O (G)I-DLE é um dos principais nomes da 4º geração do k-pop. Isso é fato. É só parar para analisar a trajetória musical das meninas desde o seu debut, em 2018, que percebemos a diversidade sonora presente em cada faixa. E, não é de se esperar menos, o grupo formado pela CUBE Entertainment é hoje o que mais rende lucros para a empresa, e muito do seu sucesso vem da dedicação e ousadia das integrantes em andar na contramão da indústria e mostrar o seu potencial.
Infelizmente, como qualquer grupo que possui tal influência, o (G)I-DLE passou por um momento conturbado em sua carreira. Com a saída de Soojin em 2021, muitos neverland’s (nome do fandom) se perguntaram como seria a volta do grupo às atividades e bom, acredito que tenha dado tudo certo.
TOMBOY
A espera foi longa, mas valeu cada minuto. Soyeon, Shuhua, Miyeon, Yuqi e Minnie fizeram o seu aguardado comeback no dia 14 de março de 2022 com o álbum “I Never Die”, nome esse que ironiza os boatos de que o grupo iria acabar com a saída de Soojin. Bom, o (G)I-DLE provou que elas não “morreram” como também voltaram mais vivas do que nunca!
Com oito faixas incluindo a title track “TOMBOY”, o álbum superou as expectativas de muitos fãs. Abusando da estética “Barbie Core”, que se tornou tendência entre os mais jovens, a letra da música fala sobre a independência feminina em quebrar os moldes de “namorada perfeita” impostos pela sociedade machista. Além disso, o (G)I-DLE ousou ao apostar em um pop rock e punk agressivo, comparado ao que estava sendo produzido pela 4º geração naquele momento. No entanto, a ousadia tornou “TOMBOY” uma das faixas de maior sucesso do quinteto.
Acredito que muito disso se deu pela própria estética do videoclipe. Nele, acompanhamos as bonecas (representadas pelas integrantes) torturando um boneco, enquanto reafirmam não serem perfeitas e terem seus próprios defeitos e gostos, o famoso: “não ceder pra macho”. Combinado a coreografia que viralizou no TikTok, o hit abriucom chave de ouro a volta do grupo que, em breve, iria chocar ainda mais a sociedade sul-coreana com o seu posicionamento.
Nxde
Em outubro de 2022, o (G)I-DLE fez mais um comeback com o álbum “I LOVE”, produzido pelas integrantes. Diferente do lançamento anterior, mas como uma continuação de “TOMBOY”, a faixa principal “Nxde” é uma crítica de como a sociedade sexualiza o corpo nu, principalmente o da mulher. Ademais, a faixa também pode ser entendida como uma crítica a sexualização das idols na indústria do k-pop. A estética do MV faz referência aos cabarés dos anos 1920 e à atriz estadunidense Marilyn Monroe, que foi extremamente sexualizada durante a sua carreira.
Apesar de ter recebido diversas críticas sobre a sonoridade da faixa, no meu ponto de vista, “Nxde” é um lançamento certeiro e, num futuro próximo, será considerado revolucionário. A música foi lançada pouco tempo depois do filme “Blonde”, uma releitura da história de Monroe até sua ascensão em Hollywood. A produção do longa, aliás, recebeu duras críticas quanto a forma que sexualizaram a atriz. Em uma entrevista, Soyeon, líder do grupo, contou que Marilyn era famosa por ser sexualmente atraente, mas que ela era realmente muito inteligente e que isso às vezes passava despercebido pelas pessoas.
Uma mulher encantadora
Não precisa de um homem
Você é um rato de biblioteca, obcecada por filosofia, eu sou
Uma mulher que é bem sucedida por conta própria
Nxde
Definitivamente, ainda falta muito para o pensamento sobre a nudez e o corpo da mulher deixarem de ser sexualizados e comercializados na sociedade. Contudo, os reflexos de “Nxde” já podem ser observados na Coreia do Sul.
Em uma entrevista, Soyeon contou que a sua intenção com o lançamento de “Nxde” era diminuir a busca por “conteúdos impróprios” na internet. G-idle em conreano significa “criança”, com isso, ao buscar por “GI-idle Nude”, as pessoas vão ser direcionadas para o MV da música e conteúdos relacionados ao grupo, ao invés de acessar fotos explícitas e ilegais. Muitos fãs elogiaram a decisão e o pensamento da integrante em fazer algo significativo para acabar com a busca por esse tipo de conteúdo.
Queencard
Não basta criticar os moldes da sociedade sobre as mulheres e a sexualização de corpos femininos, o (G)I-DLE teve que ir um pouco além e falar sobre os padrões estéticos presentes na indústria do k-pop. Em maio deste ano, Soyeon, Shuhua, Miyeon, Yuqi e Minnie lançaram o álbum “I FEEL”. Com seis faixas, a nova era do quinteto deu início com o lançamento do pré-single “Allergy”.
A música é um pop rock bem característico dos anos 2000. Enquanto Soyeon está insatisfeita com a sua aparência, ela observa e deseja ser igual às outras integrantes. No entanto, mal sabe ela que Shuhua, Miyeon, Yuqi e Minnie possuem uma vida completamente desastrosa e repleta de suas próprias inseguranças. O videoclipe é recheado de referências aos filmes adolescentes, mas trás a reflexão para a atualidade enquanto milhares de jovens, principalmente meninas, baseiam o seu padrão de beleza em filtros do Instagram e personalidades do TikTok.
Porém, tudo muda quando assistimos a “Queencard”, faixa-título do novo álbum que mostra um quinteto mais confiante e empoderado, verdadeiras rainhas como deveriam ser. No entanto, o MV de “Allergy” deixa uma ponta sobre o que pode acontecer para se tornar um rainha. Soyeon está em uma sala de cirurgia pronta para se adequar aos padrões de beleza que tanto almeja. Contudo, ao ser anestesiada ela tem uma fantasia de como seria ser uma Queencard.
No contexto da música, Queencard siginifica ser uma garota popular e confiante. Durante o pop dançante, as integrantes cantam sobre amar elas mesmas, seja seus peitos, sua bunda, seja ela uma garota magra ou gorda. A mensagem aqui é se amar acima de tudo e não se comparar aos padrões das mídias sociais. Verdadeiras girl’s power, eu diria. No final da narrativa, Soyeon desiste da cirurgia plástica e se aceita como é.
Conclusão: o k-pop precisa do (G)I-DLE
Dito tudo isso, o (G)I-DLE se faz muito necessário na indústria do k-pop atualmente. O quinteto, além de produzir músicas boas, visuais incríveis e conceitos criativos, se faz necessário ao levantar questões ignoradas por outros grupos de k-pop da 4º geração. Desde MAMAMOO, 2NE1, TWICE, Sistar e vários outros, não víamos com clareza um posicionamento tão centrado nos ideais do feminismo de se aceitar, lutar pela igualdade e ser respeitadas enquanto mulheres.
Além de toda essa bagagem, as meninas do (G)I-DLE fazem essa “revolução” em uma sociedade completamente machista e misógina. Não é atoa que o grupo recebe hate gratuito na internet por mostrar o seu lado empoderador, afinal, o matriarcado ainda é muito forte na Coreia do Sul – e em metade do mundo.
Portanto, o que podemos concluir é que mesmo com todo empecilho, boicotes, polêmicas e uma empresa que não valoriza tanto assim seus artistas, o (G)I-DLE está moldando sua carreira como um dos maiores, se não o maior, grupo da 4º geração. E acredito que daqui pra frente, teremos muito o que aprender com elas.
Texto por Ana Carol | Revisão por José | Equipe de Redação da K4US
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