Nesta quinta-feira (27) estreia nos cinemas brasileiros o filme “Attack On Titan: O Último Ataque”. Apesar do anime já ter tido seu encerramento oficial em 2023, será exibido nos cinemas seus últimos dois episódios, contando com uma renovação na qualidade do áudio, cenas inéditas e uma cena pós-créditos.
Desde a finalização do mangá “Attack On Titan” em 2021, seu final gerou muitas discussões pelo fandom e muitos alegaram estarem decepcionados com o desfecho da história. Por isso, temia-se que o final do anime seguisse os passos do mangá, o que gerou muitos debates e protestos por parte dos fãs. Quando o anime finalmente chegou ao seu fim em 2023, repetindo o encerramento do mangá, o resultado não poderia ser outro: as discussões a respeito do seu desfecho se reacenderam.
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O descontentamento foi tão grande que fãs se uniram para reescrever o final e dar uma nova visão sobre os fatos que se sucederam nos últimos episódios do anime. “Attack On Titan: Réquiem” vem sendo lançado há algum tempo em formato de mangá no site oficial do projeto e no mês de janeiro foi lançado um episódio completo no canal do Studio Eclypse. O site oficial ainda conta com explicações da timeline do anime, bem como teorias do universo de “Attack On Titan” e ainda artes oficiais e trilha sonora original da versão reescrita.
Mas será que o fim original de “Attack On Titan” foi realmente tão ruim assim?
Não só como uma grande fã de “Attack On Titan”, mas também como uma fã que gostou do final do anime, venho compartilhar com vocês meus pensamentos sobre essa obra épica.
Mais que uma jornada de aventura entre amigos, “Attack On Titan” é uma história sobre guerra. E mostra de forma crua, sofrida e cruel que não existem vencedores na guerra, muito menos justiça. Existe apenas a destruição, a perda, a desesperança, a tristeza, a dor, o trauma e o luto para todos os lados. Um ciclo interminável de sofrimento que se repete e que talvez seja a grande sina da humanidade.
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Do ponto de vista de Eldia, viver séculos exilados do resto do mundo e aterrorizados pelo terror dos titãs, pagando pelos pecados que eles nem se quer lembram de ter cometido ou foram os reais responsáveis, simplesmente porque alguém com poder decidiu que assim deveria ser. Isso pode mesmo ser chamado de vida?
Para Marley o trauma de séculos de sofrimento nas mãos de eldianos continua fresco em sua memória. O medo de que a história se repita justifica medidas extremas, aqueles ligados aos “demônios da ilha” são despidos de sua humanidade e devem pagar pelo que fizeram. Isso deveria ser chamado de vida?
Como ter qualquer tipo de empatia ou compaixão por pessoas que são diminuídas dessa forma? Como acreditar que você não é um demônio se por toda a sua vida e por toda a vida das pessoas que vieram antes de você, e até das pessoas antes destas, você sempre ouviu que era um monstro, que era inferior e não merecia ser tratado com dignidade?
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Um poder inimaginável nas mãos de uma escrava que não conhece nada além do pior do ser humano, um rei tirânico e cruel, uma disputa de poder sem fim. De geração a geração, de século a século a história se repetiu, no fim já não fazia mais diferença quem tinha ou não a razão, quem estava certo ou errado, a única coisa que ficou foi o rastro de destruição e sofrimento que transcende o tempo.
Não existem justificativas para o que foi feito por nenhum dos lados. Por mais apegada que eu estivesse aos eldianos de Paradis, ver toda a destruição causada por Eren em Marley foi muito triste. Assim como as pessoas condenadas a viverem presas na ilha pelos crimes de seus antepassados, as pessoas mortas na invasão também não tem culpa por essa crueldade que foi fruto das decisões de pessoas com poder.
Tenho que destacar também que em ambos os lados existiam pessoas em posições de poder que viviam às custas da população e que tomavam decisões que atingiam o coletivo pensando apenas em seu bem particular.
