Essa é a parte 5 da série que aborda dicas para escrever, uma parceria com a autora BtsNoona. Para ler a parte 4, clique aquiip.


PERSONAGENS

Não é porque escrevemos fanfics que devemos abrir mão de um bom desenvolvimento de personagem.

Ao meu ver (e na minha experiência pessoal) trabalhar com idols de Kpop é muito diferente de trabalhar com personagens “já personagens” – vindos, por exemplo, de Naruto, Harry Potter entre outros. Estes últimos, já foram pensados por alguém antes de você. Não tem muito pra onde fugir, ele é aquilo que é, e se o leitor é fã da saga vai logo perceber se o personagem estiver com o caráter completamente diferente do original.

Escrever sobre gente real dá muito mais liberdade. São pessoas, com suas múltiplas facetas, e dá pra tirar todo tipo de personagem inspirado em uma só pessoa. Minha dica de hoje é: não deixe seus personagens rasos. Você precisa fazer o leitor acreditar neles, fazer com que se identifiquem. Para isso, é preciso planejamento.

Vou contar como eu faço, e espero que isso possa ajudar vocês a dar vida a personagens mais críveis. Pessoas são complexas – dentro e fora da ficção. Mantenha isso em mente enquanto lê a próxima parte.

  1. Características físicas.

Não é porque você está escrevendo sobre um idol que não deve descrever sua aparência. Mesmo que todo mundo já esteja cansado de ver o rosto do seu personagem pela internet, é importante descrever como ele é na fanfic – e, melhor ainda, como o narrador que você escolheu o vê.

Aconselho se atentar a detalhes que deixam seu personagem interessante, que o diferenciam das outras pessoas, coisas que chamam a atenção. A forma de se vestir, por exemplo, pode dizer muito sobre uma pessoa. Pode ser uma boa ideia comentar sobre um brinco diferentão, uma personagem que sempre usa cores berrantes de esmalte ou alguém que tem uma mania de só vestir camisas brancas. Mas cuidado! Não recomendo passar parágrafos descrevendo cada peça de roupa do seu personagem toda vez que muda de look. Pense naquilo que vai revelar algo ao seu leitor ou fazer diferença no enredo.

  1. Características comportamentais.

Além disso, é essencial contar seus trejeitos, como ele se porta – ele pode andar olhando para o chão, ter uma mania de estar sempre com as mãos nos bolsos, ou coçar a testa o tempo todo, por exemplo. Esse tipo de característica deixa transparecer um pouco da personalidade, então você não vai precisar ficar descrevendo cada mínimo detalhe, porque o leitor vai entender pela própria linguagem corporal dele. Se ele anda acuado passa a imagem de ser uma pessoa tímida ou insegura, se tem mania de morder a ponta do lápis ou da caneta, passa a impressão de ser alguém ansioso. Cada uma dessas coisinhas pequenas vai contribuir para que seu personagem se torne verdadeiro aos olhos do leitor.

  1. Características psicológicas.

Aqui se concentra o básico – que eu acho que a maioria dos autores pensa quando vai desenvolver um personagem. Se ele é introvertido ou extrovertido, tranquilão ou esquentadinho, deprimido ou alegre, etc.

Claro que é importante pensar nisso, mas acho que podemos dar um passo além. Pense em como as pessoas veem você e em como você enxerga a si mesmo, e tenho certeza de que haverá diferença. Nos personagens, acontece o mesmo. Pense naquilo que você quer revelar ao leitor e no que quer esconder, e isso pode deixar seu personagem mais interessante.

Também, é legal pensar em como ele vai evoluir com os acontecimentos da trama. Seu herói, o personagem principal, provavelmente vai passar por grandes dificuldades, conflitos éticos ou desilusões amorosas. Essas coisas mudam a gente, de algum jeito. Talvez alguém parta o coração do seu protagonista, e ele se torne uma pessoa mais cética, dura. Talvez a morte de algum parente próximo possa fazer com que o personagem veja o mundo de uma maneira mais otimista, que ele queira aproveitar cada segundo que lhe resta. Enfim, é muito legal pro leitor acompanhar essa evolução do personagem, então sugiro pensar cuidadosamente sobre o assunto.

  1. Características orais.

Calma! Aos leitores de mente poluída: não é nada disso que vocês estão pensando! Por falta de termo melhor, chamo de características orais a forma como o seu personagem se comunica.

Pelo que vejo nas fanfics, isso é algo que poucos autores dão atenção – mas pode fazer uma diferença enorme e ajudar muito na hora de escrever!

Seu personagem usa gírias? Ele fala palavrões? Ou talvez seja um cara super eloquente, que tem uma resposta pra tudo na ponta da língua?

Quando você começar a escrever diálogos, vai perceber que pensar nisso ajuda demais. Você vai economizar um bocado de travessões e não vai precisar de tantos verbos introdutórios de um diálogo. Melhor dizendo, se a fala do seu personagem for característica marcante, você não vai precisar pontuar toda frase com “Fulano disse”, “Perguntou Ciclano”, “Respondeu Beltrano”. O seu leitor é esperto, ele vai entender! Se seu personagem usa o termo “ai caramba” o tempo todo, você pode economizar muitas palavras desnecessárias com apenas um “ai caramba”.

