Ei, psiu! Notou alguma coisa diferente no site da K4US? Isso mesmo, nós abrimos um novo projeto. Seja bem-vinde ao “K4US pela Ásia”, um espaço que a gente vai dedicar para produções de diferentes tipos, que vêm de outros países asiáticos. Sabe aquele drama japonês que você amou e tá atrás de resenha? Faremos! Sabe aquele filme chinês que você tá em dúvida sobre assistir ou não? A gente te ajuda! É desse jeitinho que planejamos trabalhar neste quadro e esperamos que vocês gostem. 


“Vamos retomar nossa história”. Foi aqui que Gaya Sa Pelikula fisgou minha atenção. Em meio a um 2020 bastante conturbado, me peguei correndo atrás de dramas que fizessem parte da minha realidade como LGBTQIA+. Nesse sentido,  os que ainda são mais fáceis de encontrar são os BL, né? E com aquele slogan, parecia que algo bastante promissor ia ser entregue.

O drama conta com  8 episódios, que variam entre 20 e 30 minutos de duração, e estão todos disponíveis gratuitamente no YouTube. A trama é trabalhada em cima da história de Karl, um estudante de arquitetura, de 19 anos, que se muda para o apartamento do tio para cursar a faculdade e dar seguimento à tradição familiar de viver um tempo sozinho para alcançar independência — principalmente a financeira. O que acontece, na realidade, é que o rapaz encontra dificuldades para pagar o aluguel e, no meio desse turbilhão, Vlad aparece. 

Estudante de cinema e filho de uma mãe homofóbica, Vlad tenta escapar da irmã, que tenta fazer o garoto voltar para casa de qualquer jeito. Para isso, decide propor a Karl um acordo: Vlad paga seu aluguel, se os dois fingirem estar namorando.

gaya sa pelikula
Fica à vontade, Vlad

Parece clichê? 

Só parece. 

Gaya Sa Pelikula não é o que se espera de um BL asiático. Aliás, essa é uma tendência cada vez mais comum em drama Filipinos, como “Oh!Mando” e “Pearl Next Door”, que trazem para a trama uma representatividade  das vivências e questionamentos típicos à maioria da comunidade LGBTQIA+: preconceito, homofobia internalizada, padrões de gênero e etc. sem que, para tanto, se utilize a fetichização do relacionamento homoafetivo. 

O desenvolvimento da história, então, nos mostra a representação de como o relacionamento entre as pessoas — não necessariamente os românticos — é algo complexo. Cada indivíduo colabora com qualidades, mas também defeitos, traumas e diferenças que dão forma às relações. 

O que a produção de Gaya Sa Pelikula faz é pegar essas noções e as inserir no contexto da comunidade LGBTQIA+. Parte das vivências de Karl e Vlad são, por exemplo, experiências que o próprio roteirista do drama, Juan Miguel Severo, viveu e vive como homem gay. 

É aí que as coisas ficam mais interessantes. No decorrer dos 8 episódios, assistimos o relacionamento de Karl e Vlad se adaptar às diferenças da personalidade e criação de cada um, e, acima de tudo, à sexualidade e às dúvidas que giram em torno dela. Vlad é assumidamente gay e Karl está em um momento de muita insegurança e questionamento com relação a vários pontos chaves de sua vida no momento. 

Descansa militante? 

Ainda não. 

Outro ponto destaque da trama é o desenvolvimento do personagem de Karl. Já dá pra perceber que o garoto vai traçar uma caminhada de autoconhecimento, né? Não vai ser fácil. Gaya Sa Pelikula afirma isso quando mostra as diferentes formas de opressão que um integrante da comunidade LGBTQIA+ pode sofrer: pressão familiar, preconceito, medo, etc. Serão estes fatores que vão deixar Karl perdido em conflitos internos.

Aliás, essa pressão nem sempre trabalha no sentido de “você precisa ser perfeite”. No drama, percebemos que ela também aparece com relação ao tempo que cada um precisa para se assumir. Esta parte, na minha opinião, foi uma das mais importantes. Não se pode esperar que o tempo de cada um seja o mesmo. 

Como fica o relacionamento de Vlad e Karl, então? Pois é, só quem viveu sabe e o YouTube está há um clique de distância para você descobrir. 

gaya sa pelikula
Meus bebês, iti

Para mim, esse drama escalou toda a minha lista de preferidos e pegou o primeiro lugar com a mesma velocidade que a luz. Não é sempre que encontramos tantos questionamentos importantes em uma produção BL asiática e eu me vi em várias situações trazidas pelos protagonistas. Inclusive, você não vai conseguir escolher um lado nessa história, pois as experiências são complexas demais para serem 8 ou 80. E você, que também é LGBTQIA+, com certeza vai encontrar algum conforto sabendo que alguém se dedicou corajosamente a contar uma história, que pode ser bastante semelhante à sua. 

Portanto, comunidade LGBTQIA+, minha mensagem final é: vamos retomar nossa história!

P.S: Uma dica para você que leu até aqui e resolveu assistir GSP, todo episódio traz uma mensagem final, após os créditos, que vai te deixar emocionade. Essa aqui é minha preferida:


Menção honrosa

Dentre os vários recursos artísticos do drama, a trilha sonora é simplesmente IMPECÁVEL. Minhas sugestões são: Ride Home e Unti-Unti