Nós tentamos nos enganar com a máxima do “inocente até que se prove o contrário”, mas a verdade é que homem é homem em todo lugar do mundo.
Por que militamos e condenamos homens de destaque no Brasil e no mundo, mas quando se trata de K-Idols o fandom é o primeiro a se colocar a frente dos “meninos” para levar o tapa por eles?
Como fãs de grupos masculinos e de integrantes de boy groups, precisamos ter em mente que aqueles indivíduos foram criados de forma completamente diferente da nossa e, principalmente, das mulheres do país de origem. Criação esta que, assim como no Brasil, envolve uma série de privilégios, que só aumenta conforme o status do tal homem na sociedade. Protegidos por posições de poder – ou pessoas próximas nestas posições -, se torna ainda mais difícil descreditá-los. Prova disso, neste caso, é o envolvimento de grandes empresários e a corrupção policial que vem protegendo os criminosos em questão por anos, ao invés de priorizarem o bem-estar das vítimas.
Além do privilégio socialmente dado ao homem, os K-Idols, como diz o próprio termo, assumem posições de ídolos que em muito se afasta da natureza humana. Parte disso envolve também os limites impostos dentro das próprias empresas que buscam imagens puras para seus artistas, os impedindo de manter relacionamentos amorosos, forçando aspectos de personalidade que não os pertence. Todo este conjunto serve para manter o olhar dos fãs entretido e satisfeito com uma faceta muitas vezes bem ensaiada e planejada para casos como o que assistimos nesta semana: diversos homens, de diferentes grupos e agências, envolvidos em um escândalo de exploração e violência a mulheres. E junto deles os fãs que insistem em uma inocência que, na verdade, nunca esteve ali.
Como fãs apoiamos, mas como fãs e pessoas, precisamos estar sempre atentos. Especialmente se tratando de artistas homens. Talvez trocar a máxima de “inocente até que se prove o contrário” para o benefício da dúvida diante da falta de provas, mas jamais proteger quem achamos conhecer tão cegamente a ponto de passarmos por cúmplices de crimes. É importante levar em conta de que são vidas em jogo e, neste caso, são mulheres tratadas por ídolos mundiais como objetos catalogados e vendáveis.
Confira abaixo uma linha to tempo com tudo que aconteceu resumidamente até o momento no caso envolvendo Seungri e outros idols, a respeito de compartilhamento de videos e imagens sexuais sem consentimento da vitima, e negociação de mulheres para prostituição:
O uso das imagens acima está liberado para compartilhamento e reprodução em outros meios midiáticos, desde que seja vinculado o link do site e os créditos a K4US (www.k4us.com.br)
É natural que os fãs estejam discutindo essa situação e até recomendável também, para que as informações e ideias circulem no meio dos K-Poppers. O que acabamos vendo, no entanto, são muitos fãs se aproveitando do momento para colocar o seu “fave” em destaque. É necessário entender que não é porque Seungri & Cia se comportam de forma deplorável que precisamos usá-los como parâmetro de comportamento em relação a outros idols. Pelo contrário, os que não se comportam dessa forma não estão fazendo mais do que a obrigação em questão de decência. E mais uma vez vale lembrar que mesmo aqueles que parecem mais transparentes e confiáveis são pessoas que não conhecemos e que futuramente podem nos decepcionar no mesmo nível em que esses ex-idols decepcionaram seus fãs.
Além disso, toda a discussão girar únicamente em torno dos idols que atuaram ou deixaram de atuar nessa bizarra rede de exploração e corrupção, promove também o apagamento da importância de outros participantes da situação: as vítimas e os colaboradores do esquema que ainda não tiveram – e nem sabemos se terão – suas identidades reveladas.
O envolvimento de artistas em crimes desse tipo apenas mostra a naturalização da violência contra as mulheres na Coreia. As ações de Jung Junyoung, por exemplo, fomentam a discussão sobre um problema que as mulheres sul-coreanas vem enfrentando nos últimos anos: a gravação e compartilhamento de imagens íntimas sem consentimento. No caso do cantor, os vídeos foram feitos em momentos de privacidade, mas mesmo em ambientes públicos mulheres são vítimas deste tipo crime. Em 2018 o movimento contra as chamadas spycams levou cerca de 22 mil mulheres sul-coreanas para as ruas em protesto – vocês podem ler mais sobre no Korea Exposé.
Confira o video abaixo! Em 1:40 Hyuna percebe e comenta com outra integrante que estão tentando filmá-las sem consentimento. Em 3:11 enfrenta o assediador e pede para ele parar imetiatamente.
O questionamento que fica é: até onde estamos dispostos a defender os alvos de nossa admiração? A decepção é grande especialmente para o público feminino, já que neste caso as vítimas também foram mulheres. Mas as situações em que elas foram colocadas devido ao comportamento destes homens e as consequências disso são muito maiores do que qualquer desgosto que o bias pode te dar.
Texto por Bea | Design por Chugga @ Equipe de redação da K4US
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