“Deixe-me esclarecer mais uma vez que nosso exército já tem o gatilho desbloqueado”.
Soa familiar? Por incrível que pareça, a frase não foi dita pelo líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, mas por sua irmã, Kim Yo Jong. Por anos mantendo apenas aparições discretas, hoje a norte-coreana é uma das mais importantes conselheiras e porta-voz do regime. Franzina e bastante pálida, a personalidade de Kim Yo Jong parece fazer o caminho contrário de sua aparência física.
Para Lee Sung Yoon, membro do Centro Internacional Woodrow Wilson para Acadêmicos e escritor da biografia de Kim Yo Jong, a mulher é “chefe da censura, porta-voz, zombadora e responsável por dispersar ameaças e malícias”. Em uma sociedade patriarcal como a Coreia do Norte, talvez faça sentido uma postura tão beligerante, mas não deixa de ser curiosa a ascensão da irmã mais nova de Kim Jong Un.
Os holofotes vieram quando Kim Yo Jong apareceu nos Jogos Olímpicos de PyongChang, em 2018, já que essa foi a primeira vez desde o início do armistício entre as Coreias que um membro dessa família pisou em território sul-coreano. A ideia era que sua presença fosse um símbolo de paz, mas, dois anos depois, o que se viu foi uma mulher dura com suas palavras.
Desde então, Kim Yo Jong é responsável por discursos de ameaças típicos da Coreia do Norte, mas também protagoniza uma enxurrada de especulações e teorias que variam do questionamento sobre ser a mente por trás de todas as decisões de Kim Jong Un ao uso de metanfetamina.
“Doce princesa”
Em entrevista para a CNN, Lee Sung Yoon conta que a caçula de sete irmãos era bastante próxima do pai, Kim Jong II, que costumava se referir à filha como “doce princesa”. Nas reuniões familiares, inclusive, o patriarca fazia questão de colocar a jovem ao seu lado.
A proximidade com Kim Jong Un veio com a convivência constante. Dos 9 aos 13 anos, Kim Yo Jong morou na Suíça com o irmão. Aos 18 anos, entrou para a política como integrante do partido trabalhista norte-coreano, liderando o departamento de propaganda responsável pela doutrinação da população.
Hoje, aos 35, Yo Jong é o braço direito do irmão e, ainda que oficialmente esteja em cargos inferiores aos outros oficiais do governo, pode ser considerada a mulher mais poderosa da Coreia do Norte e a segunda pessoa mais importante do país.
Herdeira do trono?
Com a proximidade dos irmãos, muito se questiona a respeito da sucessão de poder. “Por convenção, o poder deveria passar para um dos filhos de Kim Jong Un, em vez de para seus irmãos. Mas Kim Yo Jong, como irmã ousadamente assertiva do líder supremo, é uma novidade. O que está no futuro dela? Ela algum dia assumirá a liderança máxima? É uma questão para a qual não pode haver uma resposta assertiva. Mas também não é totalmente irracional”, explica Lee.
Até porque, como o próprio acadêmico bem pontua na entrevista, a dinastia norte-coreana é a mais estranha do mundo.