Além disso, a forma de se comunicar diz muito sobre uma pessoa, em diversas esferas. Tomando como exemplo meus taekooks em Incógnito: O Jeongguk fala na hora errada o tempo todo. A língua dele atropela os pensamentos, e ele acaba dizendo bobagens, ou coisas das quais se arrepende depois. Isso demonstra um traço claro da personalidade dele: pessoa impulsiva, que pensa pouco. O Jeongguk em incógnito age primeiro pra depois pensar no assunto.

O Taehyung, por outro lado, pode ser bem mais reservado. Ele adora falar e vive dando discursos entusiasmados, mas não entrega o ouro com tanta facilidade. Quando fala sobre temas aleatórios ou coisas que gosta, é super claro. Se embola um pouquinho na linha de pensamento, diverge do assunto, mas não gagueja nem vacila. No entanto, se o assunto é sério, a coisa não se dá da mesma forma. Ele vai responder com um milhão de onomatopéias e murmúrios. “Ah”, “Hm”, “Aish”, “Hãn” e outras expressões do gênero aparecem aos montes.

Claro que isso diz um bocado sobre a personalidade do Tae. Ele é espontâneo e alegre, mas ao mesmo tempo não sai falando qualquer coisa. Meus leitores sabem bem: as frases do Taehyung são cheias de significado. (vide aquele “eu sei” que deixou meus leitores surtados hahaha).

  1. Experiências passadas.

Nossa personalidade está em constante construção. É uma mistura das nossas relações, de tudo o que já passamos, das coisas que vimos, lemos, experimentamos. Com os personagens, acontece exatamente da mesma forma (porque você quer que eles ganhem vida, certo?).

Dificilmente sua fanfic vai começar com o personagem principal nascendo, não é? Eu, pelo menos, nunca vi nenhuma assim (ainda, mas não duvido). No primeiro capítulo, seu protagonista já viveu um montão de coisas – e você precisa saber quais são essas coisas. Sério, pelo menos as mais importantes.

Como foi a infância do seu personagem? Ele sofreu bullying, ou era super popular, ou foi educado pela avó, não sei. Ele pode ter tido uma lista imensa de ex-namoradas, ou nunca ter se apaixonado na vida. Quem sabe, foi abandonado no altar e está desiludido com o amor? Você decide, mas é importante que pense nisso. Todos esses detalhes vão influenciar na pessoa que ele é. É bom imaginar as vivências que levaram o personagem até ali: o início da história.

Então, não seja preguiçoso com seus personagens! São eles quem vão deixar as coisas interessantes na sua história e incomoda o leitor quando um personagem muda completamente seu jeito, sem dar explicações. É o famoso “OOC” ou “out of character” – no bom português: “fora do personagem”.

Esse tal de OOC é o meu maior pesadelo, e deveria ser o pesadelo de qualquer autor, seja de fanfics ou originais. Eu penso muito, muito mesmo, ao construir um personagem. Sem brincadeiras, eu sei a cor favorita, o filme que marcou sua infância e a comida que eles mais amam. Sei praticamente tudo sobre eles e mesmo assim morro de medo de, sem querer, contradizer a personalidade que eu construí com tanto cuidado.

Se o seu personagem fizer uma coisa completamente contraditória, que não condiz em nada com nenhum aspecto da personalidade que você deu à ele, o leitor vai perceber. Mais do que isso, ele vai se sentir decepcionado e tapeado. Vai pensar: “Poxa, como assim? Pra que eu li até aqui se o fulano simplesmente surtou sem motivo nem explicação e fez uma coisa completamente doida?”

Você não quer fazer o leitor de trouxa. Não menospreze a inteligência dele. A partir do momento que seu personagem ganha vida, faça jus à criatura que você construiu. Se ele vai mudar, dê boas justificativas, seja convincente. Mesmo que seja uma trama completamente fantasiosa, os acontecimentos precisam ter coerência e verossimilhança, ou não vai funcionar. Fazer com que o seu personagem mude do nada, que fique OOC, acaba com praticamente todo o trabalho que você teve até ali. O leitor não vai mais acreditar naquele personagem, e isso é uma coisa praticamente impossível de se corrigir depois. Editar uma frase mal formulada ou um errinho de digitação é fácil, mas reconquistar a confiança do leitor é muito difícil. Então, fujamos do OOC! Seja fiel à sua criação e vai dar tudo certo.

Enfim, é isso por hoje. Post comprido, mas com o conteúdo muito importante (pelo menos ao meu ver). Lembre-se sempre, todas as regras estão aí para serem quebradas na literatura. Eu sou apenas alguém tentando ajudar, com meu conhecimento e minha experiência em fanfics, para que novos talentos sejam revelados. Qualquer pergunta ou sugestão, estou sempre aberta pra conversar lá no twitter. <3

Espero que tenham gostado do texto dessa semana, e nos vemos na quarta-feira que vem!

Beijocas amoras,

~BtsNoona


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