Nem todo drama precisa ser uma obra-prima. Se cumpre o seu propósito, às vezes tudo que precisamos são de personagens cativantes e uma história que minimamente se sustente. Esse é o caso de “Uma Advogada Extraordinária”, drama da ENA com distribuição global pela Netflix, que tem seus tropeços, mas uma jornada incrivelmente graciosa.
O drama acompanha o dia a dia de Woo Young Woo (Park Eun Bin) ‒ não importa a ordem que for lido, uma advogada diagnosticada com espectro de autismo que precisa conviver com uma sociedade que a subestima por conta de sua condição. Apaixonada por baleias, a personagem precisa se provar para além de uma pessoa autista e entender o seu papel nessa mesma sociedade enquanto advogada.
“Uma Advogada Extraordinária” é um drama que se banha muito da clássica série procedural ‒ famoso caso da semana ‒ desde o primeiro episódio. Estruturalmente, todos os capítulos são iguais, dando pequenas aberturas para desenvolver a história principal, tornando o drama um excelente produto semanal ao invés do maratonável. Não à toa, foi um verdadeiro sucesso no Brasil.
Enquanto série procedural, o roteiro da estreante (na TV!) Moon Ji Won brilha. Não é uma tarefa fácil contar semanalmente duas histórias completamente distintas que sejam interessantes do início ao fim, sempre com um propósito claro e ainda brincando bastante com o lúdico, mas Ji Won e o diretor Yoo In Shik (“Vagabond”) conseguem tirar de letra várias vezes.
Os problemas começam quando “Uma Advogada Extraordinária” tenta ser serializada. É muito difícil fazer com que esses estilos tão distintos consigam funcionar juntos e fica perceptível que os maiores engasgos do drama são consequência disso. Além do roteiro, a montagem também prejudica essa mistura por não encaixar de forma muito orgânica a narrativa principal em alguns momentos.
Também fica um gosto amargo os rumos que a história principal segue. Sem entrar em grandes spoilers, o aspecto novelesco da virada entre os episódios 15 e 16 incomoda devido a introdução abrupta de um personagem extremamente importante. Foi uma tentativa de resgatar a trama principal sem dar uma verdadeira continuidade para alguns arcos.
Talvez a possibilidade de uma segunda temporada já estivesse sendo sondada enquanto o drama estava sendo filmado, o que explica algumas decisões narrativas questionáveis. Só será possível ter certeza que foram boas decisões com a chegada da próxima temporada, que deve estrear apenas em 2024.
Esses problemas se tornam pequenos graças ao elenco que consegue cativar ao longo dos 16 episódios. Park Eun Bin é a grande estrela daqui por motivos óbvios. Ela simplesmente domina a tela sempre que está em cena e não é difícil chegar a conclusão de que a atriz deve se tornar a grande favorita na época das premiações.
Quem também brilha é Kang Tae Oh na pele de Lee Jun Ho. O ator consegue entregar o ser mais doce e inocente do mundo. É uma atuação louvável mesmo para um personagem muito superficial que acaba sendo resumido apenas como interesse amoroso de Woo Young Woo. É uma pena. Mesmo.
Essa superficialidade atinge também outros personagens, como o adoravelmente detestável Kwon Min Woo. Graças a atuação de Joo Jong Hyuk, é fácil comprar sua virada da metade para o final, mas o gosto é agridoce. Faltou desenvolvimento para entender melhor o seu lado mais doce e compreensível, principalmente por sua personalidade competitiva ser extrema ao ponto de tentar prejudicar uma colega de trabalho.
O restante do elenco também sustenta. Ha Yoon Kyung, por exemplo, é excelente como a advogada Choi Su Yeon, em especial por se mostrar uma mulher muito forte. Já Kang Ki Young chama atenção para o seu arco entre os episódios 12 e 15, com uma atuação muito competente mesmo que todos os pontos abordados não sejam nada surpreendentes.
No fim, o maior trunfo de “Uma Advogada Extraordinária” é realmente ter personagens tão cativantes que até mesmo a superficialidade de alguns deles, os problemas de narrativa e montagem conseguem ser superados. Que venha a segunda temporada!