É oficial. As gravações do longa “Oratório”, também intitulado Butsudan (仏壇), que são os altares budistas, terminaram. Agora, finalmente podemos aguardar com ansiedade a estreia do filme que promete ser o primeiro longa-metragem nacional com a proposta de unir o terror simbólico e mitológico da cultura japonesa ao cotidiano brasileiro.

A ousadia da temática é produto de uma mente curiosa: Caroline Okoshi Fioratti (“Meu Casulo de Drywall”). De acordo com a diretora, em entrevista para o Portal Exibidor, “o terror foi a forma que encontramos de ressignificar padrões de comportamento e traumas que nos atravessam”. Por esse motivo, o roteiro trabalha em cima de questões como luto e conflitos geracionais, mas vistos sob a perspectiva feminina e asiática.

Ao lado de Fioratti, está a parceria com a atriz Larissa Murai (“Um Ano Inesquecível – Inverno) que, além de ajudar no roteiro, protagoniza o filme. “Oratório” acompanha a vida de três irmãs que se reencontram após a morte da avó. Deste evento, começam os conflitos. Com um antigo casarão e um altar budista deixados de herança, as tensões entre as irmãs aparece. E, em bom estilo japonês, a briga é justamente pelo destino que deve ser dado ao Butsudan. As intrigas que o objeto traz faz com que forças sobrenaturais despertem e coloquem as irmãs frente a frente com medos, traumas e segredos do passado.

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Um Butsudan

Yureis, Yokais e Período Edo

O roteiro se apropria de várias coisas que gostamos na cultura japonesa, principalmente a mitologia e a história do Japão, com destaque para o Período Edo. Conforme explica Larissa Murai, a atriz, assim como a diretora, se debruçou em estudos sobre yureis (fantasmas), yokais (demônios e/ou criaturas sobrenaturais) e lendas do Período Edo (1603 – 1868). As duas, ainda, participaram de um curso de folclore japonês para ajudar no processo criativo por trás da concepção do filme.

O elenco e toda a equipe de produção são peças importantes no quebra-cabeça de “Oratório”, já que a maioria é composta por mulheres nipo-brasileiras. Ao lado de Larissa Murai, está Yohama Eshima e Vivi Ohno para dar vida às irmãs. Ohno, aliás, ressalta como viver Yuriko, personagem inspirada na figura mitológica da Oiwa, foi libertador. Para a atriz, “foi libertador sair dos padrões de beleza e encontrar força no que não é convencional”.

Aliás, para os curiosos de plantão, a lenda de Oiwa é uma história bem triste. Apaixonada pelo guerreiro Iemon, a garota nunca teve aprovação dos pais para viver o romance, o que fez o amado assassinar a família da jovem. Sem desconfiar, os dois casaram e tiveram um filho, mas Oiwa adoeceu e viu que os pais tinham razão quando proibiam o romance: Iemon não era um bom homem. Traía a esposa e não a ajudava em qualquer responsabilidade. Para conseguir oficializar o relacionamento a jovem rica com quem traía Oiwa, Iemon decide envenenar a esposa, mas a substância não faz efeito e desfigura a mulher. Devastada com a situação, Oiwa comete suicídio, mas seu espírito segue atormentando Iemon. Por isso, quando se fala em uma Oiwa, a associação direta é com um esp´írito vingativo.

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Oiwa (à esquerda)

O filme retrata mulheres com subjetividades, vivências e crenças muito distintas entre si. Não olha para a mulher asiática como um estereótipo, como uma coisa só. Isso também acontece com outras racialidades retratadas em produções audiovisuais, como se só o homem branco tivesse direito a uma subjetividade complexa – Carol Fioratti.

Quero datas!

Produzido pela Aurora Filmes, com coprodução da Haikai Filmes e viabilizado por meio da Lei Paulo Gustavo do Governo do Estado de São Paulo, “Oratório” está previsto para o segundo semestre de 2026. Aguenta coração, né?