem ser divididos também em NCC e TN.
Pessoas NCC são as “Not clean but clean”, que Apesar da condição N, compram trajes purificadores de ar, buscando uma vida mais longa, como a de pessoas C.
Já as pessoas TN são as “True Not Clean”, que, como Joan, não usam purificadores para tentar evitar sua condição N.
Apesar de Yi Oh viver 26 anos acreditando ser uma pessoa C, um tumor revela que outra criança recebeu a vacina que era destinada a ela. E isso faz com que passe a questionar como pessoas N vivem com a perspectiva de uma morte próxima.
Sua curiosidade se transforma em fascínio quando começa a observar Joan, a única menina N de sua universidade. O espírito livre, as formas de se expressar e o comportamento da jovem a intrigam, e Yi Oh resolve se aproximar.
O que começa como uma relação de colegas de turma, se torna uma conexão íntima e especial. Elas dividem seus pontos de vista sobre o mundo, descobertas e sentimentos, enquanto buscam pela criança que recebeu a vacina de Yi Oh no lugar dela.
Joan’s Galaxy: Análise e Opinião
Chegar em Joan’s Galaxy foi um alívio e uma feliz surpresa.
Apesar dos episódios anteriores apresentarem universos interessantes, com uma estética visual muito atraente, as histórias nem sempre mergulhavam na profundidade que pareciam ter. E os primeiros minutos de Joan’s Galaxy até fazem acreditar que o episódio seguirá da mesma forma.
Mas, felizmente, não é o que acontece. E a crescente sensibilidade presente no episódio pode facilmente conquistar o espectador.
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A história aborda aspectos presentes não apenas em um futuro distópico. Na verdade, alguns fatores são bem próximos do que vivemos hoje em dia. Um exemplo disso é o fato de que pessoas com melhores condições financeiras, têm acesso a um serviço de saúde de melhor qualidade — o que pode definir sua expectativa de vida. Soa familiar?
Por ter esse tom de crítica social, e ainda se tratar de uma antologia de ficção-científica, SF8 pode facilmente encontrar comparações com a série Black Mirror, da Netflix. E, seguindo esta linha de raciocínio, Joan’s Galaxy pode se colocar lado a lado com San Junipero. Não apenas pela delicadeza e sentimentalismo, mas também pelo fator representatividade LGBTQIA+.
Representatividade LGBTQIA+
Apesar das críticas sociais de SF8, o que se destaca definitivamente é o romance que se desenvolve entre Yi Oh e Joan. Até porque, não há explicação heterossexual para os olhares, toques e momentos divididos pelas duas.
O fator representatividade por si só já seria o suficiente para elevar o nível de Joan’s Galaxy — afinal, é necessário se bancar para apresentar relacionamento lésbico na TV sul-coreana. Mas o episódio foi além, mostrando uma conexão delicada e digna de arrancar risos bobos e lágrimas emocionadas.
Kim Bo Ra e Choi Sung Eun foram ótimas em entregar um casal natural, mostrando as transformações mais singelas em um relacionamento. Iniciando com as personagens quase que desconhecidas uma para a outra, passando pela amizade, e chegando ao romance.
Na maior parte do tempo, assistimos Joan sendo para Yi Oh como um tipo de guia pela vida e suas descobertas. É olhando para Joan, que Yi Oh muda sua vida: desde suas roupas até suas atitudes.
Também é através de Joan, que Yi Oh descobre o que é se sentir viva, mesmo sabendo que está a poucos anos de sua morte — segundo a expectativa de vida média, lhe restam apenas mais quatro anos.
Mas a conexão das duas é tão envolvente que você mal lembra da limitação de tempo que elas podem ter. Até porque a história tem como objetivo mostrar justamente como o tempo é relativo quando experimentamos algo que nos faz sentir vivos.
Joan está longe de ser uma coadjuvante na história ou apenas o alvo da admiração de Yi Oh. E a relação que as duas desenvolvem também influencia e transforma sua vida. Principalmente porque Joan ganha uma parceira, já que, fora da Cidade dos N, é ignorada pela sociedade.
Além disso, novos sentimentos são apresentados ao espírito livre de Joan: é com Yi Oh que ela vê as estrelas pela primeira vez. E elas não estão no céu — o que rendeu uma das cenas mais lindas que já vi em K-Dramas.
O tempo, o fim e as lições
O ápice de sentimentos que Joan e Yi Oh alcançam — e nos fazem alcançar junto —, no entanto, tem um propósito: o fim. Não de seus anos de vida, mas de sua proximidade. O ponto de partida que divide o caminho das duas é justamente momento mais bonito que compartilharam, como a própria Joan fala.
Neste momento, o episódio correu o risco de cair na armadilha das tragédias frequentes em histórias LGBTQIA+ retratadas na TV e no cinema. Principalmente quando falamos de relacionamentos entre mulheres. Afinal, quando uma personagem aparece com um tumor maligno, a expectativa que temos sobre a trama sofre uma mudança radical.
Apesar desse acontecimento realmente mudar o rumo da história, não é de forma fatal ou completamente trágica. Na verdade, voltamos a ideia de que tudo tem um fim, inclusive aquilo que acreditamos ser o melhor que já aconteceu em nossas vidas.
Joan’s Galaxy acaba sendo uma lição sobre aceitação da própria natureza e libertação. Mas, principalmente, uma lição sobre o fim, mostrando que o encerramento de um capítulo não necessariamente representa esquecimento ou ressentimentos.
Já assistiu? Deu vontade? Conta pra gente suas impressões sobre esse mimo de drama!
SF8: Joan’s Galaxy está disponível no Kocowa e no Viki!
Texto por Bea | Revisão por Savi | Equipe de redação da K4US
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