Homossexualidade na Tv coreana
Quando tratamos do tema homossexualidade, sabemos que a Coreia do Sul é conhecida por ser um lugar extremamente preconceituoso e intolerante. Tanto que muitos nem acreditam na possibilidade de existir pessoas homossexuais dentro do país. Porém, essa realidade parece estar mudando aos poucos. Gerações mais novas estão aceitando e defendendo cada vez mais quem pertence a esse grupo.
A representatividade nas mídias, como produções televisivas, é quase nula. Abordar esses assunto em rede nacional acaba sendo um tópico mais delicado para produtores, porque em geral, as novelas e conteúdos que são exibidos na tv precisam agradar o máximo de pessoas possíveis, isso inclui um público menos flexível para temas que fogem do padrão da sociedade. Até mesmo quem está assistindo a TV e por acaso acaba caindo em um programa aleatório precisa ser cativado. Algo com conteúdo lgbtq+, que infelizmente ainda é discriminado na sociedade coreana, ainda não entra nessa categoria.
É possível associar com a situação aqui no Brasil. Antes, quando existiam personagens gays na mídia, era com uma representação falsa. Os personagens só eram inseridos por motivo cômico, sendo uma espécie de chacota. Atualmente vemos casais e personagens homossexuais sem um tom pejorativo ou cômico, são personagens reais e construídos para sentirmos empatia. Conseguimos observar que a Coreia ainda está no estágio de apresentar personagens gays apenas por alívio cômico, mas não deixam de existir casos, mesmo que discretos, de uma representação real.
Em Strong Woman Do Bong Soon vemos um exemplo de personagem gay usado apenas de forma cômica
[Mini Spoilers a seguir]
Podemos citar como exemplo o dorama Reply 1997, exibido em 2012 ,onde existe um personagem gay apaixonado pelo protagonista. Em nenhum momento isso é levado como uma parte cômica da série, mesmo não sendo parte da trama principal. The Lover, (2015) conta a história de vários casais moradores do mesmo prédio. Um deles é um casal gay, e acompanhamos sua formação durante a história. Infelizmente, a cena onde os dois se beijam foi cortada.
Reply 1997 e The Lover
O primeiro beijo lésbico (e se não me engano o único casal lésbico até agora ?) em um dorama foi no kdrama Seonam Girls’ High School Investigators, (2014). A maior diferença em relação a outros dramas que abordaram o tema, mesmo que de forma superficial, foi o beijo ser exibido sem cortes!
Outros dois exemplos de personagens gays envolvem o dorama Secret Garden, (2011) onde Lee jong suk, um dos atores mais amados entre os dorameiros, interpreta um produtor musical, que é gay. E em Cheese in the trap,(2016) onde um casal gay aparece, mesmo sendo uma menção rápida. Na história o casal mora praticamente escondido, sem saírem juntos de casa, por medo de sofrerem homofobia. )’:
Secret Garden e Cheese in the trap
Personal Taste (2010) foi outro dorama que trouxe um personagem LGBTQ. Diretor Choi é um personagem gay muito bem construído e humano. Podemos sentir empatia com ele. Para fechar com chave de ouro, o kdrama Life Is Beautiful (2010), nos mostra a história de uma família e seus conflitos internos. Um dos personagens principais é o filho mais velho dessa família, e que é gay.
Acabamos vendo um pouco da realidade dos gays na Coreia. Tae Sub forma um belo casal com o professor divorciado Kyung Soo. Por serem mais velhos, e especialmente por Tae Sub ser o filho primogênito em sua família, a expectativa sobre ambos é de casarem logo (obviamente com uma mulher), construírem uma família e seguirem as normas impostas. Os dois lutam para serem aceitos, tanto por eles, quanto pela família e pela sociedade. Houve uma cena onde o casal troca votos de amor numa igreja, mas foi cortada na versão final do drama, deixando fãs e roteirista muito decepcionados.
Diretor Choi do drama Personal Taste e o casal Yang Tae-Sub, de Lif eis Beautiful
Uma menção honrosa vai para o dorama Coffee Prince (2007). A história não trata de um relacionamento homo, mas o plot é aquele clássico de menina se fingindo de menino. Antes do nosso amado ator Gong Yoo ser o famoso Goblin, ele interpretou o riquinho Choi Han Kyul, soltando uma das frases icônicas dos kdramas: “Eu gosto de você. Não importa se é um homem ou até mesmo um alien… Eu não ligo mais.”
Cena maravilhótima de Coffee Prince s2
Essa cena é tão linda porque, depois de passar vários episódios em dúvida sobre sua sexualidade, Han Kyul admite que ama Go Eun Chan (Yoon Eun Hye) por quem ela (achando que é ele) é. Não importa gênero, ele ama pois é isso que sente, e abraça esse seu lado. Se formos comparar com outros doramas com a proposta de crossdressing, a maioria dos protagonistas masculinos só admite seus sentimentos quando descobrem que seu amado na verdade é uma garota.
O sentimento é óbvio, está estampado na cara, mas quando descobrem a verdade é como se pensassem “Ufa! Não sou gay! Posso gostar dela sem culpa. Que bom que é uma garota.” Alguns exemplos onde isso ocorre são nos dramas To the Beautiful You, Moonlight Drawn by Clouds e Splash Splash Love. Coffee Prince além de ser um drama mais antigo, nos trouxe muita aceitação. Só digo PARABAINS
Um adendo: Eu nunca conseguiria acreditar que Kim Yoo Jung e Sulli são moleques. O disfarce não caiu muito bem não haha
Migas, vcs não enganam ninguém dizendo que são macho.
É gratificante ver essa mudança ocorrendo, mesmo a passos lentos. Precisamos lembrar que a Coreia sempre foi um país muito fechado para tudo, então vários temas que consideramos normais ainda são tabu por lá. Obviamente, nem todas as pessoas são homofóbicas, assim como a homofobia ainda ocorre em todas partes do mundo. Esperamos caminhar para um mundo mais igual, que aceita todo tipo de pessoa.
E viva a diversidade <3
>>Confira também a primeira parte da série:
Homossexualidade no cinema
Texto por: Deska