Um clássico entre shoujos, em 2025 Sailor Moon completa 33 anos desde que o primeiro episódio foi ao ar e conquistou diversas pessoas com a história das guardiãs sailors e Rainha Serenity. Entre as personagens, Makoto Kino, a Sailor Júpiter, chamava mais a atenção por sua atitude destemida e estilo marcante, algo explicado na inspiração que Naoko Takeuchi, autora da saga, adotou: as gangues femininas japonesas conhecidas como sukeban

Os crimes juvenis no Japão

Depois da Segunda Guerra Mundial, o Japão entrou em um período de reconstrução que trouxe como consequência um aumento nas desigualdades sociais e dificuldades econômicas. Com o crescimento dessas questões, a parcela trabalhadora da população se encontrava em uma situação mais crítica, levando ao descontentamento de diversos jovens dessa classe, resultando no aumento de crimes juvenis e o crescimento de gangues escolares.

Um dos casos mais marcantes foi o crime “Oh, Mistake”. Em setembro de 1950, Yamagiwa Hiroyuki, um jovem de 19 anos, assassinou um motorista de um caminhão que estava a caminho da Universidade de Tóquio, transportando mais 1 milhão de ienes em salários para os trabalhadores da universidade. Quando capturado pela polícia, Hiroyuki tentou enganá-la fingindo ser nipo-americano, gritando “Oh, Misuteiku”, nome que tomou os jornais da época e colocou a atenção da mídia nos crimes juvenis do país. 

O episódio também foi um dos endossadores da ascensão de gangues juvenis cada vez mais organizadas, com estudantes entre 12 e 16 anos. As masculinas eram conhecidas como bancho e seguiam uma hierarquia rígida, com um líder, até 5 tenentes por grupo e seleções anuais de novos membros. 

O surgimento das gangues femininas: o sukeban

Com o domínio masculino nas gangues, o sukeban surge na década de 1960 como um movimento rebelde feminino. Inspiradas pelos ideais de liberdade e feminismo que se popularizaram na época, as meninas que participavam da gangue iam contra a postura tradicional da mulher japonesa. Assim como os meninos, muitas vinham de famílias de baixa renda e não se enxergavam em um futuro promissor nas normas sociais japonesas, deixando elas mais livres a se aventurarem nessa atitude rebelde

A identidade sukeban era expressa principalmente na moda, em especial nos seus uniformes escolares. Esses, que antes seguiam o padrão normal com as saias curtas – consideradas uma forma de sexualizar as alunas –, passaram a ser compostos por sais compridas e blusas mais curtas. Os bordados de kanjis e outros símbolos demonstravam a personalidade de cada menina, combinados com os tênis converse, que substituíram os tradicionais mocassins. 

Parte da camiseta dos uniformes das sukeban, com bordados que tomam todo o tecido.

Como rivais dignas das gangues masculinas, o uniforme não era somente um símbolo de estilo, mas também uma roupa prática que permitia esconder armas, como facas e navalhas, usadas em disputas com gangues rivais ou para cometer pequenos crimes. Mesmo com essa postura considerada rebelde e violenta, o sukeban tinha um código de conduta próprio, como restrição ao uso de drogas e outras regras estabelecidas entre as meninas, enfatizando a lealdade e irmandade, com punições severas a quem desobedecesse. 

As primeiras inspirações para a Sailor Júpiter

Diferente das outras sailors, que representavam o estereótipo das meninas japonesas dos anos 90 – olhos brilhantes, atitudes delicadas e usando os clássicos uniformes seifuku –, Makoto Kino adotava um estilo mais forte e independente. 

Nos primeiros volumes dos mangás de Sailor Moon, conhecidos como “Pretty Guardian Sailor Moon”, Naoko Takeuchi revelou os primeiros esboços em que Makoto, originalmente conhecida como Mamoru Chino, seria a líder durona das guardiãs, fumante e desordeira. Ainda que algumas características tenham mudado na versão final, a essência da personagem ainda se manteve ligada à cultura do sukeban, contando com um uniforme modificado, assim como a personalidade forte e protetora com as amigas, relembrando as meninas das gangues japonesas. 

Nas telinhas

A imagem do sukeban não inspirou somente a criação da Sailor Júpiter, mas também influenciou o cinema e a televisão japonesa, criando o gênero Pinky Violence. Popular principalmente na década de 70, o estilo misturava ação, drama e uma pequena dose de erotismo, criando espaço para protagonistas femininas rebeldes. 

"Sukeban Desa", um dos filmes da cultura pop japonesa que foi inspirada pelo movimento sukeban.

Mas, como a própria descrição do gênero indica, fica claro a distorção que a mídia fez do movimento, trazendo uma caracterização exagerada e sensualizada das meninas, indo contra os princípios originais do sukeban, que se opunham à objetificação das mulheres.