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O que quero dizer é que no fim das contas não existe lado certo ou errado, pelo menos não na guerra. Eu poderia me estender por parágrafos e mais parágrafos detalhando as ações e os motivos para cada injustiça cometida, ou ainda tentar apontar quais decisões foram certas, ou não, mas no fim isso só nos levaria a uma enorme bola de neve de fins justificados pelos meios, mas que no final não justificam nada e apenas mostram que não existe justiça nessa guerra.
Isso nos leva ao grande tópico sensível: Eren Yeager matou cerca de 80% da humanidade. Aqui serei direta e reta, não existe justificativa para esse genocídio. As demais pessoas do mundo não têm culpa pelas injustiças sofridas pelos moradores da Ilha de Paradis, mas eu me pergunto, desde quando assisti ao último episódio: realmente existia alguma forma de resolver essa situação? Por dias me perguntei qual outro desfecho seria mais justo, mais certo ou até mesmo mais feliz do que esse e sendo bem sincera até hoje eu não consegui encontrar uma resposta.
Não existem justificativas para as ações de Eren, mas arrisco dizer que ele teve uma morte nobre apesar de tudo. Ao contrário de seus antepassados que até sacrificaram parte de suas vidas, seus próprios familiares e sua felicidade pelo grande propósito de libertar os eldianos, Eren foi o único disposto a sacrificar a si por aqueles que ama. De todas as possibilidades e alternativas, não havia opções isentas de tragédia, todas elas vinham de um rastro de sofrimento e morte e entre todas Eren escolheu aquela em que ele renunciava a si pela felicidade e liberdade daqueles que defendia.
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Falando em liberdade, ainda ouso dizer que de certa forma Eren finalmente alcançou sua tão sonhada liberdade. Ao morrer ele se desprendeu de tudo, de todo o sofrimento, todo peso que carregou por anos e até mesmo séculos, mas também de todos os laços que construiu em sua vida. Ele se livrou de tudo que o fez sofrer, mas também de tudo o que já o fez feliz.
Como eu disse, “Attack On Titan” conta uma história sobre a guerra. Considerando tudo o que foi dito até aqui, seu desfecho foi bastante realista e coerente com a narrativa construída até então e, depois de toda essa reflexão, não consigo imaginar como um novo final pode ser melhor que esse.
Talvez seja por isso que me peguei tão surpresa ao tomar conhecimento do lançamento de “Attack On Titan: Réquiem” estou muito curiosa para saber qual fim alternativo eles darão a essa história, como já disse agora pouco, eu não consigo nem imaginar outro desfecho.
Pelo episódio lançado no YouTube, a animação está impressionantemente bem feita, considerando que esse é um projeto sem fins lucrativos feito de fã para fã, com certeza acompanharei de perto para saber mais do que está por vir.
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Já sobre o filme que será lançado, apesar de chegar apenas agora no Brasil, “Attack On Titan: O Último Ataque” já foi exibido nas telinhas do Japão no ano passado e o que gerou mais comentários dos fãs foi a cena pós-créditos:
ALERTA DE SPOILERS
No pós-créditos somos surpreendidos por versões alternativas do trio Eren, Mikasa e Armin em poltronas de cinema após assistirem a um filme. E não só isso, também temos versões alternativas de todo mundo! Não vou contar tudo, mas o que mais me emocionou foi ver o Levi cuidando da limpeza do cinema e, alerta de gatilho, do tamanho de um adulto normal, já que “na vida real” ele não cresceu desnutrido; e ver Ymir e suas filhas andando pelas ruas tranquilamente.
Não sei qual desfecho “Attack On Titan: Réquiem” trará para essa história magnífica, mas acredito que o fim do anime foi digno do quão grandiosa a história foi. Sem certo e errado, apenas pessoas, humanos, que fazem o bem e fazem o mal, que erram e acertam, sofrem e sentem, presas num ciclo eterno e que talvez seja a grande sina da humanidade. Acredito que existe uma certa beleza em histórias que imitam tão bem a realidade.
Confira o trailer de “Attack On Titan: O Último Ataque”.