Fevereiro chegou e com ele países como China, Coreia do Sul e Japão se preparam para as festividades de uma das principais comemorações na cultura asiática: o Ano Novo Lunar. Se você está pelo menos um pouco familiarizado com os costumes da Ásia, muito provavelmente essa comemoração não é novidade. Porém, por ser uma tradição que se concentra principalmente em países orientais, é normal que se tenha as mais diversas dúvidas.

Para entendermos como essa celebração funciona, primeiro precisamos saber como tudo isso começou. De acordo com os registros, as celebrações iniciaram no século lll a.C., entre as dinastias Qin e Han e segundo a lenda que é contada existiu um monstro chamado Nian que aterrorizava o povo, destruindo casas, colheitas e matando as pessoas sempre perto da primavera. 

Um dia, um sábio ancião descobriu que a cor vermelha e barulhos altos assustavam o monstro Nian e instruiu as pessoas a espalharem tecidos vermelhos pelas cidades, pintassem a porta de suas casas dessa cor e esquentassem pedaços de bambu em fogueiras, visto que ao ser aquecida a planta estoura fazendo um barulho forte. 

Portão pintado com uma figura do deus da riqueza, em Pequim, 1932.
Foto: W. ROBERT MOORE, NATIONAL GEOGRAPHIC.

Assim, essa tradição foi passada de geração a geração, sendo aprimorada há 3 mil anos. O bambu foi substituído por fogos de artifício, as cidades recebem decorações mais elaboradas e as portas recebem os recortes de papel vermelho com símbolos de prosperidade, entre muitas outras modificações e adaptações.

Mas e o que a lua tem haver com tudo isso? Bom, como uma civilização milenar e com muita história para contar, os chineses guiavam seus calendários combinando os ciclos do sol e as fases da lua, formando um calendário lunisolar. 

Isso significa que ao invés de se orientarem apenas pelas estações do ano e o movimento de rotação da Terra em torno do sol, eles se baseiam nas 12 fases da lua, compondo um ano com 354 dias. Por isso, a cada três anos um ajuste é feito e um mês é acrescentado ao ano, totalizando 13 meses. Nesses casos, o ano é considerado um ano bisexto.

Por seguir as fases da lua, todo novo mês se inicia na lua nova. Assim, um novo ano se inicia na primeira lua nova, após o solstício de verão, o que varia entre os dias 20 de janeiro e 21 de fevereiro. E é por esse motivo que as celebrações do Ano Novo Lunar variam suas datas de acordo com cada ano. 

Com o passar dos anos e com a inserção da China nas relações comerciais entre os outros países do globo, desde 1912 o país também segue o calendário gregoriano, usado pelos países ocidentais (como é o caso do Brasil).

No total as celebrações deste Ano Novo duram 15 dias, dos quais três são oficialmente feriados, mas é comum que os comércios permaneçam fechados por 7 dias. Assim, antes da chegada da data oficial é corriqueiro que seja feita uma limpeza das casas, não só visando a higienização, mas também retirar e deixar todo o azar do ano que passou para trás e atrair a boa sorte para o próximo ano.

As cidades e as casas são decoradas com a cor vermelha, que está relacionada à alegria, prosperidade e boa sorte. São feitas principalmente pinturas e os famosos cortes de papel, uma arte milenar da cultura chinesa, com símbolos e caracteres relacionados à prosperidade e à boa sorte.

Cortes de papel com palavras de sorte para o ano novo. 
Foto: PROJECTMANHATTAN.

A culinária por si só é um espetáculo à parte. A realização de refeições em família é uma tradição muito forte dentro da cultura chinesa, portanto, nada mais justo que essa atividade também tenha destaque dentro das celebrações de Ano Novo. A lista de iguarias é enorme, como os famosos dumplings e o nian gao ou “bolo de ano novo chinês”.

Além de muitas festas e fogos de artifício também é possível citar a “Dança do Dragão e do Leão”, que consiste em uma performance realizada por várias pessoas fantasiadas. Também milenar, ela tem como objetivo pedir as divindades por chuva. 

Dança do Dragão.
Foto: 山脉.

Outra atividade comum é a entrega de envelopes vermelhos (hong bao) entre familiares. Geralmente as crianças e os jovens adultos recebem esses envelopes, que contêm dinheiro. Em alguns dias dessa grande celebração também são prestadas homenagens a falecidos e a tradições mais específicas relacionadas à divindades da cultura chinesa.

Hong bao, envolepes vermelhos que são entregues com dinheiro. 
Foto: BCODY80.

O fim das celebrações ocorre com a realização do “Festival das Lanternas”, onde lanternas contendo os desejos das pessoas para o ano que se inicia são lançadas ao céu. 

Festival das Lanternas. 
Foto: DCUBILLAS.

Por ser referido também como “Ano Novo Chinês”, é comum que as pessoas pensem que a celebração só é feita lá, entretanto, isso não é verdade. Vários países do sudeste asiático comemoram, cada um com suas modificações e adaptações que foram acontecendo ao longo dos anos por inúmeros motivos: Coréia do Sul, Taiwan, Okinawa – Japão, Singapura, Malásia, Vietnã, Índia, entre outros.

Dança do Dragão em Taiwan. 
Foto:  蔡滄龍.

Principalmente devido às influências do budismo que exerceu grande papel cultural na China e em vários outros países asiáticos, os anos no calendário lunar são associados a animais. Mais especificamente aos 12 animais presentes em um conto budista. 

Segundo esse conto, Buda convidou os animais para uma festa, mas apenas doze deles apareceram, por isso eles foram homenageados e cada ano foi associado a um animal segundo sua ordem de chegada: rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, carneiro, macaco, galo, cão e javali. 

Animais do calendário chinês
Foto: JAKUB HAŁUN.

Uma curiosidade interessante é que para as culturas que seguem essas crenças o ano de nascimento é muito importante, sendo feitas associações entre as pessoas e os animais dos seus respectivos anos de nascimento, fazendo com que esses animais também sejam conhecidos como “zodíaco chinês”.