Lançado na última sexta-feira (22), a primeira parte de “Gyeongseong Creature” – traduzido como “A Criatura de Gyeongseong” – leva o expectador a acompanhar o misterioso desaparecimento de pessoas de Joseon, como a Península Coreana era chamada na época, através da perspectiva dos dois personagens principais: Jang Tae Sang (Park Seo Joon) e Yoon Chae Ok (Han So Hee).

Assim, finalizando o ano com chave de ouro em questão de k-dramas, a Netflix não poupou esforços em adicionar ao seu catálogo esse novo lançamento que entrega ação, suspense e romance na medida certa, ao mesmo tempo em que trabalha em um período histórico muito delicado quando se pensa sobre a relação entre a Coreia do Sul e o Japão. 

Unidos de maneira inesperada por conta de uma “missão” confiada a Tae Sang, o roteiro demonstra camadas cada vez mais profundas quanto ao período colonial no decorrer dos episódios, juntamente com as descobertas dos protagonistas. Colocando o romance em segundo plano e privilegiando a entrega de um contexto histórico unido a um misterioso experimento, o novo k-drama simplesmente entrega uma montanha russa de emoções com a profundidade dos temas retratados. 

CONTEXTO HISTÓRICO

Nunca conheci Joseon sem o Japão! Nasci sem pai e sem país. O que quer que eu faça?

Jang Tae Sang

Ambientado no ano de 1945, “A criatura de Gyeongseong” retrata o ano final da colonização japonesa na Península Coreana. Os amantes de história já devem conhecer os acontecimentos dos 35 anos de colonização que a região sofreu com o Japão Imperial e o k-drama retrata essa questão de uma maneira séria e forte durante todo seu roteiro nessa primeira parte.

Ainda que tenha chamado minha atenção pelo elenco escolhido, a ambientação histórica foi uma das partes que mais me surpreenderam. Todas as personagens possuem relação com a questão, mas é através de Tae Sang e Kwon Jun Taek (Wi Ha Joon) que é mais notável a sede por independência e também a polarização de pensamento entre ambos. Enquanto Tae Sang encontra-se preocupado com a sua sobrevivência e a daqueles que ama, por conta das últimas palavras de sua mãe, Jun Taek faz parte da Sociedade Patriótica, rebeldes em busca da independência, e enxerga seu amigo como um covarde por não ajudar no movimento patriótico e lutar pela reconquista de seu país.

Como um expectador, é fácil notar que não há uma opinião correta e que ambos possuem suas próprias motivações por questões pessoais, no entanto, também é claro entender como a tomada violenta de seu país e sua cultura por parte dos japoneses é algo que fere todos os personagens coreanos da trama, seja através da violência física ou da violência verbal, como o uso do termo “josenjing” – em tradução livre, “pessoas de Joseon” – pelos japoneses para tratar os coreanos de maneira pejorativa.

Um dos exemplos mais claros de tais violências está no próprio formato do roteiro, que entrega características da época de maneira sútil em atos que são revelados mais adiante nos episódios, como a questão da língua. Para aqueles que pretendem assistir legendado, irão notar com facilidade o uso de dois idiomas pelas personagens, o coreano e o japonês, para exemplificar a proibição da língua coreana na Península durante o período colonial:

É ilegal uma pessoa de Joseon falar a língua de Joseon, mas é legal vocês fazerem o que fazem aqui?

Yoon Chae Ok

A CRIATURA

Uma das partes principais do enredo é o desaparecimento suspeito de coreanos e isso nos leva a parte fundamental, que está, inclusive, presente em seu título: a criatura. 

No primeiro episódio é dado ao Tae Sang, um caricato dono de uma loja de penhores e portador de uma grande fortuna, a tarefa de descobrir sobre o desaparecimento de Akiko, amante do comissário Ishikawa, até as flores de cerejeira caírem, deixando claro que os acontecimentos estão sendo ambientados na primavera de 1945. Essa “missão” interliga o protagonista a uma dupla de detetives, apresentando a história de Yoon Chae Ok, que está em busca de sua mãe desaparecida há dez anos, levando-a até Gyeongseong – antigo nome de Seul.

Com personalidades e comportamentos distintos, os dois protagonistas são unidos junto aos demais personagens para resolverem ambos os desaparecimentos, mas eles acabam descobrindo outros segredos que o exército japonês escondia. E é isso que nos leva para o principal cenário do k-drama: o Hospital Ongseong. É para lá que os coreanos capturados pelo exército são levados e usados como cobaias para o experimento do “Najin”, um parasita criado pelo Tenente Kato e que transforma seus portadores em terríveis criaturas. 

Assim como na história real, o enredo retrata o ano final da Segunda Guerra Mundial, no momento em que o Japão está perdendo suas forças. Na ficção, Tóquio sofre ataques aéreos, o que obriga o exército a realizar uma tomada de decisão rápida para se recuperar. 

É nesse sentido que o experimento, financiado por uma personagem importante da trama, é apresentado como uma forma de criar armas de guerra, através da transformações de seres humanos em criaturas mortíferas, que são reconhecidas como uma das melhores formas de garantir a vitória japonesa na guerra por meio do seu uso controlado no campo de batalha.

Todos os seres vivos neste mundo podem ser controlados, assim como controlamos Joseon

A criatura de Gyeongseong

A produção da Netflix chegou ao catálogo com sete episódios para comporem a primeira parte da trama. Mas, para quem estiver esperando ansiosamente pelo desfecho do k-drama, é bom ficar ligado na plataforma, pois os últimos três episódios serão lançados dia 05 de janeiro de 2024!

Não deixem de conferir esse lançamento imperdível e podem ficar no aguardo de uma review completa pela K4US.

10/10

A criatura de Gyeongseong (Parte 1)

Título original: 경성크리처

Ano de lançamento: 2023

Direção: Chung Dong Yoon e Roh Young Sub

Roteirista(s): Eun Kyung Kang

Elenco: Park Seo Joon e Han So Hee

Episódio(s): 7