Na última quinta-feira (29), os sul-coreanos iniciaram as votações para eleger quem vai assumir a presidência do país no dia 3 de junho. As eleições, que deveriam acontecer apenas em 2027, foram adiantadas depois do ex-Presidente Yoon Suk Yeol tentar instaurar uma lei marcial no país, causando uma revolta popular expressas em diversas manifestações em dezembro de 2024. Em meio às polêmicas de idols usando cores dos partidos até pequenos aspectos da votação, como os carimbos nas mãos, que tal entender como as eleições políticas sul-coreanas funcionam?
Eleições de turno único
Ao contrário do Brasil, a Coreia do Sul adota um sistema de votos majoritários simples para suas eleições, ou seja, há um turno único eleitoral no país. Para ficar mais fácil de entender: aqui no Brasil, é usado um sistema de votos majoritários em dois turnos, de forma que só “vence” quem alcançar mais de 50% dos votos, para garantir uma legitimidade democrática para o Presidente.
Em eleições de turno único, como da Coreia do Sul, o que acontece é que, mesmo não alcançando a maioria dos votos, o candidato vence se a quantidade for maior do que a dos concorrentes. O país adotou o regime de turno simples depois da redemocratização, em 1987, porque é um sistema que ajudava a garantir transições de poder mais rápidas e previsíveis, além de gerar menos custos.
Ainda assim, alguns pontos negativos são que, em eleições com muitos candidatos, um presidente pode ser eleito mesmo com poucos votos. Por exemplo, imagina que uma eleição obteve 100 votos no total e o candidato X conseguiu 30 votos, maior pontuação, e o Y 20. O X será eleito Presidente, ainda que não represente a visão política e ideológica da maioria dos eleitores, principal crítica a esse sistema. Além disso, candidatos e partidos menores são invisibilizados no sistema, o que, novamente, gera dúvidas em relação à representatividade do sistema eleitoral escolhido no país.

Outra diferença em relação ao nosso país é que, desde 2014, a Coreia do Sul adotou votações antecipadas, entendendo que isso poderia aumentar a participação nas eleições, já que não é obrigatório. Então, nessa eleição, os cidadãos votaram na quinta-feira e na sexta-feira e podem votar novamente na terça-feira (3), último dia para decidir o novo Presidente. No caso de coreanos vivendo em outros países, as votações ocorreram entre os dias 20 e 25 de maio e já foram encerradas.
Azul ou vermelho, qual é sua cor?
Nas eleições sul-coreanas, as cores se tornam protagonistas quando o assunto é identificar os partidos e ideologias. O uso das cores é feito para identificar os partidos em campanhas, debates, outdoors e comícios com facilidade, uma vez que os nomes mudam com certa frequência.
Entre os quatro principais candidatos na disputa – Lee Jae Myung, Kim Moon Soo, Lee Jun Seok e Kwon Young Kook –, os dois partidos mais relevantes são o Partido Democrático da Coreia (DP), representado por Lee Jae Myung, e o Partido do Poder Popular (PPP), partido do ex-Presidente Yoon e agora representado por Kim Moon Soo. Uma forma rápido de identificar eleitores de ambos? Notar quem está usando azul e quem está usando vermelho!
O uso das cores já é algo enraizado na política do país desde, pelo menos, os anos 90, quando o Presidente liberal Kim Dae Jung usou verde em suas campanhas eleitorais, simbolizando a paz e novas políticas para o país. O sucessor dele, Roh Moo Hyun, adotou o amarelo, que se tornou um símbolo de reforma e ativismo popular. Mas, a partir de 2010, com as campanhas de Moon Jae In, os partidos liberais da Coreia do Sul passaram a usar o azul, que representa uma imagem mais estável e institucional.
A cor, no entanto, era uma representação dos conservadores até 2012, com o Partido Grande Nacional. Eles passaram a usar o vermelho por ser uma cor ousada e energizante, ao contrário do azul “estático e sem emoção”, como Jo Dong Won, estrategista de campanha, considerava. Ainda que a reação inicial com a troca tenha sido negativa, por ser associada ao comunismo e a Coreia do Norte, Jo vinculou ela a paixão e ao orgulho nacional do país, referindo-se aos “Diabos Vermelhos”, nome dos torcedores da seleção coreana de futebol durante a Copa do Mundo de 2002, e a estratégia deu certo com a vitória de Park Geun Hye em 2012.

Mesmo que pareça bem polarizado, igual ao Brasil em 2022 com a camiseta do Brasil e camisetas vermelhas sendo utilizadas para demonstrar apoio ao ex-Presidente Jair Bolsonaro e ao Presidente Lula, outros partidos também escolhem cores para representá-los, como verde, laranja ou amarelo, usado pelo Partido da Justiça.
As cores são usadas não só por eleitores, mas também pelos candidatos e a mídia, para ajudar na identificação de cada partido. Lee Jae Myung, por exemplo, utilizou um tênis azul e vermelho em sua campanha eleitoral em maio desse ano, com o lado esquerdo dizendo “Lee Jae Myung, agora mais que nunca” e o direito com um “A partir de agora, a verdadeira República da Coreia”. Em informações ou materiais sobre as eleições e os partidos, o uso das cores também ajudam a evitar confusões e erros, principalmente para eleitores idosos ou com baixa alfabetização.

Outras curiosidade
Por conta da associação das cores com partidos, celebridades sul-coreanas evitam utilizar cores vibrantes durante o período eleitoral, para evitar associações. Quer dois exemplos na eleição de agora? A Karina, membro do aespa, tornou-se um tópico quente entre os coreanos, inclusive em canais de notícia, após postar uma foto usando um moletom com partes vermelhas, o número dois e uma rosa na legenda, símbolos associados ao Partido do Poder Popular.
Assim que comentários negativos começaram a ser feitos sobre a postagem, a artista e a SM Entertainment soltaram uma nota se desculpando e comentando que foi um erro infortuno. Por outro lado, a Wonyoung, membro do IVE, também foi mencionada nas redes sociais do país depois de postar uma foto em preto e branco no bubble, para evitar que as pessoas reconhecessem as cores de um figurino de apresentação – ação elogiada por diversas pessoas. Já deu para notar que eles são bem sensíveis com essa questão, certo?

Fora essas restrições feitas às celebridades, outras curiosidades da votação é que, ao contrário do Brasil, a idade mínima para votar é 19 anos, maioridade no país, e ao invés de um cartão como comprovante de votação, os eleitores recebem um carimbo nas mãos ou em pequenos objetos que estejam carregando.