Fala K4óticos! Estamos de volta com a segunda parte da review de Stranger (Secret Forest). Caso você ainda não tenha dado uma conferida na primeira parte, poderá encontrá-la AQUI!
Nessa segunda parte, fazendo eco narrativo às diferenças entre os protagonistas Si-mok (Jo Seung-woo) e Yeo-jin (Bae Doona), falaremos sobre os aspectos mais “humanizados” da trama.

Como antecipei na parte anterior da review, o núcleo de personagens que acompanhamos em Stranger é reduzido e atribuo isso à necessidade de maior atenção à trama, que é convoluta nas várias camadas de crimes e comportamentos questionáveis dos responsáveis pelo esquema de corrupção que envolve principalmente o grupo Hanjo.

É de se esperar que a maior parte desses personagens esteja em volta de Si-mok, o ambicioso e altruísta promotor que acompanhamos como um dos protagonistas. Falando de Seo Dong-jae (interpretado pelo ator Lee Joon-hyuk), rival profissional e eventualmente pessoal de Si-mok, temos um personagem que é extremamente multifacetado. Ao meu ver é uma das personas que foge um pouco da regra de desenvolvimento dos personagens dessa obra. Dong-jae é um verdadeiro malandro carismático, praticamente profissional. Claramente inteligente o suficiente para sempre se esgueirar das situações mais controversas (comprovados flagrantes de obstrução de justiça, por exemplo), e se aliar apenas com aqueles que julga lhe serem mais úteis, Dong-jae é uma atração à parte. Até mesmo no último episódio do Drama, o promotor que parece buscar redenção mostra hilariamente sua natureza malandra como algo imutável.

A segunda promotora que tenho interesse em analisar é Young Eun-soo (interpretada por Shin Hye-sun, atriz jovem ainda com tímida carreira). Eun-soo é um exemplo da dualidade que todos os personagens principais de Stranger trazem à mesa. A jovem promotora, filha de um ex-político, tem motivos de sobra para se portar tanto como uma paladina da justiça quanto figura vingativa, e em diversos momentos não sabemos precisar qual desses dois postos ela ocupa na trama. O que é certo é que Eun-soo apresenta ter interesse romântico em Si-mok, apesar de este nunca ser correspondido. É uma personagem que tem algum desenvolvimento, tornando-se gradualmente imprescindível para o próprio desenvolvimento de Si-mok.

Citei esses exemplos excepcionais pois vejo o desenvolvimento dos personagens como algo deficitário em Stranger. A trama é tão complexa e com camadas que deixa pouco tempo para que possamos ver esses personagens crescendo, se desenvolvendo, aprendendo com seus erros e acertos. Alguns personagens parecem estacionados no tempo, e terminam a trama praticamente como começaram. Não cito Si-mok nessa situação, pois mesmo com sua restrição neurológica, o personagem apresenta algum desenvolvimento, não sendo apenas um artifício para o funcionamento do roteiro.

É importante aqui não confundirmos a estratégia de flashbacks explicativos que elucida o passado dos personagens, com desenvolvimento de suas personas presentes. Esses flashbacks existem e são muito utilizados, mas não penso serem suficientes para atender à necessidade de retratar um pouco a evolução dos personagens.

Vejo o controverso Lee Chang-joon, personagem interpretado pelo representativo ator Yoo Jae-myung, como um dos mais completos e interessantes personagens da trama. Costumo utilizar a participação desse personagem na trama como o maior exemplo de uma das maiores qualidades que vejo no roteiro de Stranger. Ao longo da história, aprendemos de forma relativamente clara como a jornada do quase antagonista começou, decorreu e teve seu clímax. E com isso, dificilmente somos capazes de simplesmente odiar Chang-joon por causa de suas ações, pois conseguimos entender sua posição e como todo o esquema de corrupção no qual está envolvido, por razões familiares, é capaz de derrubar até mesmo os mais idealistas dos homens.

Claro que como todo KDrama, precisamos falar um pouco da parte romântica. Como temos um par de protagonistas, é certamente de se esperar que haja algum tipo de envolvimento entre Yeo-jin e Si-mok. Por outro lado, destaco que neurologicamente falando o promotor tem suas limitações e é melhor não esperar nada muito explícito aqui. As coisas se desenvolvem, de fato, é evidente que há um interesse mútuo entre os dois que vai além de mera admiração profissional. Penso que não fosse essas limitações de Si-mok, poderíamos ter algo mais tradicional entre os dois protagonistas, mas aqui as coisas viajam a passo de tartaruga, e no fim de Stranger, podemos ficar frustrados pois as coisas pouco caminharam nesse sentido. Mas há sim alguma evolução romântica.

O final de Stranger consegue amarrar bem as pontas soltas mais importantes da trama política ao seu final. O desenvolvimento dos personagens fica um secundário e pessoalmente, me senti um pouco frustrado nesse sentido. Tenho a impressão que em muitos momentos a trama central política é tão explorada em suas multicamadas que faltam momentos mais humanos. Aqueles momentos que conseguimos nos aproximar mais desses personagens que gradualmente aprendemos a gostar e se conseguimos nos sentir parte da Força Tarefa que é liderada por Si-mok, temos poucos momentos para curtirmos essa galera, que acaba sendo um grupo diversamente divertido. Algumas vezes não há problema em fugirmos na trama principal para que o espectador consiga ter seu momento “família” com os personagens. Uma das poucas exceções é o jantar do time na casa de Yeo-jin, e ainda sim esse encontro evidentemente serve mais à trama do que ao desenvolvimento dos personagens e seus relacionamentos.

Não posso deixar de no mínimo fazer uma menção à adequadíssima atuação de Lee Kyoung-young, autor formidavelmente prolífico, como Lee Yoon-beom, presidente do grupo Hanjo. Trata-se de um personagem magnético, e não há como ignorar a presença de Kyoung-young em qualquer cena na qual ele esteja. O que é ótimo, o personagem é sem dúvida dos mais importantes e sua escalação parece ter sido acertada. Uma curiosidade interessante, esse ator interpretou o pai da personagem de Bae Doona em Sense8, de certa forma ambos se reencontraram em Stranger, mas em posições bem diferentes!

Aliás, dentre vários elogios que posso fazer à essa obra, destaco principalmente a qualidade de seu elenco. Dos papéis mais simples aos dois protagonistas, tenho a impressão que excelentes atores foram elencados e a dedicação dessa equipe e qualidade de seus trabalhos fazem jus a um drama com projeção internacional. É um projeto altamente verossímil em sua execução, e atribuo isso às fortes e convincentes atuações com as quais temos a oportunidade de ter contato.

Eu gostaria muito de uma segunda temporada de Stranger. A conclusão da temporada dá muita margem para revermos esse time reunido, penso que o arco de desenvolvimento especialmente de Si-mok não nos dá uma sensação de plenitude. E senti falta de mais passagens dando insights sobre a trajetória da ótima Yeo-jin.

Se você tiver a oportunidade, dê umas dez chances à Stranger, o Drama merece. Aqui tudo é muito bem executado e a série me parece sinônimo de qualidade. Senti algumas influências ocidentais em sua execução e percebo essa tendência nas obras sul-coreanas. Aliás, admiro isso nos dramas do país, que me parecem muito mais cosmopolitas e globalizados em seu processo de desenvolvimento ao longo dos anos, do que suas contrapartes japonesas.

Estou ansioso para rever os novos amigos que fiz nesse Drama. E quem sabe em uma eventual segunda temporada, Si-mok consiga dar à Yeo-jin algo mais do que apenas sorrisos.

 

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