Todo projeto NCT foi o último respiro de genialidade da SM Entertainment. Não seguiu conforme o planejado, para o bem e para o mal, mas garantiu um impacto na indústria inegável, seja estética ou musicalmente. Só que dentre todas as units, uma se destaca por não se prender muito aos conceitos do projeto e ter uma diversidade musical que nenhuma delas conseguiu atingir. Estou falando do NCT Dream.
O Dream surgiu com uma proposta ambiciosa: ser rotativo, com os integrantes saindo conforme a “maturidade”, indo para outros grupos da gravadora. Na Coreia, essa ideia nunca conseguiu emplacar muito bem para qualquer grupo, então ver a SM, que na época era a maior da indústria, tentando se arriscar com um modelo não muito convencional chamou atenção pela ousadia.
Mark chegou a deixar o Dream no finalzinho de 2018 após o lançamento de “Candle Light”, o que resultou em três singles e dois mini-álbuns sem ele, mas a rejeição pelos fãs fez a SM repensar a decisão. Assim, a rotatividade foi cancelada, Mark retornou para o grupo em 2021 para o lançamento de “Hot Sauce”, o primeiro álbum completo, e Dream se tornou uma unit fixa.
“Hot Sauce”, aliás, exemplifica como o NCT Dream consegue seguir a ideia do projeto NCT de ser uma espécie de laboratório musical, enquanto caminha de mãos dadas com sua própria identidade de jovialidade que garante sua versatilidade sonora. A canção é um saladão de afrobeats, hip-hop e influências latinas que funciona.
Isso está presente desde o debut, de certa forma. Ainda que “Chewing Gum” seja muito chiclete com seus reversos propositalmente repetitivos e, obviamente, bem infantil porque o NCT Dream começou com outro conceito ‒ fora que o som era muito mais comercial ‒ é inegável que sua essência já estava ali.
A comercialidade da sua sonoridade, inclusive, poderia se voltar contra o próprio grupo já que fãs se apaixonam pelo som diferentão, mas esse é o ponto em que eles brilham. São canções que abusam de sons e misturas que poderiam dar muito errado já que sempre precisam um pézinho no comercial porque ninguém paga um PF apenas com arte.
Também é preciso pontuar que a saída de Mark deu uma balançada no grupo. O período que o integrante ficou ausente é o menos interessante da carreira, quase como se os meninos estivessem perdidos sobre qual som queria entregar, tanto que há canções que fogem um pouco da essência do NCT Dream por seguir um lado absurdamente comercial, como em “Don’t Need Your Love” ‒ que na real é bem boa, sejamos sinceros.
Só que a partir da volta de Mark, eles conseguiram emplacar sua melhor fase artística. “Hello Future”, por resgatar uma estética hippie, e “Candy”, por ser uma regravação bem popzona da original do H.O.T, são as que mais se destacam, mas eles também fizeram bonito em “Broken Melodies” e “Glitch Mode”. Tudo sempre muito rico esteticamente, com uma sonoridade única que apenas o NCT Dream consegue entregar.
Enquanto trabalho completo, entretanto, “DREAM( )SCAPE” parece ser o melhor trabalho do NCT Dream. Talvez seja cedo demais cravar isso, mas é fato que o álbum é o mais ambicioso da sua carreira até então visto que, desde o “( )SCAPE Film” ao próprio disco, toda a produção ousa ir por um caminho que o Dream nunca se arriscou seguir, com uma obscuridade estética e um som maduro sobre as preocupações de um jovem adulto que traz a mensagem perfeita para os fãs que cresceram junto a eles.
No fim, de “Chewing Gum” a “Smoothie”, o NCT Dream construiu uma carreira sólida com sonoridade singular. São quase oito anos de uma discografia complexa que aposta em um som único e experimental que, ainda sim, consegue ter um lado comercial essencial para garantir a popularidade do grupo. Poucos conseguem fazer isso.